Cânhamo, maçã ou até cacto. Sempre que Cristóvão Soares, 40 anos, mostra os seus sapatos feitos com alternativas vegetais à pele a outros fabricantes — mesmo os mais experientes —, todos acham que se trata de couro. O fenómeno repete-se, lançamento após lançamento, com reações de espanto por parte de colegas e clientes.
Após apostar na planta suculenta para criar botas “muito macias”, a Verney Store voltou a inovar. Cristóvão e o sócio Dani Barreiro, 39, lançaram novos pares de sandálias feitas com milho a 14 de julho. Em poucos dias, os modelos (que custam 79,90€) esgotaram.
“Gostariam de ter este modelo de volta?”, escreveram as redes sociais, quando ficaram sem stock. Sobre este sucesso, Cristóvão explica à NiT: “Pouco a pouco, os preconceitos relacionados com estes materiais estão a ceder. Os clientes têm consciência de que as nossas propostas são mesmo boas, bonitas, duradouras e de qualidade”.
Desta vez, a ideia de juntar o cereal à lista de matérias-primas surgiu numa feira internacional em Milão. Descobriram um fornecedor que apresentava a solução e fizeram logo vários testes, em fábricas situadas em São João da Madeira, no norte do País, para perceber se seria uma alternativa viável.

O resultado das experiências foi positivo e começaram a desenvolver vários modelos com o novo material. E sempre com a identidade da Verney presente, claro: de linhas simples, mas com solas ou outros apontamentos arrojados “que conferem um look afirmado a quem as usar”.
Ao contrário do cacto, que tinham de importar do México, o milho tem a mesma vantagem que a maçã. É uma matéria-prima fácil de encontrar na Europa, o que a torna uma solução mais sustentável. A nível da confeção, afirma, “é um material que se trabalha muito bem na indústria do calçado e que não difere de outros que já usámos”.
“Estamos a estudar várias possibilidades novas. Algumas relacionadas com restos de frutas, como a manga, e outras com materiais reciclados”, revela, sobre o alargamento da oferta. “A inovação constante é algo que faz parte do nosso ADN. Porém, como sempre, os protótipos têm de ser testados e experimentados antes de os lançarmos no mercado.”
A história da Verney Store
Antes do milho, os dois fundadores exploraram muitas opções. Usaram o cânhamo, garrafas de plástico e algodão reciclado e, posteriormente, maçã. Aliás, foi a vontade de explorar propostas inovadoras que os levou a lançar uma marca “desenhada e produzida em Portugal.”
“Estávamos a tirar o mestrado em economia, mas eu já trabalhava na produção de calçado e queria um projeto diferenciador e apelativo”, recorda. Começaram a estudar os materiais sintéticos que surgiam na altura e, em 2016, apresentaram a Verney Store ao mercado nacional.
“No início, existia o estigma de que o resultado ia ser algo feio e aleatório, para ser usado por pessoas com gostos invulgares. Pedimos conselhos a muitos amigos e começámos por peças mais simples que todos podem usar no dia a dia como se fosse mesmo pele.”
Inicialmente intemporais e básicos, os novos designs têm seguido caminhos mais arrojados. É o caso do bestseller Vienne, com uma sola mais agressiva e aplicações metálicas, ou o estilo militar das botas Vogel. Também os sapatos Veron, entre os mais vendidos, têm um look mais chunky.
Quando ao feedback do público, também “é sempre curioso”. As pessoas perguntam a origem e, quando descobrem o que está na base dos desenhos, levantam sempre as sobrancelhas: “Acham que é pele e pensam que estamos a enganá-las. O resultado é mesmo muito próximo.”
Enquanto espera que o stock das sandálias Vicken seja resposto, carregue na galeria para conhecer mais modelos da Verney. Os valores variam entre os 59,90€ e os 79,90€.