Durante demasiados anos, tudo o que era feito em Portugal acabava por ser encarado com desconfiança e desdém. No fundo, havia pouquíssima vontade em preservar tudo aquilo que, de uma forma ou de outra, representava a nossa identidade. Felizmente, com o passar do tempo, tudo isso foi mudando. São cada vez mais os portugueses— especialmente jovens e membros da Geração Y — que por uma razão ou outra começaram a olhar para tudo isto de uma nova forma.
Claro que esta mudança só foi possível graças ao trabalho de muitas marcas e lojas que se esforçaram para quebrar aquela toxicidade. E nesse grupo encontramos duas grandes responsáveis: a Portugal Manuel e d’A Vida Portuguesa, que se juntaram num espaço que une o melhor do passado e o presente do artesanato português, a Depozito. A loja abriu no dia 26 de novembro, em Arroios, Lisboa.
Foi preciso muito pouco tempo e uma grande dose de atrevimento para que este projeto ganhasse forma, conforme nos conta Filipa Belo, uma das parceiras deste projeto e fundadora da Portugal Manual. ”Foi assim, eu sou um bocadinho atrevida, e apesar de não conhecer a Catarina Portas, já acompanhávamos o trabalho uma da outra. Então, houve um domingo à noite em que eu estava aqui em Brasília, e por algum motivo, a Catarina apareceu no meu feed de Instagram — porque eu já a seguia — e então decidi escrever-lhe: ‘Então já fazíamos alguma coisa juntas’. E por incrível que pareça, ela viu a mensagem e respondeu-me: ‘Queria mesmo falar contigo Filipa, pode ser amanhã?’”, começa por revelar a empresária de 36 anos.
“Obviamente que eu respondi logo que sim. E nessa conversa que durou quase três horas, nós percebemos que estávamos alinhadas sobre os princípios e o que queríamos. A Catarina queria valorizar mais o artesanato tradicional. Só que para ela não fazia sentido fazê-lo dentro d’A Vida Portuguesa, e eu tinha esta vontade de juntar o tradicional com o contemporâneo, no mesmo espaço. Por isso, durante esta conversa que foi muito bonita, ela mostrou-me logo a loja. Passado um ou dois dias eu já tinha um email com as minhas ideias todas para o espaço de 400 metros quadrados”.
Por incrível que pareça, muito pouco tempo passou desde que esta conversa aconteceu até ao momento em que a Depozito foi inaugurada. O que só prova que as duas estavam realmente em sintonia. “A primeira conversa que tive com a Catarina Portas para criar a Depozito, foi em setembro, a primeira de todas. E em novembro, nós abrimos a Depozito.”
O objetivo era claro, esclarece-nos Filipa Belo: “Criarmos aqui um espaço onde as pessoas podem encontrar uma curadoria do artesanato contemporâneo com o artesanato tradicional”. Algo que as duas mulheres consideravam estar em falta no território nacional.
Foi precisamente isso que aconteceu. Agora, na Depozito, estas duas marcas encontram-se da mais perfeita das formas. Ainda que exista uma diferença entre ambas, feita através das lonas que se vão espalhando pela loja, fisicamente, não existe nenhuma barreira que as separe. Desta forma, todos os clientes podem divagar por estes dois universos do artesanato tradicional e contemporâneo, conhecendo um pouco melhor o que se faz em Portugal. Um percurso que é facilitado pelo staff especializado que lá trabalha.
São múltiplas as peças que se podem encontrar neste espaço cuidadosamente pensado. Vão desde a joalharia, à tapeçaria, passando pela roupa e sem esquecer, claro, os artistas e artesãos que lá estão presentes. Como é o caso de Susana Cereja, que faz uma leitura disruptiva da tapeçaria. Vale a pena conhecer também as peças de Maria Pratas, que, apesar de trabalhar na área da cestaria, procura construir tudo de uma forma mais escultórica.
O projeto da Depozito não quer ficar apenas por esta vertente comercial. Há, de facto, uma vontade de partilha e troca de conhecimento. Para isso, existem planos para, a partir da primavera, começarem a promover uma série de cursos livres, workshops, visitas e conversas onde os conhecimentos de todos se cruzem.
Carregue na galeria para ver mais imagens desta nova loja maravilhosa de Lisboa.