Lojas e marcas

A artista portuguesa que tatua desenhos que parecem ter sido feitos por um miúdo

A tatuadora Espirro criou o seu próprio estilo: não é consensual, mas tem muitos fãs. Já soma mais de 47 mil seguidores.
Um estilo diferente e único.

“O que é isto?”; “Daqui a cinco anos vai estar horrível”, “Parecem os desenhos que se vêm nas cadeiras de autocarro”. As opiniões sobre o trabalho de Cíntia Coutinho não são consensuais, mas a artista também não procura agradar a todos. Tem um estilo único e original seguido por mais de 47 mil utilizadores do Instagram.

“O meu objetivo não é ir contra [as ideias tradicionais], mas fazer algo com que me identifique”, começa por explicar à NiT a tatuadora de 32 anos.  Decidiu entrar no mundo das tatuagens precisamente porque não se identificava com nenhuma outro universo em particular. Trabalhou em várias áreas e foi descobrindo o que queria fazer pelo caminho — sem traçar planos, embora a arte já fosse uma certeza. “Todos os miúdos são criativos, mas eu lembro-me de estar sempre a explorar materiais. Não desenhava assim tanto, gostava mais de brincar com barro e até com comida, como farinha ou ketchup, para ver o que acontecia. Com as Barbies fazia a decoração das casas e nem brincava com elas”, confessa à NiT.

Estudou artes plásticas na Faculdade de Belas Artes do Porto e, apesar de sempre ter gostado muito de tatuagens, revela que a primeira, feita aos 16 anos, é aquela com que menos se identifica atualmente. Criativa e com um estilo próprio muito vincado, sempre sentiu que a procura daquilo que não encontrava servia como um motor para os seus projetos. 

Na Figueira da Foz, de onde é natural, criou uma marca de roupa com a ajuda da mãe e da avó de 99 anos. “Como não encontrava as peças que queria vestir, comecei a criá-las e acabou por se tornar algo natural. A minha irmã começou a pedir-me modelos parecidos, e minhas amigas também.”

Divertida e bem-disposta, decidiu chamar o negócio de Espirro — nome pelo qual é conhecida, agora por outro motivo —, e era através dele que vendia peças únicas, estampadas, com cores vivas e pompons. Começou a desenhar os próprios padrões e daí às tatuagens diz ter sido um processo orgânico. “Como a arte já estava na minha cabeça, pensei que podia tatuar os meus próprios desenhos.”

A produção têxtil não terminou, até porque continua a fazer pins e bordados, mas foi colocado ao lado da destreza de tatuar. E é, afinal, por ela que Cíntia é conhecida. Desenhos abstratos, cheios de cores, quase como se tivessem sido feitos por um miúdo, enchem a sua conta de Instagram e apaixonam os seguidores.

À NiT, Espirro diz que a paixão começou ao participar num curso com um tatuador em Lisboa. Passados sete anos e meio, continua a “ir buscar a parte ilustrativa e de brincadeira”, mas garante que evoluiu muito mais para o abstrato.

Tem 32 anos.

Aos 24 anos fez a primeira tatuagem a uma colega de trabalho — “uma baleia porque tinha uma coleção de animais” —, mas só mais tarde percebeu que a abordagem que seguia se estava a tornar num estilo.

A junção de materiais, como o lápis e a caneta, puxam-na para o fora do comum e levam-na a estar em mutação constante. A inspiração, essa, diz que a vai buscar a um filme ou objeto que viu no chinês, trabalhos de outros artistas e exemplos que vê na praia. “Quando és criativo, nem consegues controlar estes inputs, estás sempre a ser bombardeado. Às vezes estou nas obras, vejo os tubos, tiro uma fotografia e lá vou eu”.

Para o seu trabalho, tenta mudar as agulhas, tal como faz no caderno, e usá-las como um pincel para criar texturas. Espirro assegura que é preciso aprender as técnicas base, saber fazer bem e depois será a agulha a pintar e criar texturas. Ainda que o cuidado extra seja necessário, o tratamento não é muito diferente do das tatuagens a preto, e a cicatrização faz-se com a aplicação de protetor solar.

Abre a agenda a cada dois meses, mas diz que o tempo de espera depende da época do ano. Numa altura mais parada, até se consegue marcar para o espaço de duas semanas. Claro, que, para isso, os clientes precisam de explicar o que querem e é depois feito um orçamento. No final, Cíntia diz modificar frequentemente os desenhos, já que tem a sorte de os clientes confiarem muito no seu trabalho enquanto artista.

A própria experiência de se dirigirem ao estúdio é já por si bastante interessante. Espirro, em vez de estar num local mais escuro e típico, trabalha no mundo arco-íris do Fiasco, uma loja de tatuagem contemporânea em Lisboa.

“O Fiasco foi a vontade de um grupo de artistas do universo da tatuagem construir um coletivo. É um espaço onde nos sentimos seguros e com o qual nos identificamos. Todos nós somos artsy e ele tem de o ser, também. Sempre a mudar: alterar o armário, pintar o candeeiro”, conta. A trabalhar com cores, não lhe fazia sentido, portanto, fazê-lo num estúdio simples a pretos e branco.

Carregue na galeria para conhecer alguns dos trabalhos de Espirro. Também a pode visitar no estúdio Fiasco, na rua Luís Monteiro 8A, em Lisboa, segundo marcação.

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FICHA TÉCNICA

  • MORADA
    Rua Luís Monteiro 8A
    1900-397  Lisboa
  • HORÁRIO
  • Segunda marcação

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