Raquel Gonçalves descobriu bastante cedo o encanto pela louça portuguesa. Se na infância já prestava atenção às peças mais tradicionais, como os assadores de chouriços em barro vermelho, que ainda associa aos dias passados em casa da avó, o interesse evoluiu para propostas mais contemporâneas, como vasos de cerâmica minimalistas.
“Quando decidi morar sozinha, trouxe esse gosto comigo e quis decorar a casa com este tipo de peças”, recorda à NiT. A mudança deu início à missão de encontrar artigos que aliassem tradição e modernidade e, acabou por perceber, nem sempre era fácil encontrá-los.
O cenário tem mudado nos últimos meses, com o fenómeno da cerâmica ao peso a invadir Portugal, com lojas de norte a sul. É entre corredores mais amplos ou labirínticos que os apaixonados por decoração encontram milhares de peças de qualidade a preços mais acessíveis.
Apesar da multiplicação destes negócios, a jovem de 27 anos reparou que ainda faltava um conceito semelhante em Viseu, onde nasceu. Foi quando se decidiu juntar à mãe, Anabela Chaves, 53, para dar resposta a esta lacuna e se dedicarem a uma paixão em comum.
Inspirada pela herança da cerâmica nacional, a Antiqva é a nova loja de cerâmica “com alma portuguesa” do País. De portas abertas desde o início de dezembro, em Abraveses, no centro da cidade, reúne louça ao quilo a partir de 3€ — ou seja, só paga o que leva — e várias propostas vendidas à unidade.
“Era a oportunidade para fazer algo diferente com a minha mãe, que não tem nada a ver com o nosso trabalho e dar azo à nossa criatividade”, acrescenta. Enquanto Anabela sempre foi enfermeira, Raquel formou-se em engenharia biológica passou por consultoria e investigação na área têxtil. Em setembro, criou uma empresa de instalação de portas e janelas em Braga, onde trabalha.
O nome, derivado do termo do latim “antiqua” (que significa “antiga”) reflete a essência deste projeto: valorizar a tradição, mas mantendo “um olhar mais fresco e contemporâneo”. Ali é contada uma história sobre a evolução da tradição da olaria em Portugal, assumindo pequenas imperfeições como detalhes únicos e exclusivos.

No catálogo, destacam-se propostas como pratos, taças, travessas, saladeiras ou vasos em tons mais neutros, como o branco, o bege ou o cinzento, seja lisa ou com esmalte reativo. E não faltam os porquinhos para chouriço com que Raquel cresceu. “Escolhemos propostas intemporais e toda a gente acaba por gostar, porque fica bem em qualquer mesa e em qualquer casa”, explica.
No caso das cerâmicas ao quilo, todas as opções são excedentes de produção fornecidos por fábricas no norte do País, permitindo um custo mais acessível. As peças à unidade têm a mesma origem, mas trata-se de louça de primeira.
“Em alguns dos artigos à unidade, fomos nós que escolhemos a cor e o modelo dos pratos. É uma coleção que teremos disponível durante um ano”, diz. O objetivo é que os clientes possam levar um deles para casa, voltarem para a semana e encontrarem o resto da coleção. “Daqui a uns meses posso acrescentar um item novo para complementarem o conjunto.”
A par da cerâmica, as fundadoras aproveitaram para explorar o potencial da madeira, disponibilizando peças únicas em que “cada detalhe conta uma história”, tal como acontece com a arte feita em barro. A lógica mantém-se: “a tradição e modernidade encontram-se em Viseu”, como indica o slogan do espaço.
A oferta está distribuída por um espaço com cerca de 300 metros quadrados, também marcado pela neutralidade. “Tentámos desenvolver uma estética minimalista e com um ar mais rústico”, sublinha. Para isso, apostou em materiais naturais, como a madeira, e apontamentos em tijolo.
A decoração é composta pelas peças que estão à venda. Assim que entramos na Antiqva, há uma parede de nicho com vários vasos à venda. “Estão expostos para as pessoas perceberem como ficam. Alguns têm arranjos florais para os imaginarem logo num ambiente.”

Existem ainda duas mesas que irão contar com exposições que possam inspirar os visitantes. Durante as festividades, contam com sugestões de decorações de Natal que possam inspirar os viseenses (e não só) até ao final da quadra.
E, como o espaço fica logo à entrada da cidade, são muitas as pessoas que passam e reparam na novidade. Raquel soube, desde logo, que não queria que a loja ficasse numa zona mais industrializada e escondida, então encontrou a oportunidade ideal não muito longe do centro.
Na Antiqva, além de louça ao quilo ou à unidade, há também um atelier para desenvolver workshops e eventos. “Queremos que as pessoas se sintam bem na loja e nos procurem. É algo que vai puxar pela nossa criatividade: o que podemos fazer para dinamizar o projeto?”.
As iniciativas arrancaram em Viseu, com um workshop para aprender a preparar a mesa de Natal, com uma especialista da área, e já há mais duas ideias em cima da mesa. Embora não se queiram prender a um calendário rigoroso, as fundadoras já têm planos para mais dois encontros em janeiro, relacionados com velas ou sobre como fazer bebidas como matcha.
O grande passo seria, claro, ter eventos dedicados à pintura de cerâmicas, escolhidas pelas pessoas, e eventualmente ensiná-las a fazer os objetos em si. “Queremos fazer colaborações com empresas com as quais nos identificamos e ajudar a dinamizá-las”, conclui.
As novidades da Antiqva vão ser anunciadas através das redes sociais, mais precisamente das páginas de Instagram e no Facebook.
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