Um estúdio de tatuagem pode ser comparado a um gabinete de psicologia. Lá, mudam-se vidas, ultrapassam-se desgostos, e viram-se páginas. Como um corte de cabelo radical só que, desta vez, para a vida toda. Por isso mesmo, embora a maior parte dos tatuadores nacionais ter começado no mundo das artes, a verdade é que fazer um desenho no papel está a anos luz da responsabilidade que representa marcar a pele de alguém — uma pressão que o cliente também sente na procura pelo espaço ideal para eternizar uma gravura no corpo.
No estúdio Ink&Wheels, criado em 2015 por Mariza Seita, está a prova do poder desta expressão artística. Entre agulhas e tintas, a profissional recebe no seu estúdio mulheres que passaram por uma mastectomia e presta-lhes um valioso serviço que não tem qualquer custo: devolve-lhes a esperança e a autoestima com tatuagens de mamilos. No final do ano em que abriu a loja, usou a mãe de uma amiga como cobaia e a reação emotiva (que envolveu lágrimas) fê-la perceber que não conseguia cobrar com o serviço.
No momento em que tatuava uma senhora de 76 anos, sentada na cadeira, a sobrevivente da doença disse algo que Mariza nunca mais esqueceu: “Estou a fazer isto, mas não é para maridos, nem mais ninguém. Isto é para mim”. Outra senhora, que acabou por aparecer apesar da reticência, exclamou algo que também continua presente na mente da artista: “Não acredito. Finalmente vou fazer topless outra vez!”.
O ambiente colorido, luminoso e convidativo do espaço, situado no Campo Pequeno, faz qualquer pessoa sentir-se à vontade. “Não quero que as pessoas tenham medo de entrar na minha loja”, explicou à NiT, sobre a decoração gráfica e animada, que se distingue dos estúdios mais escuros a que estamos habituados. E o seu trabalho vai muito além da reconstrução de mamilos. Recebe todo o tipo de pessoas, dos 18 aos 80 anos, encantadas pelo tradicional estilo norte-americano dos anos 50 e 60. É o único que está presente no seu corpo — das tatuagens de marinheiros a andorinhas.
Mais do que a decoração, são os profissionais que habitam o espaço a razão do sucesso do estúdio. A “bad influencer” Nazaré Pinela, de 59 anos, é a prova disso com a loja que abriu em Sintra, em 2001. O Bang Bang é conhecido por toda a gente que vive na vila, mas a artista também recebe clientes de outras zonas do País e até muitos estrangeiros, que vêm a Portugal de propósito para a conhecer. Viciada em tatuagens desde os 18 anos, tem como objetivo ajudar outras pessoas a transformarem os seus corpos de forma artística.
“[O estúdio] é muito alegre. Quis fazer algo diferente dos espaços que existiam há 20 anos. Havia o cliché de serem sítios com pessoas más e grandes, com decoração cheia de chamas e quadrados. Fui para o lado completamente oposto. É verde, tem bambus e a inspiração havaiana convida a entrar”, contou à NiT. Quanto aos desenhos, destaca-se a estética clássica vintage, um reflexo do seu gosto pelas décadas 40 e 50.
Dos mais tradicionais aos mais originais, somam-se opções para todos os gostos. Enquanto o Fiasco, na Penha de França, nasceu do desejo de um grupo de jovens artísticos de trabalharem com a tatuagem contemporânea — mais abstrata e arrojada —, o Queen of Hearts Tattoo Studio é para quem não resiste ao estilo old school. Situado no LxFactory, já existe há 18 anos e conta com uma equipa residente eclética que tem apenas uma missão: nenhuma tatuagem pode ser igual.
Se está a sonhar com a sua próxima tattoo, espreite a lista da NiT dos melhores estúdios de tatuagens na Grande Lisboa. Dos desenhos realistas às criações mais abstratas, vai encontrar lojas que se dedicam a um pouco de tudo.
