Os dias de Ana Seixas começam, muitas vezes, com passeios pela natureza. Quando dá por si rodeada pelo rio e por dezenas das suas plantas favoritas, como hibisco ou camomila, colhe algumas das flores que não só a inspiram, como são usadas diretamente para criar peças de roupa.
Geralmente, a criativa de 38 anos demora cerca de uma semana a encontrar todas as espécies que, mais tarde, revelam a paleta de cores das suas próximas criações. Pelo meio, vai preparando o tecido que será tingido, de forma 100 por cento orgânica, com estas cores.
O resultado está visível na primeira coleção da Lírio, uma nova marca nacional, lançada em abril, que segue a filosofia do luxo sustentável. Todas as peças — que vão dos conjuntos aos vestidos — seguem linhas simples e intemporais com o objetivo de oferecer propostas que transcendem as tendências.
“Trabalho uma moda que se foca na celebração do feminino”, revela à NiT a fundadora, que acredita que essa força está presente na fluidez. “Escolho modelos que são soltos e leves para expressar liberdade. Não há nenhuma silhueta marcada na cintura, porque essa feminilidade surge através da graça.”
Já a impressão botânica é usada para “encontrar um sentido de equilíbrio” na indústria. “A ideia era que, quando banhasse os tecidos, as peças carregassem a energia das flores”, acrescenta sobre as peças meticulosamente tingidas e bordadas, “através de rituais e técnicas artesanais”.
A cada coleção, Ana pretende apostar não só em novas técnicas, mas também em diferentes formas de tingir os modelos. Aquilo que não irá mudar é a priorização de materiais naturais e certificados, como a seda, a lã, o linho ou o algodão, por exemplo.

Esta relação está presente no nome do projeto, que faz referência a uma flor que, segundo a criadora, “simboliza beleza, paz e maternidade”, assim como “a procura por elevação espiritual”. Essa “combinação entre delicadeza e profundidade”, sublinha, “convida ao reencontro com o sagrado feminino e com a beleza que nasce da simplicidade”.
A Lírio oferece ainda um serviço de peças feitas à medida, oferecendo uma forma dos clientes darem novos propósitos às flores de que mais gostam. Seja para um casamento, um evento especial ou em memória de um familiar, Ana transforma pétalas em obras de arte através da eco-impressão.
Este projeto une as duas paixões da fundadora, que começou por se formar em design de moda, no Brasil, onde nasceu. Filha de mãe portuguesa e pai brasileiro, trabalhou vários anos numa marca de moda até que, em 2011, se mudou para a Europa e começou a seguir um percurso voltado para as artes.
Ainda morou alguns anos em Itália, onde foi responsável por algumas instalações artísticas, mas foi no nosso País que terminou os estudos. “Quando o meu filho nasceu, senti necessidade de voltar às minhas origens e fazer esta marca acontecer. Sentia-me pronta para juntar estas duas áreas.”
Desde o início, sabia que a produção seria orgânica e feita em Portugal, mais precisamente no Porto, onde mora. Os tecidos surgem de vários países da União Europeia, mas a confeção é sempre feita por uma costureira local, em pequenas quantidades, “com um acabamento superior, artesanal e com costuras de borracha”, explica Ana.
Sem perder a exclusividade, a designer quer não só aumentar a oferta da marca, como ter a coleção principal disponível em mais pontos de venda físico. Porém, confessa que o caminho estará sempre na internacionalização do negócio — “e, quem sabe, com a chegada a alguma semana da moda”, conclui.
A coleção principal da Lírio está disponível no site da marca, dividida por tecidos. O preço das peças começa nos 170€ e os valores podem chegar aos 930€.