Moda

Filha de Amancio Ortega é a nova presidente do grupo Inditex

O seu primeiro trabalho foi numa loja da Inditex. Agora, Marta Ortega Pérez assume a liderança de uma das retalhistas mais poderosas do mundo.
Tem 37 anos e é a única filha de Amancio com a atual mulher, Flora Pérez.

Em agosto deste ano, Marta Ortega quebrou a regra do pai e deu uma rara entrevista ao “The Wall Street Journal”. Nela, a jornalista Elisa Lipsky-Karasz referiu-se à herdeira do grupo Inditex como a “arma secreta” para o sucesso da Zara, a fast fashion mais popular do mundo. Esta terça-feira, 30 de novembro, a sua importância na empresa acabou de alcançar um novo patamar.

Em comunicado, o grupo espanhol anunciou que Marta Ortega foi nomeada para nova presidente do grupo Inditex. Vai substituir Pablo Isa, que ocupa o cargo desde 2011, a 1 de abril de 2022. A partir dessa altura, passará a comandar marcas multinacionais como a Zara, Pull&Bear, Massimo Dutti, Oysho, Uterqüe ou Stradivarius.

A filha brilhante de Amancio Ortega

Marta Ortega começou a trabalhar na Zara da famosa King’s Road, em Londres, há 14 anos, logo depois de terminar o curso na universidade. “Na primeira semana achei que não ia sobreviver”, contou ao “The Wall Street Journal“. Hoje, com 37 anos, a futura presidente do grupo Inditex é considerada a arma secreta para o sucesso da fast fashion mais popular do mundo.

Naquela era distante, a realidade é que acabou por se adaptar bastante bem à dura posição de colaboradora. “Começas a ficar viciado na loja. Algumas pessoas nunca se querem ir embora. É o coração da empresa.” Mais de uma década depois, ainda visita as lojas da Zara quase todas as semanas, como parte de uma posição sem título oficial que ainda ocupa atualmente na empresa, mas através da qual apoia, principalmente, os designs da coleção feminina, o merchandising e a imagem da marca. “Vou sempre estar onde a empresa precisar mais de mim”, declarou.

Senta-se todos os dias numa cadeira de rodinhas, à frente de uma mesa industrial partilhada. Por perto, nesse mesmo escritório na zona da Corunha, em Espanha, está o seu pai, Amancio Ortega, instalado numa secretária e cadeira semelhantes, um dos homens mais ricos do mundo. Tem 85 anos, nunca deu uma entrevista, foge a sete pés de eventos e fotógrafos.

Em 2011, “o chefe” — como é tratado em casa e no trabalho — afastou-se do cargo de presidente, mas continua a visitar o escritório quase todos os dias. Em vez de se manter isolado dos colaboradores, gosta de se sentar naquele espaço, que fica no mesmo piso do departamento feminino de uma loja da Zara.

Não tinha noção que era herdeira de um império

Marta foi a única filha de Amancio com a sua segunda (e atual) mulher, Flora Pérez. Da mãe, herdou o sorriso radioso; do pai, os olhos de coruja e as sobrancelhas carregadas. Quando era miúda, não tinha noção de que os pais estavam à frente de um dos maiores impérios da indústria da moda — sabia apenas que trabalhavam nessa área e que viajavam bastante.

A amiga Tamara Sánchez, com quem tinha aulas de ballet e que está hoje à frente do departamento de malhas da marca, recordou-lhe recentemente de uma vez em que perguntou a Marta porque é que vestia Zara todos os dias. A filha de Amancio encolheu os ombros e disse: “A sério, é essa a marca? É a minha mãe que me compra tudo.”

O seu estilo hoje é um chique pragmático. Opta tipicamente por peças drapeadas da Zara e combina-as com sandálias rasas da Celine, carteiras de pele da Hermès e diamantes discretos da Marie Lichtenberg. Mora num duplex na Corunha com o marido, Carlos Torretta, um ex-executivo de uma agência de modelos de Madrid; a filha de um ano deste casamento, Matilda; e o seu filho de 8 anos, Amancio, que teve com o primeiro marido, Sergio Álvarez Moya.

É uma espécie de celebridade em Espanha, com revistas como a “¡Hola!” a publicarem regularmente fotografias de paparazzi suas. Na Corunha, revela com alívio, ainda consegue andar pelas ruas em paz. 

