Decoração

Sofia é ceramista, influencer de moda e até já fez campanhas com a princesa do Mónaco

A jovem portuguesa sempre soube que seguiria uma área criativa, mas nunca sonhou com uma carreira reconhecida internacionalmente.
Ter as peças à venda na loja Merci, em Paris, é algo de que mais se orgulha.

Acordar às seis da manhã, enfiar-se num estúdio de fotografia das sete às 21 horas para gravar uma campanha da Chanel e voltar para casa. Pode ser assim um dia na vida de Sofia de Moser Leitão, ceramista e influencer de moda portuguesa, que vive em Paris, a capital francesa. Mas também pode ser completamente diferente.

“Todos os dias são bastantes distintos uns dos outros. Ou estou a trabalhar numa campanha enfiada num estúdio com luzes brancas, ou na rua com uma equipa. Mas também posso acordar cedo — às sete da manhã o mais tardar, porque sou muito madrugadora (pelo menos, durante a semana) —, vir para o atelier até à hora de almoço, regressar a casa e agarrar-me ao computador para trabalhar e organizar-me com uma amiga para me ajudar a tirar fotos para uma marca”, conta à NiT.

Sofia chegou a Paris em setembro de 2018. “Sem grande pressão, de costas quentes” e a saber que poderia facilmente regressar para casa da mãe em Lisboa, voou com uma mala pequena e sem a ideia concreta de que iria lá permanecer. Mesmo antes de partir tinha-se candidatado a várias ofertas de emprego e foi aceite para uma delas. Com trabalho garantido como freelancer, instalou-se na casa de um amigo e foi conhecendo pessoas na sua área profissional.

Três anos depois, agora com 28 anos, Sofia de Moser Leitão conta já com mais de 41 mil seguidores no Instagram e um percurso de sucesso. Entre um estágio na “Vogue Portugal” (para o qual qual concorreu quando tinha ainda 18 anos e fazia o primeiro ano de licenciatura) e colaborações com a Mango, junta ao currículo trabalhos feitos enquanto produtora na agência com a qual trabalha. Foi através deles, aliás, que teve a oportunidade de se encontrar com Margaret Qualley, Carole Bouquet e Charlotte Casiraghi — mulheres que considera inspiradoras.

Pelo meio, articula o tempo com os projetos de cerâmica que cada vez têm mais sucesso. A jovem revela-nos que nunca imaginou que o seu destino tomasse este rumo. À NiT, a bisneta dos duques de Palmela garante, porém, que não se deixa maravilhar pelo reconhecimento internacional. E muito menos se considera uma influencer.

“Não me importo com esse estigma, nem tenho preconceito nenhum. A verdade é que o Instagram dá imenso trabalho. Organizar os artigos que chegam das marcas, fazer as listas, mandar, ver as estatísticas… Faço alguns trabalhos como tal, mas não me considero mesmo uma”, afirma.

Ainda assim, não deixa de notar que foi mesmo graças aos seguidores que os projetos na cerâmica foram crescendo e proporcionando-lhe cada vez mais trabalhos. “De alguma maneira, sou bastante agradecida por ter o apoio todo destas marcas, porque na verdade uma coisa alimenta a outra.” A árvore genealógica, diz, pouco ou nada influenciou este percurso — “até porque a maior parte das pessoas nem sabe de quem sou neta. Isso não tem muita importância hoje em dia”, acredita.

Ligada à moda desde cedo — durante alguns anos fez parte da agência Central Models como modelo —, Sofia encontrou na cerâmica uma paixão que veio mais tarde, e por acaso. Numa altura em que estava a fazer um mestrado pós-laboral em Gestão Cultural no ISCTE, sentia que precisava de fazer alguma coisa manual, onde pudesse exprimir a sua criatividade.

Conscientemente influenciada por um amigo com quem passava algum tempo, e que hoje é diretor do departamento de cerâmica na Ar.Co, decidiu inscrever-se, “sem grandes pretensões”, num curso de um ateliê “mesmo pequenino” e pouco conhecido. Mal sonhava que, passados alguns anos, estaria a seguir carreira nessa área. Começou simplesmente por explorar um lado que lhe fazia falta, e acabou, então, por se tornar numa experiência mais séria.

No segundo ano do mestrado, quando já fazia colaborações com algumas marcas pelo Instagram, inscreveu-se numa formação de três anos no Centro de Arte & Comunicação Visual. “Fui experimentando, fazendo e passei a gostar cada vez mais. Depois comecei a publicar as peças e, como tinha mais visibilidade do que o normal para uma pessoa que está a começar, fui tendo alguns pedidos. E isso só me deu mais motivação para continuar”, explica.

