Lojas e marcas

AJ13. Novo showroom de Lisboa só tem marcas de designers ucranianos

Para Anastasia, mostrar o trabalho destes criativos é falar sobre a guerra. A produção é feita entre alertas aéreos e apagões.
Alice K é uma das marcas presentes.

Anastasia Bilous não se considera refugiada, mas acompanhou de perto todas as mudanças na moda ucraniana após o início da guerra. “É difícil planear a produção porque pode acontecer um ataque ou um apagão a qualquer momento”, conta à NiT. “Muitas marcas foram obrigadas a deixar o país e perderam todo o stock.”

Entre alertas aéreos, ataques de mísseis, explosões e apagões, as histórias de superação acumulam-se. Nas maiores cidades, como Kiev, é comum as equipas de confeção terem de ficar escondidas em abrigos em anti-bombas após uma ameaça. “Nunca sabem quando vão poder sair de lá.”

Atenta a este cenário, a jornalista de 28 anos percebeu que falar sobre estas marcas é, também, falar sobre a guerra em curso. Após dois anos a viver em Portugal, decidiu virar os holofotes para esta luta e abriu o primeiro showroom dedicado a designers ucranianos em Lisboa, dia 13 de outubro.

“Sou uma grande fã e cliente destes artistas. Adoro usar as suas peças e, acima de tudo, falar sobre eles”, acrescenta a fundadora, que trabalha como editora de moda na “Elle” Ucrânia há 8 anos, atualmente à distância. Sempre quis destacar estas etiquetas nas páginas da revista.

A mudança para Portugal não estava prevista. Anastasia rumou ao nosso País em 2022, apenas para passar o verão. Porém, o estilo de vida nacional — com o “espírito amigável das pessoas” e a proximidade do mar — levou-a a prolongar a estadia. “Queria tratar de mim emocionalmente”, confessa, e acabou por conhecer o atual noivo na capital.

Além das oito edições anuais que faz para a “Elle”, também fez trabalhos como stylist ou relações-públicas de marcas ucranianas noutros países. “Experimentei várias direções e refleti sobre o que podia fazer. Aprendi muito sobre este mercado e comecei a colaborar com retalhistas.”

Anatasia a usar marcas do showroom.

A ideia do projeto começou a desenhar-se em março, durante a 62.ª edição da ModaLisboa, quando o evento acolheu a iniciativa Suppport Ukranian Designers Initiative, no âmbito do protocolo entre a Associação ModaLisboa e a Ukrainian Fashion Week — que não se realiza no país desde o início da invasão russa.

Como não havia nenhum espaço físico dedicado a estes artistas, o passo seguinte foi a inauguração do showroom AJ13, que nasceu com a missão de representar marcas com um design único. Atualmente, trabalha com nove referências divididas em três categorias: roupa, carteiras e acessórios. A maioria tem produção 100 por cento ucraniana.

O catálogo divide-se entre etiquetas que trabalham com a tradição, a partir de trajes típicos como as vyshyvankas, e estilistas mais contemporâneos, já representados em semanas da moda internacional. Um dos desafios de Anastasia foi encontrar este equilíbrio, mantendo o ADN ucraniano.

“A moda ucraniana é marcada por muita experiência e por esta compreensão do meio-termo entre o que é artístico e o que é comercial”, diz. “Muitos concentram-se na criatividade e a nossa forma de trabalhar é entender como vender estes objetos únicos.”

Destacam-se etiquetas focadas no upcycling de jeans como a Kseniaschnaider, famosa pelos conjuntos exclusivos com patchwork e tecidos vintage. “Tornou-se um sucesso na Internet e até na Zara já é comum. Alguns passaram a ser vendidos em plataformas como a Farfetch e a Net-a-Porter.”

Outros exemplos passam pela Alice K, que segue o conceito de “extra basics” (mistura de peças extra com o guarda-roupa do dia a dia), a Etnodim, conhecida pelas roupas bordadas inspiradas na herança ucraniana ou a Vikele, que cria carteiras de couro com um design sofisticado.

Kseniaschnaider nos bastidores da ModaLisboa.

Apesar das complicações, esta curadoria foi o mais completa possível para representar a essência de cada um dos nomes representados. “É comum ter de haver entregas em menos de 24 horas e os trabalhadores não podem, porque não têm eletricidade. Trabalha-se com o que temos.”

A AJ13 — que junta o número da sorte de Anastasia à sua inicial e à do noivo, Jan Cartenmayer — é também um reflexo do street style da Europa de Leste. “Os stylists gostam de combinar peças vintage com artigos mais modernos”, explica. Uma mistura que também quis trazer para o showroom.

Trata-se de um espaço bastante simples e clean para dar destaque a estas propostas, sendo que cada etiqueta tem o seu espaço. Ainda assim, tem um toque ucraniano através dos tradicionais tapetes das montanhas ou dos nichos escolhidos, vistos em Kiev.

Nos próximos meses, a oferta vai continuar a aumentar e reunir outros negócios que atravessam um período complicado. “Para mim, é importante conhecer a história por trás do projeto. Todos foram criados durante a situação da guerra”, diz. Mas adaptando sempre às estações do ano e ao clima português.

Numa fase inicial, o showroom está aberto apenas por marcação devido ao stock reduzido. “Analisámos o mercado e o que queríamos ver, mas não temos capacidade para encomendar muito stock”, continua. Se o espaço for bem recebido pelo público, o plano é abrir “uma grande loja conceptual” já no próximo ano.

As visitas ao showroom da AJ13 podem ser feitas mediante marcação através da página de Instagram da loja. Os preços começam a partir dos 45€.

Carregue na galeria para conhecer algumas das propostas disponíveis.

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