2002, rua do Parque Central, em frente aos Comandos da Amadora. Raphael Castilho e os amigos Ruben Nogueira, Emídio Silva e Nikita Gorev não falhavam um dia. Todas as tardes encontravam-se nessa zona para andar de skate. “Nessa altura não havia parques como agora. Criávamos os obstáculos e as rampas para podermos saltar e fazer acrobacias”, conta à NiT.
Os anos foram passando, as responsabilidades escolares aumentaram, mas o encontro quase diário manteve-se. “Éramos miúdos amadores completamente apaixonados pelos skates. Por isso, arranjávamos sempre forma de nos encontrarmos, nem que fossem 10 minutos”.
Em 2005, altura em que foi criado o YouTube, o grupo decidiu começar a filmar alguns vídeos. “A ideia era publicá-los para mais tarde recordarmos. O Emídio adorava filmar por isso criou um canal. Era lá que guardávamos tudo”, explica.
Mais ou menos na mesma altura, Raphael teve a ideia de desenharem T-shirts. “Estou ligado às artes desde miúdo. O meu pai, José Alves, é artista plástico e faz muitas coisas abstratas”. Foi, inclusive, esta a maior inspiração para as primeiras peças.
No início, o grupo não tinha como objetivo vendê-las. “Queríamos, acima de tudo, usá-las nos vídeos e que elas circulassem entre o nosso grupo de amigos. Mas começámos a publicar fotos no Facebook e o pessoal começou a querer comprá-las”.
Raphael começou a vendê-las por 20, 25€. Combinava tudo pela rede social e depois entregava as encomendas no skate parque, que entretanto fora construído.
Em 2012, com tudo ainda muito amador, o grupo de amigos foi contactado pela Fuel TV para fazer conteúdos para eles. “Disseram-nos que gostavam muito dos vídeos e da nossa forma de expressão. E convidaram-nos para fazermos uns vídeos a montar uns spots para andar de skate com coisas recicladas”.
A parceria foi um sucesso tal, que a Ericeira Surf Shop convidou-os para desenharem tábuas de skate. As peças estiveram durante um ano à venda nas lojas por todo o País.
Foi nessa altura, em 2014, que os skaters perceberam que estava na hora de criarem a própria marca. “Eu sempre quis ter um projeto meu. Falei com os meus amigos e eles aceitaram logo. Querer mais é bom e ser ambicioso é saudável”, conta Raphael.
Nasceu assim a Ementa. Porquê este nome? “Primeiro porque somos como uma família. Damo-nos todos desde muito novos. Depois porque sempre dissemos que ‘a nossa ementa era dormir, comer e andar de skate'”, explica.
A primeira coleção tinha sweatshirts e T-shirts (uma delas que mudava de cor conforme a temperatura do corpo). Além da venda online, a marca começou a vender para a Ericeira Surf Shop (novamente) e para outras lojas dedicadas ao surf. “Apostámos na produção 100% portuguesa. Trabalhamos com fábricas do Norte e também com uma do Sul do País. Os desenhos somos nós que os fazemos”.
Nós, diz o Raphael, são tantos quanto uma equipa de futebol. Uns desenham, outros tratam do marketing e da produção de vídeo. “Temos ainda vários amigos que são patrocinados pela marca em campeonatos nacionais”.
Até maio deste ano, a Ementa funcionou apenas online — e estava também à venda em lojas multimarcas. Raphael guardava as coleções todas em casa. “A certa altura, a minha mãe chamou-me e disse que não podia ser, que a nossa casa parecia um armazém. Então decidi procurar um armazém para guardar tudo”.
O jovem de 27 anos começou à procura do espaço, até que um amigo lhe disse que havia uma loja com dois andares para alugar perto da Praça da Alegria, em Lisboa. “Pensei que assim podia fazer o primeiro andar, com 25 metros quadrados, de armazém e a parte de baixo, com 30, de loja”.