Tempos houve em que as peças de roupas usadas pelos nossos avós mereciam um revirar de olhos. Considerados demasiado antiquadas — muito por preconceito dos mais jovens —, os modelos vindos dos anos 50, 70 ou 90 ficavam esquecidos e empoeirados. Esta visão tem vindo a mudar, em grande parte, devido às lojas que têm surgido com corredores coloridos e conceitos inovadores.
Pedro Abreu tem 54 anos e Laura Porru tem 19. Apesar da diferença de idades, os dois “amigos improváveis” são responsáveis por um dos mais recentes (e originais) espaços na capital. A Fora de Prazo, inaugurada em 2022, no Beato, vende roupa focada na exclusividade, funciona como uma galeria de arte, tem um laboratório de fotografia e ainda inclui uma oficina de serigrafia.
“[O edifício] costumava ser um clube de vídeo. Era onde os vizinhos se encontravam para ver uns filmes, deixar as VHS. Aqui, são sempre bem recebidos”, contou o fundador à NiT, no verão passado. Para homenagear o passado deste espaço, existe uma vertente de convívio que atrai pessoas de todas as idades. A loja é, por isso, o spot ideal para quem quer apenas relaxar com os amigos ou procura uma zona calma e original para estudar.
“Não é uma ideia fechada. Novas propostas são sempre bem-vindas. Se vierem aqui pessoas com projetos viáveis podemos apostar nisso. É, certamente, um espaço aberto a todo o tipo de gente”, reforçam os sócios, que apostam numa experiência interativa e próxima dos clientes. Laura, por exemplo, conhece toda a história sobre as peças que lhe chegam às mãos.
Não há dúvidas: quer seja por razões estéticas, de moda ou ambientais, as peças em segunda mão têm vindo a ganhar o seu espaço no mercado. Mas não se trata de um fenómeno que começou nos últimos cinco anos. Muitas das novas ideias que têm surgido em torno da roupa vintage foram inspiradas nas lojas pioneiras que arriscaram no segmento antes de ser tão popular.
Em Lisboa, há mais de 15 anos que, muitas vezes, um bom aglomerado de pessoas se junta à porta do número 22 da Rua da Assunção, onde está instalada A Outra Face da Lua. Foi um dos primeiros negócios a apostarem neste segmento, com peças que chegam de várias partes do mundo. Este espaço continua a ser um das mais conhecidos e acarinhados pelo público — mesmo com um aumento exponencial da concorrência.
E, no que diz respeito às lojas em segunda mão, não falamos apenas de roupa. É certo que os blusões de cabedal, as camisas cheias de padrões e os jeans clássicos são alguns dos artigos mais procurados, mas a nostalgia alarga-se a outros segmentos. Há vários spots dedicados a acessórios ou, pasme-se, a roupa interior feminina — como a Boudoir Vintage Boutique. Em cada canto, uma caixinha de surpresas.
À NiT, Catarina Querido, a fundadora da loja, explicou a lógica: “[São] peças que estiveram em lojas e armazéns e nunca foram vendidas nem usadas. O objetivo é salvá-las e evitar que se transformem em lixo. Já me aconteceu adquirir peças que depois descobri que foram usadas na noite de núpcias de alguém, há 30 ou 40 anos, e que foram vestidas apenas uma vez ou duas. Gosto de trabalhar com estes artigos, porque são peças raras.”
Em algumas destas lojas, os verdadeiros fãs de moda encontram ainda designs das grandes etiquetas internacionais, como a Saint Laurent, a Valentino, a Chloé ou a Moschino. Muitos dos donos destes espaços andam pela Europa à procura delas, compram peças a clientes privados e vendem-nas a preços simpáticos — afinal, não deixam de ser quase todos usados.
Acontece que, embora os grandes designers se esforcem — e criem peças com qualidade premium — nenhumas são tão especiais como aquelas que contam histórias com mais de trinta anos. Sobretudo quando se trata da produção em massa da fast fashion, que faz com que estes negócios guardem verdadeiras relíquias.
Para que conheça melhor este mundo maravilhoso das lojas em segunda mão — sem cheiro a mofo, prometemos —, a NiT fez uma seleção dos 11 melhores espaços de Lisboa. Carregue na galeria para conhecê-los.
