Lojas e marcas

H&M e Zara acusadas de usar “algodão sujo” ligado a desflorestação e corrupção

Novo relatório acusa as gigantes da moda de se apropriarem do Cerrado brasileiro. As marcas já comentaram o caso.
As denúncias aumentam.

As roupas, toalhas e lençóis de algodão de gigantes como a H&M e a Zara estão a ser associados a desflorestação ilegal, corrupção e violações dos direitos humanos no Brasil. As acusações foram feitas numa investigação divulgada esta quinta-feira, 11 de abril, pela organização não-governamental britânica Earthsight.

Ao todo, foram detetadas 800 mil toneladas da matéria-prima das duas marcas em propriedades sul-americanas, onde é comum a apropriação de terras e o uso de violência. É o que acontece sobretudo na região Oeste da Baía, onde se o cenário de desmatamento se tem agravado, adianta o documento “Crimes na Moda — A Ligação dos Gigantes do Retalho Europeu ao Algodão Sujo Brasileiro”.

Após cultivado, o algodão é exportado para várias fábricas têxteis na Ásia (em países como a Indonésia, o Paquistão ou o Bangladesh) que, em média, produzem cerca de 250 milhões de peças de vestuário e artigos para a casa no espaço de um ano. Após transformado, o material é vendido sobretudo no mercado Europeu.

“O Brasil é o segundo maior exportador de algodão do mundo, quase todo cultivado no cerrado, vinculado ao desmatamento de milhares de hectares de terra, ao consumo insustentável de água, ao uso excessivo de produtos agro-tóxicos muito nocivos ao meio ambiente e à saúde de comunidades locais”, afirmou diretor adjunto da Earthsight, citado pelo “Público”.

Embora “contaminado”, trata-se de um material certificado pela organização sem fins lucrativos Better Cotton (BC), segundo a Earthside. A entidade disse à Earthside que “contratou um auditor independente para efetuar visitas de verificação reforçadas”, no seguimento do relatório onde é questionada a origem ética do produto.

“Levamos muito a sério as acusações contra a Better Cotton, que proíbe estritamente práticas como a usurpação de terras e a desflorestação nas suas especificações”, declarou a Inditex, detentora da Zara, citada pelo “Dinheiro Vivo”. A multinacional já pediu os resultados da investigação “o mais rapidamente possível.”

“As conclusões do relatório da Earthsight são muito preocupantes e levamo-las muito a sério”, acrescentou a H&M, reforçando que foi “um dos primeiros a mudar para algodão 100% orgânico, reciclado ou de origem sustentável” e que estava a “seguir as conclusões da investigação.

A produção acontece no Cerrado brasileiro que, ao contrário da Amazónia, é alvo de menos atenção face a esta exploração. O bioma cobre 22 por cento do território e é o habitat de 161 espécies de mamíferos, muitas delas em vias de extinção. A desflorestação tem aumentado ao longo dos anos e, em 2023, a área desmatada foi de 7828,2 quilómetros quadrados.

Estima-se que, em 2023, o Brasil ultrapasse os EUA como o maior exportador de algodão do mundo, conclui o documento. Com o longo historial de processos judiciais e casos de corrupção e apropriação indevida destas fazendas de algodão, aponta-se ainda o declínio das comunidades tradicionais graças à intimidação e roubo de gado.

“Todos os anos, milhares de milhões de litros de água doce são desviados para campos de algodão, que são encharcados com 600 milhões de litros dos pesticidas mais venenosos”, reforça a ONG, que deixa ainda outra denúncia sobre o efeito deste problema no aumento do efeito de estufa e das alterações climáticas.

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