Raquel Germano e Margarida Fêo e Torres, de 22 e 23 anos, conheceram-se há quatro anos, no primeiro dia de faculdade. Estavam as duas inscritas em Marketing e Publicidade no IADE, foram parar à mesma turma e deram-se logo bem. Tornaram-se amigas, mas dizem que não podiam ter feitios mais diferentes: “Costumamos dizer que uma é a calma que a agitação da outra precisa e vice-versa”, contam à NiT.
Daí até lançarem uma marca de roupa, bastou uma “daquelas conversas que limpam a alma”, em que falavam da segurança que uma peça de roupa pode dar a uma mulher. “Falámos sobre as preocupações e inseguranças que todas temos connosco e com os nossos corpos, sobre a pressão e preconceito”, recordam. O que concluíram foi que, por mais que condenem o julgamento no feminino, também elas já o fizeram.
Com a Everybodies, confecionam roupas que todos os corpos podem vestir. “Porque é a roupa que se deve adaptar a nós e nunca nós à roupa”, questionam. “Decidimos criar uma coleção de vestidos de cetim desenhados, desenvolvidos e pensados na especificidade dos corpos femininos e que, ao mesmo tempo, trabalhem a aceitação e normalização de cada detalhe das nossas curvas, sinais, marcas de nascença, seja o que for.”
Rapidamente perceberam que tinham muitas mulheres no seu núcleo com dificuldades em comprar vestidos em fast fashion. É por isso que todas as peças são feitas à medida. “O conceito da Everybodies é exatamente este, revolucionar a confiança das mulheres relativamente ao seu corpo através da criação de vestidos pensados em corpos reais, confecionados à mão e à medida de cada silhueta.”
A primeira coleção foi lançada a 7 de maio, depois de um mês em que estiveram presentes no Instagram sem produto, a criar uma comunidade. “Lançamos um questionário que teve mais de 500 respostas em menos de 24 horas, quisemos saber como as mulheres se descrevem, qual a maior insegurança sentida com o seu corpo e, a título de desabafo, pedimos que nos contassem um episódio em que tivessem sentido vergonha do mesmo.”
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O que receberam foram desabafos profundos, histórias que as deixaram arrepiadas. “Chorámos com algumas, revemo-nos noutras e percebemos que tínhamos na nossa posse confissões demasiado especiais.” Resolveram então organizar um live com uma psicóloga, Joana Gentil Martins, durante o qual falaram sobre algumas das confidências partilhadas nos questionários. Esse vídeo está guardado no perfil da Everybodies.
O processo de encomenda acontece através do Instagram, para que possam ter um contacto mais direto com as clientes e garantem que tratam cada uma delas com a individualidade que merece. “Tentamos ao máximo que esta experiência de compra seja o mais personalizável e completa possível.”
São as clientes que constroem os seus vestidos nos modelos de que mais gostam. Os primeiros quatro chamam-se Força, Liberdade, Confiança e Coragem, sendo estes correspondentes ao top quatro das palavras escolhidas nas respostas do questionário. Escolhido o modelo e o comprimento (que pode variar entre curto, midi, comprido e com ou sem racha), há oito cores alegres disponíveis, bem como ajustadores de alças em dourado ou prateado.
“Os vestidos são feitos à medida de cada cliente e nós ajudamos nas medições, ainda que tenhamos um guia nos nossos destaques a explicar como se procede. É um género de ir ao artesão como antigamente. Temos sempre em atenção a copa do soutien para que o peito fique confortável e o vestido assente que nem uma luva”, contam.
Todos os materiais, passando até pelo packaging, são 100 por cento produzidos em Portugal. Feitas as escolhas e os desenhos, que são as próprias que criam, enviam a encomenda para a modista e, no prazo de uma semana, o vestido é entregue às clientes, que se tornam oficialmente “Everybodies girls”.
Raquel e Margarida trabalham ambas em agências de publicidade e influência, respetivamente. A Everybodies é um projeto paralelo às oito horas de trabalho diário. Lançar a marca durante a pandemia ajudou-as a perceber que têm demasiada roupa, mas que é melhor ter algumas peças de qualidade do tê-las em grande quantidade. “A sustentabilidade no mundo da moda é um assunto muito importante para nós, somos cada vez mais apologistas de peças de boa qualidade, que durem mais tempo e que possamos usar de várias formas. É o que queremos com a marca.”
Os vestidos custam entre 54€ e 59€. Carregue na galeria para conhecer melhor este projeto.