É a única construção que ainda resiste de um total de seis edifícios erguidos em 1930, ao qual se juntaram dois anexos três décadas mais tarde. Mais antiga do que o Estádio Nacional do Jamor, o Padrão dos Descobrimentos ou o Cristo Rei, por exemplo, pouco se sabe sobre as origens da obra quase centenária. Sabe-se, contudo, que serviu de residência para várias famílias ao longo das décadas.
Quando Bruno Pimenta passou pelo espaço, soube logo que queria fazer parte da lista de inquilinos. O arquiteto decidiu demolir o anterior e transformar a casa antiga numa moradia familiar para viver com a mulher, a arquiteta Thaís Pimenta, e os três filhos. “A ideia era aproveitar o que lá estava e uniformizar os volumes. A questão mais importante era que fosse prática para os miúdos e para receber pessoas”, explica à NiT.
Limparam as ruínas, uniram os anexos ao edifício principal e acrescentaram uma zona de refeições. Aos poucos, a Casa da Fonte Velha, apelidada devido à rua homónima, em Matosinhos, começou a ganhar forma. Com cerca de 300 metros quadrados, tornou-se também um espaço convívio ideal para receber amigos e familiares.
“Quando uma pessoa tem três filhos, é difícil socializar com os amigos ou ir ao cinema ver um filme”, acrescenta. Enquanto a parte de cima é mais privada, todo o piso térreo tem áreas sociais que se prolongam até ao ar livre e que funcionam em open space. É “quase uma casa para festas”, garante o responsável, que esbateu as linhas entre o interior e o exterior.
Posicionada no coração da casa, a cozinha é o espaço favorito de Bruno e funciona como ponto central de encontro. “Se formos ver a história da humanidade, toda a gente se junta à volta das refeições. Não fazia sentido para nós que a divisão fosse fechada, sobretudo no verão quando os jantares se dividem entre a parte de dentro e de fora.”

O projeto respeita a estrutura existente, aproveitando as volumetrias prévias. A fachada mantém o aspeto original e a parte de dentro, marcada pela simplicidade, ganha vida através de materiais brutos e paredes brancas. Já a companheira “trouxe a vibe do modernismo tropical”.
“O que construímos de novo foi em betão aparente, as partes mais antigas continuam em madeira que também ficou visível”, explica. Optou por manter os materiais expostos “por uma questão de funcionalidade”, mas também pela filosofia de que deve haver um equilíbrio entre o custo e o benefício. Esse é um dos pontos de partida do cofundador do atelier Martins Pimenta em todos os trabalhos.
Os quartos, localizados nos pisos superiores, foram desenhados para que se possam adaptar, sobretudo os que estão destinados aos miúdos. Como podem ser conectados, tornam-se um espaço para brincadeiras e também uma zona de convívio para os três filhos dos proprietários.
Um pouco por toda a casa, a decoração deu continuidade à preocupação com as escolhas mais económicas. Se a madeira é aparente, optaram por encher todas as divisões com carpintarias despretensiosas, sem qualquer objetivo de parecerem mais do que aquilo que são ou terem um aspeto mais polido. Quem olha para elas, sabe que se trata de carpintaria.
Concluída em 2023, a história da casa vai agora continuar nas mãos de outra família: o casal decidiu colocá-la à venda. “Funcionou bem, mas somos ambos arquitetos e o que nos anima é poder fazer coisas novas”, conclui. “Temos facilidade em fazer uma nova. Outra pessoa não teria capacidade para fazer isto, encontrar um terreno com esta exposição solar e torná-lo num produto pronto e de qualidade.”
Carregue na galeria para ver imagens da casa do fotógrafo Ivo Tavares.