A artista plástica portuguesa, entretanto tornada parisiense, menciona que estas colaborações apareceram de maneira muito espontânea — assim como aconteceu com a cerâmica. Criou a conta na rede social em 2011, seguindo a vaga dos amigos. Habituada a fazer alguns trabalhos como manequim, não demorou até começar a receber mensagens de marcas com ofertas de artigos. A jovem conta-nos que, mesmo assim, sentia-se confusa com as propostas.

“Não me via a vender coisas, não tinha a ver com o meu feitio. Mas foi uma coisa com que me fui divertindo. Sempre gostei de moda e estava a ser contactada por cada vez mais marcas de que gostava imenso. E depois comecei a ser remunerada.” Foi aí que surgiu a parceria com a Mango.

Hoje, assegura que faz estes trabalhos com imenso gosto, mas tenta que não lhe tirem muito tempo, já que precisa dele para se dedicar aos projetos criativos relacionados com a cerâmica. “Tiro muito mais gozo em estar num ateliê do que a tirar fotografias vestida com roupa”, acrescenta. Mas admite também que tem mais projetos ligados à cerâmica por ter essa visibilidade que as marcas lhe dão. “Não poderia colocar nenhuma delas de lado. No meu caso, as duas áreas andam de mão dada e completam-se.”

Mesmo que a possibilidade de ser reconhecida internacionalmente pelos seus trabalhos nas duas áreas nunca lhe tenha passado pela cabeça, sempre soube que iria trabalhar em algo criativo — e os pais também. Mas não especificamente na cerâmica. Mesmo agora afirma, enquanto prepara seis grandes peças ao mesmo tempo, que tem alguma dificuldade em considerar-se ceramista. “Não sinto que o seja. Estou rodeada de ceramistas, mas aquilo de que gosto é mais a ideia de criar um objeto.”

É por isso, e por considerar que o processo da cerâmica pode ser uma grande dor de cabeça, que diz estar preparada para, caso apareça a oportunidade, de aprender a usar outros tipos de materiais. O que não será propriamente fácil, pela vida bastante ocupada que tem.

Mulher de sete ofícios, conseguiu, no meio de uma agenda super preenchida, mudar-se para um apartamento de 28 metros quadrados e decorá-lo em três meses. “Foram tempos muito intensos. O meu dia a dia era, além de tudo o resto, estar enfiada em lojas de bricolage. Mas foi algo que me deu mesmo muito gozo e sinto que o resultado final combina com quem sou: um espaço bastante quente e que reflete uma certa harmonia entre a decoração da casa, as minhas peças e o meu guarda-roupa.”

É precisamente por esse estilo que a artista é já reconhecida. Para a criação das suas peças divertidas, Sofia brinca com as cores e padrões. A inspiração vem de outras criações, imagens de filmes, videoclipes, fotografias. “Qualquer coisa. O que faço muito é guardar imagens de coisas que me inspiram. E isso ajuda-me imenso a ter ideias.”

Depois, basta ir para o ateliê que partilha com outras duas colegas no 11.º bairro, em Paris — de preferência sozinha —, ouvir música e pôr mãos à obra. Regra geral, faz várias peças ao mesmo tempo, que podem demorar duas semanas até ficarem prontas. A venda (cada objeto em argila pode custar entre 25€ e 350€) é depois feita na loja La Romaine Editions e, brevemente, num site. Os pedidos para projetos são feitos, habitualmente, através do Instagram ou do email.

“Agora o que está a acontecer é que o meu trabalho é reconhecido por uma imagem dos quadrados, formas orgânicas e coloridas. É uma fase difícil, porque sei que funciona e que é algo de que as pessoas gostam, mas tenho de me reinventar. Quando terminar os projetos que tenho em mãos irei explorar outras formas, outras coisas, diferente daquilo que já fiz”, afirma.

Por enquanto, confidencia-nos que se dedica a um dos projetos de que mais orgulha. Sem poder revelar muito, diz-nos apenas que se trata de uma colaboração com uma marca de sapatos francesa.

“Tive a sorte de apanhar uma vaga na qual as marcas querem fazer campanhas com pessoas que tenham algo mais a dar — tendo imenso respeito pelas modelos. Mas querem, agora, fazer ações com artistas e pessoas criativas. Com os artigos que têm saído e a visibilidade da conta, tenho recebido mais ofertas e consigo combinar as duas áreas”, afirma.

Neste momento, os sonhos da ceramista passam por continuar a morar em Paris (pelo menos, até aos 33 anos) e manter as diversas vertentes artísticas. A procura pelos trabalhos criativos feitos por Sofia tem crescido, principalmente da parte dos franceses, mas também a nível internacional. Ainda assim, a jovem nota que apenas um nicho dos portugueses a reconhecem. À NiT promete que leva tudo com ligeireza e sem grande ansiedade.

Pode acompanhar o trabalho de Sofia de Moser Leitão através da sua página de Instagram pessoal ou profissional. Carregue na galeria para ver mais imagens de Sofia e das suas peças de cerâmica.

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