“De zero a Zara”

Em 1936, o ano em que Amancio Ortega nasceu, a aldeia de Busdongo de Arbas era um local muito mais movimentado. As construções de uma estação de caminhos de ferro e de uma estada nacional que cruzava a pequena localidade levaram a que muitos trabalhadores ali ficassem a morar. Um deles era Antonio Ortega Rodríguez, o seu pai e avô de Marta.

A estadia foi curta. Três meses depois de Amancio nascer, o seu pai foi promovido a chefe de estação ferroviária de Tolosa, no País Basco. A família voltaria a mudar-se 12 anos depois, desta vez para a Galiza, onde Amancio haveria de assentar de vez. Foi aliás, durante muitos anos, tido como galego. Ainda hoje o é.

Aos 13 anos, começou a trabalhar na famosa loja de camisas Camisería Gala, na Corunha, capital galega. Cabia-lhe a repetitiva tarefa de separar e organizar as peças. Acabou por mudar de emprego e passou a vendedor noutra loja famosa na zona, a La Maja. É lá que conhece a primeira mulher, Rosalía Mera. Juntos, trabalharam e aprenderam tudo o que era possível sobre o negócio têxtil — até começarem eles próprios a criar os seus desenhos.

Foi com Rosalía e o irmão que criou a primeira empresa, a percursora da Inditex. Em 1963 nascia a GOA Confecciones, que produzia batas e vestidos de mulher. A empresa fazia tudo: desenhava, produzia, distribuía e vendia.

Ao fim de dez anos, a GOA tinha já 500 trabalhadores. Com a fábrica nos arredores da cidade, Ortega decidiu abrir a sua primeira loja da marca que tinha idealizado. Na sua cabeça, Zorba era o nome ideal — inspirado nos filmes de Zorba, o Grego.

Primeiro problema: escolhera uma propriedade de esquina numa rua central da Corunha onde, a poucos metros, existia um bar precisamente com esse nome. Ordenou-se a troca aleatória das letras até chegar a uma combinação satisfatória. Ficou Zara.

A primeira das mais de duas mil lojas que existem hoje por todo o mundo nasceu a poucos metros da velha Camisería Gala, onde começou a trabalhar. Era também a primeira pedra de um império que dez anos depois adotaria o nome de Inditex, a casa da Zara, mas também da Oysho, Stradivarius, Pull&Bear, Uterqüe (que se prepara para encerrar todas as lojas) ou da favorita de Ortega, a Massimo Dutti.

zara
Gosta de misturar fast fashion com marcas de luxo.

Marta, a lufada de ar fresco

Amancio teve dois filhos do casamento com Rosalía, Sandra e Marcos Ortega Mera, mas nenhum deles está envolvido no negócio. É a sua terceira filha quem hoje traz uma lufada de ar fresco à empresa e quem percebe bem como divulgar a Zara sem recorrer a publicidade impressa. Tudo acontece através da Internet e das redes sociais e a grande aposta passa também pelas campanhas, para as quais chama fotógrafos como Steven Meisel, Davis Sims, Craig McDean e Zoë Ghertner.

“Penso que é importante construir pontes entre a high fashion e a fast fashion, entre o passado e o presente, entre a tecnologia e a moda, entre a arte e a funcionalidade“, afirmou Marta ao “The Wall Street Journal”. Como alguém que incorpora os próprios extremos da indústria da moda, está a ajudar a Zara a demolir a divisão tradicional entre a moda de luxo e o vestuário de massas.

Para ela, a qualidade não devia estar disponível apenas para algumas pessoas. “Queremos que todos os nossos consumidores possam ter isso”, explica. Em 2018, introduziu a linha de edição limitada SRPLS, que é lançada bianualmente, na forma de coleções de streetwear para homens, mulheres e miúdos, confecionadas em algodão, linho, lã e seda e cujos preços podem chegar aos 250€. 

“Obviamente somos uma empresa grande, mas sinto que não é assim tão grande — não sei nada sobre os grandes valores. Nós nem sequer queremos falar sobre eles. No nosso trabalho diário, não é algo com que estejamos preocupados”, conta ao jornal americano. “É grande, mas é mais pequena.”

Isso recorda-a de uma lição que aprendeu com o criador francês Alber Elbaz, amigo pessoal que morreu em abril deste ano. “Sê grande no trabalho e pequeno na vida”, tinha-lhe dito a sua mãe. “É uma das melhores coisas que alguma vez ouvi”, confessa a nova presidente da Inditex.

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