Uma semana foi todo o tempo que Henrique Marques e Rui Dinis tinham para convencer o cliente de que o projeto da sua casa de sonho estava por ser desenhado. A culpa foi deles: quando chegou ao ateliê da Spaceworkers, a dupla de arquitetos convenceu-o de que o projeto que já trazia debaixo do braço “não tinha nada a ver” com o que dizia querer na casa. Eles não estavam errados.
Quatro anos depois, a Casa de Sambade estava pronta. As imagens da obra espalharam-se por todo o mundo e o projeto acabou mesmo por ser premiado. Primeiro numa votação global no site de arquitetura ArchDaily — conquistou o primeiro prémio na categoria de casas —, depois com o A+ Award do portal Architizer, eleito inicialmente por um júri e depois escolhido em votação aberta ao público. Era o arranque perfeito para o estúdio que nasceu em 2007.
O conceito, criado em 2011, foi concluído em 2015. “O cliente já tinha um projeto aprovado, mas como nós sempre fomos apaixonados pela parte da execução — para podermos detalhar tudo ao mais ínfimo pormenor —, percebemos que o que ele tinha não tinha nada a ver com o que dizia gostar. Foi quando ele nos lançou o desafio de, daí a uma semana, mostrarmos-lhe algo diferente”, conta à NiT Henrique Marques, arquiteto de 39 anos.
Sabiam que tinha que ser “o mais geométrico possível” e que “ferisse o mínimo possível o terreno”, um espaço amplo marcado por uma espécie de socalcos. A dupla agarrou essa particularidade para desenhar uma casa que fosse apenas “pousada no terreno” e que pudesse “envelhecer com a envolvente”. Uma semana “foi pouco tempo”, recorda, mas era “o tudo ou nada”.
O resultado foi precisamente um edifício moderno de dois pisos onde salta à vista o betão de textura rugosa, combinado com materiais naturais como a madeira. “Queríamos colocar ali uma casa simples, singela, que explorasse a relação com a natureza. Tinha que ser algo que parecesse fazer parte do terreno”, nota, antes de acrescentar que a opção pelo betão foi “um casamento perfeito” entre o gosto de cliente e preferência dos arquitetos.
Ao contrário da primeira opção por um material mais liso, Henrique e Rui viraram-se para um betão impresso “que lhe dá um ar mais natural” e que, com a passagem do tempo, vai “ganhando líquidos e um aspeto mais baço”, e que o torna cada vez mais parte integrante da paisagem.
A Casa de Sambade tem um total de 1.177 metros quadrados, três suites — a maior tem 53 metros quadrados, divididos entre quarto, casa de banho e um closet de 16 metros quadrados —, um escritório, uma sala, cozinha e sala de estar. Junta-se uma varanda de 140 metros quadrados, mais 196 da zona de terraço e piscina. No piso inferior, domina uma garagem de 90 metros quadrados, com espaço de sobra para uma sauna, uma lavandaria de 22 metros quadrados e muitos espaço de arrumação.
Henrique afasta os minimalismos assépticos, as “casas que parecem modelos”, e sublinha que neste caso — e não só neste, mas também como filosofia própria do estúdio — privilegiou-se a preocupação da “sensação que as coisas provocam em quem usa o espaço”, mais do que se discutir se “aquilo é um retângulo ou um quadrado”.
Os prémios internacionais — os primeiros, já que os anos seguintes trariam mais troféus — apanharam-nos de surpresa. Sobre uma possível fórmula vencedora, Henrique tem um palpite: “Acho que as pessoas gostam [da Casa de Sambade] pela sua simplicidade. Não é fácil chegar a essa síntese da arquitetura que, para nós, é o lado mais importante deste projeto, esta depuração completa. Ao contrário da maioria da arquitetura minimalista — onde qualquer coisa fora de sítio parece estranha —, esta casa tem ‘lixo’, tem cores, texturas, pode ter um passepartout desarrumado que continua a ficar bem. Defendemos que as casas têm que ser vividas e esta casa consegue isso, dá liberdade e espaço para que a vida aconteça na casa. Talvez seja essa a sua maior diferenciação.”
A Casa de Sambade tem ar de casa de milhão de euros, mas talvez não seja tão inatingível quanto isso. Impedido de revelar valores, Henrique assegura que custou “menos do que aquilo que as pessoas pensam”. “Naturalmente que não é uma casa de 100 ou 200 mil euros, mas também não custou um milhão”, pelo menos na construção, assegura.
A verdade é que o projeto serviu para projetar a Spaceworkers para outro nível. Instalados em Paredes, no Grande Porto, mesmo o “escritório no meio do nada” não serve de dissuasor aos novos clientes que querem uma casa com a sua assinatura. “[Os prémios] deram-nos um boost, trouxeram outro tipo de clientes que chegam aqui graças ao sucesso da outra casa”, explica. Hoje, 70 a 80 por cento dos projetos são precisamente de casas privadas.
Em 2017, o estúdio voltou a ganhar o prémio de Edifício do Ano do ArchDaily com a construção da Casa Cabo de Vila. E 2020 pode trazer uma nova estrela ao currículo da dupla com mais um prémio a juntar-se a alguns já conquistados pelo seu Centro de Interpretação do Românico, em Lousada, pré-selecionado para mais um A+ Award entregue pelo Architizer.