“Aceitei um trabalho que ia demorar três meses. Prolongou-se durante três anos.” As palavras são de Elisa Tavares que, após uma pausa para colaborar com uma ONG portuguesa de empoderamento feminino, reativou a sua marca de acessórios. O regresso da Mona Lili, no mês de janeiro, é marcado por “mais cor, respeito pelas pessoas e pelo planeta”.
Em 2019, a criadora de 41 anos passou a colaborar com uma ONG que opera Moçambique. Em conjunto com a Girl Move Academy, esteve a trabalhar ao lado de raparigas locais — do ensino básico às mestrandas. Todas as aprendizagens que acumulou estão a ser aplicadas agora no projeto, com uma direção bem vincada. Mas nem sempre foi assim.
Antes dos acessórios, a etiqueta vendia roupa infantil. E antes de trabalhar como designer, a criativa dedicou-se à publicidade. A história do projeto não é linear. Porém, há um elemento que se mantém desde o início: “Em criança, mais do que com a roupa, tinha uma relação muito particular com a cor”, conta à NiT.
Elisa Tavares recorda: “Lembro-me de ficar no jardim de infância à espera dos meus pais, as educadoras a arrumarem tudo e roubava os lápis de pintar. Depois, metia-me atrás dos móveis a desenhar nas paredes. Acho que foi aí que começou esta necessidade de criar um mundo meu, cheio de cor e sem fronteiras.”
Nesta fase, o caminho a seguir parecia óbvio: queria ser pintora ou designer. Foi quando se cruzou com um professor que a fez duvidar das suas competências que as ambições se tornaram ambíguas. Estava indecisa entre as letras e as artes, até que acabou a trabalhar em agências de publicidade.
“Comecei a questionar o que estava a fazer. Se temos de trabalhar até aos 70 anos, é suposto dar-nos prazer. Tinha 30 e pensei que não podia ser.” Entre o cansaço e a desilusão, decidiu despedir-se para concretizar sonhos antigos.
Um dos objetivos era fazer voluntariado, o outro era aprender a costurar. Nesse ano, foi para o Laos e para o Vietname e começou a colaborar, pela primeira vez, com organizações de empoderamento feminino. Decidiu, então, criar peças de roupa produzidas por artesãs locais.
O início da marca
Ao regressar a Lisboa, Elisa Tavares decide usar a experiência para desenhar coleções para si. Em 2016, apresentou a Mona Lili ao mercado, com propostas infantis: “Sentia que nunca me vesti como gostaria em criança. Queria ter uma estética diferente da oferta que existia no mercado”.
Apesar de fazer peças para um público dos 2 aos 12 anos, o lançamento correu tão bem que chegou ao público adulto. A criadora chegou a fazer roupa para sexagenários, que eram enviadas para outros países, como o Japão: “Era louca. Fazia linhas com mais de trinta modelos”.
As costureiras, espalhadas por Portugal, não conseguiam suportar a quantidade. Já a fundadora “tinha vontade de criar, mas uma estrutura que não comportava” e mudou de direção. Em 2018, passou a focar-se num nicho específico — os acessórios. Uma nova fase que foi interrompida pelo seu hiato, que começou no final de 2019.
Do voluntariado ao regresso
A pausa foi incentivada por se aperceber de que não queria trabalhar sozinha, sobretudo a tempo-inteiro. “O processo passava por muita produção e pouca criação. Sentia-me sozinha, fechada e frustrada, porque não tinha pessoas a criticar ou a apresentar novas perspetivas.”
Quando surgiu a oportunidade de se juntar à Academia de Liderança Feminina (Girl MOVE Academy), não hesitou. Foi desafiada a desenvolver a parte de estratégia de conteúdos e storytelling. A oferta fez sentido já que, um ano antes do hiato, trabalhou numa biblioteca itinerante que contava histórias a miúdos e idosos por Lisboa e onde o objectivo era recolher também as histórias das pessoas que viviam/habitavam nesses bairros.
Durante três anos, trabalhou com raparigas adolescentes e jovens mulheres (dos 13-30 anos) que, pelas mais diversas razões, enfrentavam várias ameaças à sua progressão nos estudos/carreira e que encontravam nos programas da Girl MOVE a possibilidade ativarem o seu potencial de changemaker e assim tornarem-se modelos de referência para outras jovens moçambicanas. Desta experiência resultou uma compilação com algumas destas histórias e a preparação de mais de 100 conversas com lideres internacionais.
No meio desta aventura, foi mãe e os medos “de estar a ser inconsequente”, ao reativar a marca, aumentaram. “Por outro lado, estive a trabalhar numa organização que mostrava que era possível lutarmos pelos nossos sonhos e amplificar os nossos talentos para um propósito maior e eu senti que tinha de finalmente aplicar isso à minha história de vida.”
A principal lição foi que precisa de trabalhar com pessoas, por isso, definiu um objetivo: fazer mais parcerias com outros criadores e, sempre que possível, trazer inovação aliada à sustentabilidade. Assim nasceu uma colaboração com a marca de bijuteria Romer, “que permitiu trazer a impressão 3D e os filamentos biodegradáveis”.
Um mês após o regresso, a Mona Lili conta com quatro modelos novos. Destaca-se uma totebag puffer com cores vibrantes e divertidas, por 63€, assim como uma clutch criada em conjunto com a Romer, incluindo os materiais sustentáveis e o conceito inovador, no valor de 50€.
A marca está ainda a vender um bucket hat reversível (38€), com pele vegana e forrada com um padrão desenhado de raiz, e uma fannypack XXL (55€). Depois do sucesso das fannypacks que conquistaram que conquistaram varias atrizes e cantoras (Inês Castel Branco, Blaya ou Rita Redshoes são algumas delas), a ideia foi oferecer uma versão maior. Onde, segundo Elisa, cabe um mundo.
“Quero lançar mais modelos e continuar a apostar em parcerias com outros artistas/marcas, de forma a tornar a oferta da marca muito mais dinâmica assim como o meu próprio processo criativo e desenvolvimento humano”, conclui. “ Quero trazer outras expressões, que normalmente estão nos livros ou nas paredes, para um universo wearable. Somos mais quando nos pomos em causa e melhores ainda quando juntamos talentos improváveis.”
A Mona Lili não tem site. No entanto, todos os pedidos podem ser feitos através da página de Instagram da marca, onde encontra os modelos. Carregue na galeria para os conhecer.