Quem passa à frente da porta número 82 da rua Garrett, no Chiado, não imagina que o espaço reúne cerca de 150 anos de história sob a forma de fragrâncias. A Granado voltou a atravessar o Atlântico e, no dia 5 de dezembro, instalou-se no Chiado, onde o ambiente tropical sobressai de imediato.
A marca iniciou a internacionalização em 2013, ano em que rumou a Paris. Quase dez anos depois, o conceito chega finalmente a Portugal. A mudança começou a ser planeada bem antes da abertura em nome próprio: os produtos da marca já podiam ser comprados na Casa Pau-Brasil, no Príncipe Real.
“O plano inicial era abrir a boutique em 2020, quando comemorámos os 150 anos da marca, e até viemos a Lisboa. Fizemos um evento como pontapé de saída”, conta à NiT Sissi Freeman, diretora de marketing da Granado. “Com a pandemia, foi preciso esperar um pouco mais, mas por conta disso achámos um local maravilhoso no Chiado”.
Procuravam uma localização com muita circulação pedonal, que permitisse a portugueses e turistas descobrirem a Granado de forma orgânica. O Chiado, um bairro tradicional até na arquitetura, aproxima-se do ADN da marca que é, também ela, virada para a tradição. A inauguração é uma espécie de regresso às origens. A empresa foi fundada por um português, em 1860, que se mudou para o Rio de Janeiro. Manteve-se três gerações na mesma família com membros descendentes de José António Coxito Granado, natural de Escalhão (no concelho de Figueira de Castelo Rodrigo, na Guarda): “Sempre tivemos vontade de abrir em Portugal por conta dessas raízes”.
Em 1994, a Granado passou a ser propriedade de um empresário que adquiriu a insígnia, o britânico Christopher Freeman. No entanto, pouco mudou na essência de um negócio que se procura distanciar dos produtos de farmácia.

“A nossa loja é a primeira da Europa com um conceito de perfumaria que explora plantas, flores e extratos usados nas fragrâncias tradicionais brasileiras. Sempre com um olhar diferente”, acrescenta. A oferta inclui velas, sabonetes, difusores, colónias e até cremes virados para os aromas mais fortes e intensos, que costumam fazer mais sucesso em locais mais frios.
Sissi destaca as linhas Bossa e Carioca, uma espécie de postais do Rio de Janeiro, como alguns dos bestsellers: “São clássicos”, afirma. No caso da segunda, “foi criada quando viemos para a Europa há oito anos, ainda não existia no Brasil. Foi lançada em homenagem ao Chá Carioca e é inspirada na vegetação e nos espaços verdes do Rio”.
As fórmulas de cada uma das fragrâncias incluem muitos ingredientes naturais brasileiros, como a tonca, a baunilha, o caju ou a magnólia. “Tentamos mostrar uma perfumaria tropical, mas com um pouco de tradição”, já que o Brasil, o país da Amazónia, destaca-se pela sua riqueza natural. Com isto em mente, a Granado trabalha com fornecedores locais de forma a garantir a qualidade e a ajudar estas comunidades.
A arte das embalagens
A junção da tradição e da modernidade é visível tanto no packaging, como na decoração. No primeiro caso, os designs são resgatados do acervo da empresa e editadas de uma forma mais contemporânea, com o apoio de mais de 20 designers brasileiros que fazem ilustrações baseadas no passado da marca centenária.
Já o design de interiores, assinado pelo estúdio Ouriço Arquitetura e Design, explora a mesma identidade tropical. Ao contrário das lojas brasileiras e francesa, com armários artigos da década de 70, Sissi chama à atenção para “um piso hidráulico preto e branco que remete para as pedras portuguesas” e para o teto do espaço, estampado com flores usadas nos perfumes, uma obra do artista Gabriel Azevedo.
Da fachada exterior até ao espaço de dentro, predomina o verde, a cor institucional da insígnia e que remete para a protagonista das fragrâncias. Falamos, claro, da natureza. “Quando se olha para a loja da parte de fora, ela desperta logo curiosidade”.
No fundo do espaço, é possível explorar a história da empresa. “A loja tem um armário com imagens que retratam o passado da Granado. Temos uma fotografia da família no Brasil e até imagens de vários chás cariocas. Procuramos mostrar um pouco da nossa evolução”, conclui Sissi.
Se visitar a loja em Lisboa, no Chiado, encontra produtos entre os 7€, no caso de alguns sabonetes, e os 120€, quando falamos de perfumes especiais. Pode conhecer o espaço de segunda-feira a sábado, das 10 às 20 horas, e entre as 10 e as 19 horas de domingo.
Carregue na galeria para ficar a conhecer melhor a Granado, a nova perfumaria de Lisboa.