João Catarino foi a primeira pessoa a chegar. Ainda faltava um quarto de hora para a abertura de portas da nova Zara do Rossio, agendada para as 10 horas, quando o criador de conteúdos, de 31 anos, vincou os pés na calçada do Rossio, com tudo o que precisava na vida: uma carteira em forma de pombo da J.W. Anderson e um smartphone. Atrás de si, uma pequena fila formava-se à entrada do edifício.
“Quero tentar gravar o espaço com o menor número de pessoas possível, mas já vi que vai ser difícil. Não estava à espera que viesse tanta gente para uma inauguração”, conta à NiT, rodeado por uma dezena de pessoas. “As expetativas estão altas porque é uma loja incrível num sítio lindo.”
A antecipação era ecoada pelos restantes curiosos. Com quatro andares e mais de cinco mil metros quadrados, o novo ponto de venda da marca espanhola foi inaugurado esta quinta-feira, 5 de setembro, na Praça D. Pedro V, em Lisboa. Trata-se de um conceito que junta coleções de vestuário, cosméticos e artigos para o lar da Zara Home. Trata-se da segunda maior loja da cadeia espanhola em todo o mundo.
Instalada no emblemático edifício que acolhia a Pastelaria Suíça, a novidade destaca-se logo pelo caráter singular do projeto de renovação do quarteirão histórico, denominado “Rossio Pombalino”, com assinatura do escritório de arquitetura Contacto Atlântico. A fachada é, por isso, o primeiro cartão de visita.
O relógio marcava as 10 horas quando os primeiros clientes foram recebidos pela luz forte e natural que invadia o espaço, graças às largas janelas que percorrem todo o edifício. É esta disposição que permite também ter uma vista desafogada para a Praça do Rossio, a partir dos andares superiores.
Do início do roteiro até ao final da visita, serão precisos cerca de 45 minutos para percorrer todos os andares. As coleções masculina e feminina ocupam os pisos 0, 1 e 2. No terceiro andar estão as propostas infantis de roupa e acessórios, da Zara Home e um corner de pastelaria chamado Zara by Castro. No total, trabalham por aqui cerca de 280 colaboradores.
Se algumas pessoas não sabiam o que esperar, o ator Paulo Vaganuno, de 19 anos, já tinha uma ideia. “Trabalhei na Zara e, pelo que fontes internas disseram, vamos ter peças únicas e criadas exclusivamente para o Rossio. Estou curioso para saber como vão transformar a identidade de Lisboa em peças de roupa”, confessa à NiT.
As coleções-cápsula de homem e mulher estão distribuídas pelo piso 0. E confirma-se: é na secção feminina — onde se concentra o maior número de pessoas — que surge um abrangente leque de peças especiais de festa, que muitas vezes não estão presentes no nosso País.
A mesma lógica aplica-se às peças masculinas. “Sinto que a parte de homem está muito formal em comparação com outras lojas Zara onde estive”, nota o enfermeiro João Marques, de 24 anos, outro dos visitantes. “Não adoro lojas enormes, porque me sinto sobrecarregado com tanta informação, mas vim pelo alarido todo. As expetativas estavam altas.”
Apesar dessa antecipação, a primeira manhã manteve-se calma, com uma circulação fluida entre os espaços — através de escadarias, escadas rolantes ou elevadores. Curiosamente, o inglês afirmou-se quase como a única língua falada entre os corredores, sobretudo por estrangeiros de meia-idade.
Olhó o pastel de nata quentinho
Uma das maiores novidades da super loja é um recanto, ainda no piso 0, com entrada pela Praça da Figueira, onde surge a pastelaria Zara by Castro. Trata-se de uma colaboração da marca do grupo Inditex com o atelier português especializado no fabrico de pastéis de nata, que criou um ambiente contemporâneo. Foi mesmo a grande atração desta manhã.
Nesta pastelaria contam-se três mesas, um balcão e um menu repleto, claro, do típico doce português. Por ali pode ainda beber um chocolate quente por 2,95€, um matcha latte por 2,95€ ou comer o tal pastel de nata por 1,60€, por exemplo.
Apesar do preçário perfeitamente visível, alguns clientes não prestaram atenção aos custos afixados e, após tomarem o pequeno-almoço, levantaram-se para seguir a jornada sem pagar. A distração foi logo apontada pelos funcionários que ali trabalham, que se apressaram a ir atrás dos visitantes mais distraídos.
Este conceito de juntar comida e roupa no mesmo espaço já existe em vários países, mas é a primeira vez que se vê algo do género numa Zara em Portugal. A pastelaria foi uma forma criativa de ocupar o espaço onde se encontrava a Manteigaria União, mantendo as linhas minimalistas e algum do mobiliário do edifício centenário. Em breve, vai incluir ainda uma esplanada.
A herança histórica daquela casa é notada em todos os pisos. Dos frescos recuperados aos recantos que funcionavam como lareiras, passando pelos elevadores em ferro, tudo foi incorporado na experiência de loja com os detalhes pensados ao pormenor.
No piso 1, encontram-se as coleções mais informais, incluindo as linhas de denim e de equipamento desportivo, no caso masculino, e as peças a pensar no dia a dia das mulheres. A surpresa? Uma coleção de lingerie da Zara que surge num cenário estilo boudoir que chama à atenção por destoar do resto da decoração.
No segundo andar, além da oferta de roupa mais jovem, os protagonistas são os acessórios, como os sapatos e as carteiras para senhora, assim como uma área de beleza com mostradores cheios de propostas de maquilhagem.
A grande aposta desta nova Zara, contudo, é a tecnologia que une as compras físicas e online. Ainda no mesmo piso, existe uma zona de entrega de encomendas, várias caixas self-service (espalhadas por toda a loja) e um ecrã tátil que permite o scan através do código QR code para imprimir etiquetas e deixar as peças que quer devolver, de forma totalmente autónoma.
Contam-se ainda cerca de 32 provadores inteligentes. As caixas de pagamento estão mesmo ao lado — outra combinação que gerou curiosidade entre todos os presentes. Paulo contou à NiT que foi cedo “para ver a loja limpinha, antes das pessoas desarrumarem tudo” e a verdade é que a área dos provadores se manteve intacta durante a manhã.
As últimas escadas levam-nos até ao terceiro piso que, entre roupa infantil e artigos para a casa, criou um verdadeiro cenário de lar. Um mural do artista Bruno Grizo, com azulejos Viúva Lamego, recebe-nos antes de conhecermos esta planta, divisão a divisão: a sala de jantar, a cozinha, um quarto e uma banheira com vista para a Praça do Rossio.
Já os miúdos vão encontrar uma zona de playground onde podem brincar à vontade, enquanto os pais fazem as suas compras. Porém, no primeiro dia, manteve-se uma espécie de segredo ainda guardado, visto que foi o público mais adulto e sem filhos que apareceu para conhecer os 12 mil metros quadrados de uma das maiores novidades do ano em Lisboa.
Terminada a longa viagem, ainda há tempo para admirar, a partir das janelas, o resto do quarteirão do Rossio Pombalino, que recebeu aprovação da Câmara Municipal de Lisboa em 2023. A conclusão do enorme empreendimento estava prevista para setembro de 2023, mas o prazo foi adiado em 12 meses.
A nova loja está aberta todos os dias, de segunda-feira a sábado, das 10 às 20 horas; e aos domingos e feriados, das 11 às 20 horas.
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