Quando Tiago Ferreira da Silva, de 28 anos, visitou António Campos, de 29, em Bali pela primeira vez, acabou por se juntar ao amigo numa missão de loja em loja à procura da camisa perfeita. Um pouco por toda a ilha da Indonésia, compraram várias peças de marcas locais e comentaram entre os dois que havia sempre algum pormenor que gostariam de alterar.
O que concluíram nessa viagem em 2016 foi que tinham os dois a mesma ideia: para eles, o corte da camisa era o mais importante. No fundo, queriam uma peça com um molde vintage, colarinho aberto inspirado nos anos 70 e um “toque moderno”. Essa visão tão alinhada acabou por inspirar a criação uma marca de roupa, um projeto que deixaram algum tempo de lado por estarem a trabalhar noutras áreas.
Foi finalmente em julho de 2020 que a The Flying Dutchman chegou ao mercado português, depois de começarem a desenvolvê-la em março, na mesma altura em que foi imposto o confinamento obrigatório em Portugal por causa da pandemia de Covid-19. Apesar das circunstâncias, os dois amigos decidiram arriscar “com toda a força” e lançaram uma marca de camisas cheias de padrões coloridos, feitas em Bali com tecidos naturais.
“Nós queríamos ter um controlo apertado sobre a produção para garantir uma qualidade elevada nos acabamentos das nossas peças. Isto só seria possível se a fábrica estivesse localizada perto de nós”, começa por explicar Tiago à NiT. As hipóteses para as localizações eram duas: no Porto, onde mora, ou em Bali, onde está a viver o António há seis anos, com a mulher e os filhos.
Apesar de terem como primeira escolha fazer a produção no nosso País, perceberam rapidamente que não seria sustentável para o negócio, uma vez que não queriam encomendar quantidades em escala. “Marcas pequenas não encontram quem lhes confecione as suas pequenas coleções em Portugal ou, quando encontram, são forçadas a pagar uma margem tão grande da sua venda na confeção que o negócio deixa de ser viável”, contam.
Assim, viraram-se para o destino onde vive o António. Enquanto procurava o parceiro ideal em Bali para fazer as camisas, encontrou Wiwid, uma amiga balinesa de longa data que tinha uma pequena fábrica com meia dúzia de empregados e que já fazia a confeção de roupa à mão para algumas marcas de slow fashion australianas e canadianas. “Este encontro foi completamente aleatório e ideal ao mesmo tempo. Nós precisávamos de alguém em quem confiássemos que nos fizesse a produção e a Wiwid precisava de encomendas”, recordam os portugueses. A pequena unidade de produção estava parada devido à pandemia e os trabalhadores dependiam do negócio para viver.
A maioria dos materiais usados nas camisas são 100 por cento raiom. Esta fibra é feita a partir de polpa de madeira e outros vegetais. É o tecido favorito da dupla porque pode ser facilmente tingido, com a capacidade de ganhar cores fortes que outros materiais não têm. Além disso, usam botões de coco biodegradáveis, ecológicos e que, acrescentam, “combinam lindamente” com as camisas.
Todos as camisas são feitas com deadstock, isto é, um reaproveitamento daquilo que sobra de outras marcas. “No início do projeto, andámos durante horas a ver tecidos em feiras”, revelam, afirmando que a alternativa durante a pandemia são os formatos de venda de matérias-primas online, através das redes sociais. “Como compramos tecidos que ‘já existem’ acabamos por não desenhar os nossos próprios padrões”, acrescentam ainda, explicando que a variedade de estampados disponíveis é tão grande que é muito fácil encontrarem aquilo que procuram.
António estudou Turismo e Gestão de Empresas Turísticas na Universidade Lusófona do Porto. Já Tiago estudou Engenharia Mecânica na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. “Quando deixei de trabalhar como engenheiro técnico para fundar a EDIS Fashion (uma startup de moda que funciona como um marketplace para roupa feita à medida) lidei com imensas marcas, designers e profissionais da moda. Aprendi imenso sobre confeção de roupa e fiquei sempre com uma vontade de ter a minha própria marca. Sabia exatamente o que fazer. No entanto, estava na altura ocupado a desenvolver a plataforma e não tinha tempo para me dedicar a esse projeto”, recorda Tiago.
Foi em março deste ano que saiu da EDIS Fashion. Depois de ser imposto o confinamento, os projetos de turismo de António também abrandaram e os dois ficaram com o tempo livre de que precisavam para lançar a The Flying Dutchman. Agora, a marca de camisas está à venda através do site oficial e na conta de Instagram, além também da Dott.
Todas as propostas custam entre 39€ e 44€ e estão com uma promoção de 15 por cento de desconto até 18 de outubro. “Se compararmos com marcas que consideramos concorrentes, o nosso pricing é realmente bem mais competitivo. Conseguimos isto por usarmos tecidos deadstock. Queremos ser muito transparentes em relação a esta questão”, afirmam. Ao usarem este tipo de materiais, não precisam de contratar um designer para lhes fazer os padrões e o facto de os mesmos serem considerado “restos” da indústria ajuda a baixar os preços.
“Antes de entrar no mundo da moda, sabia que esta era uma indústria muito ‘suja’, particularmente a confeção de vestuário, mas não tinha noção dos números. Esta é a segunda maior poluidora do mundo, responsável por 20 por cento da poluição das águas industriais”, diz Tiago. Cientes desta realidade e da tendência do consumo sustentável, os dois amigos resolveram tentar contribuir para “um futuro mais verde e circular” ao criarem a The Flying Dutchman. Por só usarem tecidos reciclados, os modelos acabam por ser mais exclusivos, num máximo de 30 camisas por padrão. “É o compromisso perfeito. Nós adquirimos tecidos sem poluir mais o planeta, os aterros sanitários não ficam tão lotados e os nossos clientes compram uma camisa TFD exclusiva, feita à mão em Bali”.
Apesar de recente, a marca já tem um best seller nas propostas em animal print, uma linha que esgotaram em poucos dias. A ideia inicial era criarem uma marca para homem, mas uma evolução natural do projeto acabou por transformar as camisas em propostas unissexo, quando os amigos perceberam que as mulheres também as adoravam. Hoje, elas compõem 70 por cento dos seus clientes.
A seguir, carregue na galeria para conhecer melhor a The Flying Dutchman.