Quando lançaram o seu projeto, em 2020, Bernardo Carreira e a avó Otília, na altura com 77 anos, não imaginavam o sucesso dos seus produtos de cânhamo. Depois das sapatilhas e da mochila feitas de canábis, a dupla anunciou um novo produto: botas de câmanho impermeáveis. Em apenas 24 horas, a campanha angariou mais de 60 mil euros em doações no Kickstarter.

Com uma fibra mais resistente e uma coloração mais forte, o artigo foi apresentado ao público no passado dia 7 de fevereiro. Desde então, a empresa portuguesa já soma mais de 234 mil euros para a promoção do desenho à prova de água, que segue o modelo Chelsea e surge em duas cores: castanho escuro e preto.

“Os nossos clientes são maioritariamente americanos e eles detestam atacadores, porque dá muito trabalho. [risos]”, conta à NiT Bernardo, sobre a escolha. “Tinha que ser um formato que permitisse calçar e descalçar de forma rápida.

Outro fator importante é que, nos Estados Unidos, neva muito e as pessoas precisam de calçado com solas mais altas durante a estação fria: “Além disso, não ter atacadores ajuda muito a que a neve não se acumule nos buracos dos ilhós.”

O produto destaca-se ainda pelas palminhas de cânhamo, as solas de borracha todo o terreno e a produção 100 por cento vegana, à semelhança do que tem acontecido nos outros lançamentos: “Cada vez mais os nossos clientes nos pedem novas coisas e nós vamos testando os limites do cânhamo”.

Apesar do foco no público internacional, a dupla orgulha-se do artigo ser totalmente feito em Portugal. Bernardo e Otília estiveram a trabalhar na novidade nos últimos dois anos para conseguirem “não apenas os melhores materiais, mas também as melhores pessoas.”

Na Kickstarter já pode reservar as mochilas em regime de pré-venda com 35 por cento de desconto, ou seja, custam 120 euros. Estarão disponíveis no site da 8000Kicks com entrega prevista no final de agosto.

A história da marca

Quando Bernardo Carreira, de 27 anos, regressou de Londres, no Reino Unido, em 2018, viu na matriarca a aliada perfeita para cumprir o seu objetivo. Queria desenvolver um negócio próprio na sua terra natal, em Minde, no distrito de Santarém. Para isso, os 50 anos de experiência de Maria Otília na confeção têxtil mostraram-se perfeitos para dar vida sua ideia.

“A minha avó já tem 79 anos e não tem as mãos [para criar os artigos]”, frisa o neto. “É a chefe. A avó Otília é quem manda nos produtos todos. À mesa durante almoço, estamos sempre a discutir os produtos novos.”

A parte “mais inacreditável” da história, explica Bernardo à NiT, é mesmo verdade. O componente principal do tecido é feito a partir de uma fibra industrial da canábis, o cânhamo, que tem inúmeras vantagens do ponto de vista ecológico.

Para o produzir, é utilizada cinco vezes menos água do que a necessária no cultivo do algodão e não são precisos quaisquer pesticidas ou herbicidas para que cresça. O cânhamo absorve o CO2 da atmosfera e purifica os solos — “há quem diga que pode ser plantado até 14 vezes no mesmo solo sem o danificar”, conclui.

Os longos meses de desenvolvimento começaram em agosto de 2018, chegando as primeiras propostas de sapatos ao público em maio de 2019, com o apoio de uma campanha de crowdfunding em que conseguiram reunir cerca de 214 mil euros. Começou por se chamar DopeKicks, mas mudaram de nome para 8000Kicks e é por esse que a marca quer ser conhecida.

Carregue na galeria para conhecer alguns dos sapatos de cânhamo vendidos pela marca, todos disponíveis por 121€ em várias cores.