A página da Temu ainda não carregou totalmente e os clientes são logo atacados por uma panóplia de pechinchas bizarras. Pode ver uma lâmpada em forma de galinha, um massajador de pés ou até uma miniatura de Snoop Dogg como um duende de Natal. Mas o facto de muitos dos objetos não ultrapassarem um euro é mesmo o que chama mais a atenção das pessoas.
Entre o vasto catálogo da aplicação chinesa, foram agora encontradas armas à venda — sem qualquer controlo de idade. A denúncia foi feita esta sexta-feira, 17 de novembro, pela organização de defesa do consumidor britânica Which?, que alertou para a comercialização de facas, bastões e machados, entre outros objetivos perigosos.
A lista inclui objetos cuja posse não só é ilegal no Reino Unido, como punível com pena de prisão. Isto significa que, além dos problemas de segurança para os consumidores, a retalhista digital pode entrar num processo judicial.
“Os problemas com os produtos perigosos só vão piorar se os novos gigantes da tecnologia, como a Temu, continuarem a ter padrões mais fracos do que o comércio de rua”, defendeu Sue Davis, diretora do grupo. “O mercado online tem de melhorar os seus processos de controlo, monitorização e retirada de produtos.”
Após o alerta, a plataforma chinesa pronunciou-se sobre o assunto e assumiu o erro. “Estamos empenhados em cumprir integralmente as regras e regulamentos relevantes em todos os mercados em que opera e leva muito a sério todos os relatórios de violações”, explicou um porta-voz do marketplace.
E ficou a promessa de retirar todos os produtos perigosos de circulação. “Depois de recebermos uma queixa de uma pessoa com menos de 18 anos que comprou um artigo com lâmina na nossa plataforma, removemos imediatamente todas as listagens de produtos relacionados Também iniciámos uma investigação abrangente e uma revisão dos nossos processos.”
O novo fenómeno que bateu a Shein
Quando a Temu estreou um anúncio de 30 segundos, na final do Super Bowl, em fevereiro deste ano, a maioria dos norte-americanos nunca tinha ouvido falar da plataforma. A plateia foi invadida por olhares confusos com a promessa da marca chinesa. Ali seria possível “comprar como um multimilionário” — embora poucos afortunados sonhem com smartwatches a menos de 15€, por exemplo.
Daí em diante, a ascensão da Temu só pode ser descrita como meteórica: ultrapassou a principal rival, a Shein, mas também concorrentes como a Wish ou o Aliexpress. Lançada nos Estados Unidos em 2022, rapidamente se expandiu ao Canadá, Austrália, Nova Zelândia e Europa. Atualmente, é a aplicação mais popular em Portugal: ocupa a primeira posição na categoria “Compras” da Apple Store e na Play Store, com uma classificação de 4,8 estrelas.
Todos os produtos têm gráficos a apontar para promoções — que, muitas vezes, indicam descontos de 90 por cento — com contagem decrescente ou uma tabela do custo da proposta ao lado. A fórmula repete-se. Durante a Black Friday do ano passado, a empresa foi apelidada “a talhante dos preços”.
“Estavam sempre a atirar-me à cara oportunidades de ganhar mais cupões, mas parecia sempre que tinha de fazer mais uma coisa, indicar mais um amigo, para finalmente receber o prometido. Parecia uma máquina de póquer digital”, revelou um consumidor australiano, ao “The Guardian”.
Apesar das semelhanças com a Shein, igualmente com uma oferta interminável de artigos, há diferenças claras. Uma delas é que a primeira contrata diretamente os fornecedores para fazerem as encomendas, enquanto a Temu funciona apenas como uma ponte. A plataforma gere as listas, o marketing e a logística, enquanto os fabricantes fazem tudo o resto. E não há informações sobre a origem dos produtos.
Aproveite e leia o artigo do NiT sobre a história da Temu e descubra os riscos de fazer compras neste fenómeno global.
A NiT reuniu algumas das propostas que vai encontrar na plataforma, das mais bizarras às banais. Carregue na galeria para conhecer algumas — os preços começam nos 47 cêntimos.