Se tem lá por casa um armário ou uma chaleira que já não lhe fazem falta mas que é incapaz de deitar ao lixo, pode despedir-se de vez desse dilema. No início de setembro, a plataforma Dar e Reutilizar chegou ao mercado com um objetivo muito nobre: ajudar os portugueses a oferecerem anonimamente os objetos que já não usam a quem mais precisa deles.
A ideia de Kristine Vuhta, de 40 anos, surgiu durante o confinamento. “Arrumei a casa e deparei-me com vários sacos à minha volta cheios de coisas que já não utilizo”, começa por explicar, acrescentando que sempre gostou de dar as coisas de que não precisa a alguém que possa aproveitá-las. “Na altura estávamos todos fechados em casa e tentei entregar estas coisas nos meios digitais. Reparei que não havia nada com o conceito que procurava e foi daí que nasceu a ideia da plataforma”, recorda em entrevista à NiT.
Na Dar e Reutilizar, criam-se anúncios com objetos que já não tenham uso para receberem uma segunda vida, assente num forte conceito solidário e ambiental, defensor de uma redução do consumismo e onde se apela aos consumidores para deixarem por lá aquilo que já não usam, mas levarem também aquilo de que precisam.
“A grande vantagem é que quem dá consegue encontrar dentro da plataforma a pessoa certa, que realmente está a necessitar do objeto e lhe vai dar uso, sem nenhuma das partes necessitar de se identificar. Tudo é tratado através do chat interno e privado. As pessoas combinam a forma que lhes for mais conveniente ou confortável para a entrega do artigo. Não menos importante é o facto de quem doa poder decidir a quem vai entregar”, revela a mentora do projeto.
Esta plataforma segue aquilo que descreve como um mindset “mais nórdico”, em que a reutilização já é um hábito adquirido no dia a dia das pessoas. A ideia da Dar e Reutilizar passa também por uma vontade de mudar mentalidades e promover a solidariedade. “As pessoas estão hoje mais sensibilizadas para a importância de deixarmos de ser tão consumistas e pensarmos mais no nosso ambiente, na reutilização e sustentabilidade e, consequentemente, numa vida mais saudável.”
Kristine Vuhta nasceu na Letónia e estudou Economia e Financial Management na Universidade de Business and Finance de Riga. A ela, juntaram-se ainda os portugueses Laura Martins, de 38 anos, e António Fontão, de 40, que têm vindo a desenvolver a plataforma de raiz ao longo dos últimos seis meses.
Quem quiser juntar-se a este movimento só precisa de criar uma conta no site, tirar uma fotografia ao objeto que quer oferecer, colocar uma breve descrição e esperar que um interessado entre em contacto. Já este tem de criar uma conta bimestral de 1,99€ para poder ter acesso aos contactos com os proprietários, que se mantêm sempre anónimos — é tudo gerido através do site da plataforma, onde podem combinar se a entrega será em mãos ou por correio.
“Fomos recebendo feedback de alguns utilizadores e começámos a sentir que se está a criar uma verdadeira comunidade de entreajuda para as mais variadas necessidades”, indica Kristine. Entre as histórias que já coleciona, há tecidos oferecidos a um casal e que vão servir de decoração no casamento, mas também muitos utilizadores que estão a mobilar a casa com a ajuda da Dar e Reutilizar.
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“Estamos muito satisfeitos porque temos artigos na plataforma que foram dados por algumas empresas, como uma fábrica de confeção — tecidos, roupas novas — ou um grupo hoteleiro que ofereceu móveis, peças de decoração e várias louças sanitárias e portas oferecidas por uma empresa de construção civil. Há inúmeras empresas que guardam nos seus armazéns o que há muitos anos já não usam ou vendem. Excedentes de produção, coleções anteriores ou peças com pequenos defeitos que o mercado não escoa, basta aproveitarem o que a plataforma oferece e dar uma segunda vida a estes artigos”, acrescenta.
Na Dar e Reutilizar, as opções são infinitas. Há 11 categorias de produtos — Bebé e Criança, Moda, Desporto, Lazer, Leitura, Aulas, Animais, Móveis, Casa e Jardim, Tecnologia e Outros (onde se inserem, por exemplo, capas de telemóvel, molduras e malas de viagem) — e centenas de artigos em ótimo estado que pode reutilizar em sua casa.
Para Kristine, este mindset tão natural nos países nórdicos começa, aos poucos, a ganhar o seu espaço no nosso País. “Estamos muito satisfeitos porque a cada dia entram mais e mais utilizadores na plataforma, que aproveitam para deixar as coisas que já não usam de uma forma muito confortável. E do mesmo modo há pessoas que aproveitam para levar o que realmente precisam. O mundo está a mudar e acreditamos que estes tempos são muito bons para relembrarmos que é necessário cuidarmos mais uns dos outros e do nosso meio ambiente”, conclui.
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