No início do ano, Urânia Brasil percebeu que as linhas que tinha para bordar em casa já não chegavam. Foi quando decidiu, em conjunto com o namorado, Daniel Fernandes, comprar a antiga Retrosaria Gama, que existe há mais de 100 anos em Castelo Branco, e transformá-la num espaço único.
A artista, de 38 anos, quer manter as funções que o espaço tem há um século, mas vai transformá-lo também num atelier e loja para os retratos bordados que faz. Acredita, ainda, que a nova morada tem potencial para receber workshops ou até exposições com trabalhos de outros criativos.
“A ideia de adquirir este espaço surgiu porque já era cliente devido ao meu projeto”, começa por explicar à NiT. Quando soube que a retrosaria seria colocada para venda, não hesitou em comprá-la aos proprietários anteriores.
O nome mantém-se: Retrosaria Gama. Chama-se assim porque foi criada por um senhor chamado Martinho Gama, de Palvarinho, curiosamente a aldeia do namorado de Urânia. O segundo proprietário não o alterou e, agora, os terceiros responsáveis querem seguir a tradição.
A funcionar desde 29 de setembro, já reflete a visão que a artista tinha para o espaço. “Queria manter um pouco do estilo que tinha, mas adaptar para ser um projeto mais contemporâneo”, refere. Em parte, são os trabalhos feitos à mão pela atual proprietária que dão um novo élan ao sítio.
Ver esta publicação no Instagram
Como começaram os bordados
O projeto Urânia Design surgiu por volta de 2019, quando a fundadora ainda trabalhava como designer de têxteis para a marca Vilanova, no Porto. “Fazia muita pesquisa de tecidos para as minhas coleções. Na mesma altura, o bordado começou a ficar muito na moda com uma abordagem mais contemporânea”, explica.
Decidiu experimentar como hobby, mas o gosto começou a ficar cada vez mais forte. À medida que partilhava nas redes sociais, a popularidade daquilo que fazia cresceu até que começou a receber as primeiras encomendas. As pessoas queriam cada vez mais daqueles retratos.
“A certa altura, durante a pandemia, uma revista dinamarquesa fez um post sobre um trabalho meu. Tive um boom de encomendas”, conta a autodidata, que se inspirou muito nos bordados de Castelo Branco. Foi quando teve de decidir se continuava como designer de moda ou se regressava para a cidade onde nasceu. Decidiu dar esse passo.
Desde cedo, destacou-se pelo estilo de bordado “completamente diferente”. “No fundo, criei uma estética para representar caras que é muito semelhante ao cubismo. Tem linhas mais retas e um estilo que não é trabalhado por mais ninguém que eu conheça”, afirma. Além disso, recebe muitos elogios pela forma como mistura texturas ou como aplica diferentes materiais para criar estes retratos.
Além de criar imagens com as linhas, Urânia também usa cada vez mais aplicações como missangas, algo que não era tão comum quando começou. Como resultado, tem uma lista de espera que pode variar entre seis a 12 meses. “Como não trabalho oito horas por dia, vou conciliando com outros trabalhos e com a retrosaria. Atualmente, estou com as encomendas fechadas porque estou com lista de espera até ao próximo ano.”

O que vem aí
Foi em agosto que, após vários meses de debate, Urânia e Daniel compraram a retrosaria. “Inicialmente, achávamos que, no espaço de um fim de semana, se calhar conseguíamos dar um jeito e abrir”, diz. Não foi bem assim. “Passou uma semana e percebemos que não conseguíamos. Depois passámos o mês de setembro inteiro a arrumar, a limpar e a reorganizar tudo.”
Ultrapassada esta fase, têm agora um ponto dividido entre o atelier e a retrosaria. O casal optou por manter os fornecedores, “porque as coisas já estavam negociadas com o proprietário anterior”, acrescenta. “Estamos a dar prioridade aos que existiam, mas também a falar com outros e a produzir coisas novas.”
Antigamente, Urânia fazia tudo online. Trabalhava em casa, num atelier improvisado num dos quartos, mas sempre teve vontade de abrir um espaço para as pessoas entrarem e verem o que faz. “Havia muita curiosidade das pessoas em relação ao processo.”
Além disso, queria um local onde pudesse ensinar os outros e organizar alguns workshops. Já está a planear os primeiros, previstos para novembro, e acredita que terão muita saída. “Há espaços em Castelo Branco que fazem, mas quem me contacta quer aprender o tipo de bordado que faço.”
Depois, o objetivo é expor trabalhos de outros artistas, principalmente da área da arte têxtil, para promover “esse tipo de trabalho que é menos falado”, confessa. A ideia é que seja uma mostra rotativa e o mais completa possível.
Embora os pedidos estejam fechados, Urânia tem várias peças à venda no site da Etsy. Os preços dos bordados mais pequenos começam a partir dos 6,15€ e algumas maiores chegam aos 750€.
Carregue na galeria para ver alguns exemplos de trabalhos feitos pela artista.

LET'S ROCK







