Aos 60 anos, Manuela Saldanha ainda tem uma energia que parece fazer mover montanhas. Em conjunto com os irmãos, é administradora da Loja das Meias com os pelouros financeiro e de marketing, mas explica à NiT que o primeiro faz por obrigação e o segundo com o coração.
Entrou no negócio que está há quatro gerações na família com “20 e poucos anos” a convite do pai, Pedro Costa, e esteve presente em alguns dos momentos mais marcantes, entre eles a inauguração da loja no Amoreiras Shopping Center, que celebrou esta quarta-feira, 30 de setembro, 35 anos desde que abriu portas. A Loja das Meias é um dos espaços que lá se mantêm desde o primeiro dia.
“A ideia foi do meu pai. Ele disse-nos ‘vamos para as Amoreiras, é o centro do futuro.’ A loja foi evoluindo ao longo dos anos, de modo a irmos de encontro aos nossos clientes. Ainda é hoje considerada um ponto de referência do centro”, refere Manuela com orgulho.
Há cerca de quatro anos, fizeram obras para adaptarem este espaço àquilo que consideram que é “a procura da nova geração”. Colocaram meios mais tecnológicos, ofertas mais modernas e, assegura Manuela, estão sempre com atenção àquilo que o mercado procura. Só assim é possível a um negócio ser rentável passados 100 anos desde a sua fundação.
A Loja das Meias foi um dos primeiros espaços no nosso País a trazer o mercado de luxo à capital. Foi criada em 1905, no Rossio, e especializava-se em vender espartilhos e meias. O bisavô de Manuela e dos seus irmãos, também de nome Pedro Costa, foi um dos três funcionários da loja que herdou o negócio depois da morte do anterior dono, que não tinha quaisquer descendentes.
“O meu bisavô era uma pessoa fora de série. Veio para Lisboa de Alhos Vedros e começou logo a trabalhar e a estudar comércio. Evoluiu dentro da Loja das Meias do Rossio e, pelo mérito que teve, ficou com a empresa. Ele comprou as partes dos outros sócios e acabou por ficar ele o único sócio da Loja das Meias”, conta.
Com a passagem dos anos, Pedro Costa focou-se na evolução e modernização constante do negócio. Levava a família em viagens a Londres e Paris e é recordado como uma “pessoa extraordinária”. Além de ter um interesse enorme pelo mercado de luxo, era também apaixonado por antiguidades, um mundo onde se tornou numa personalidade de referência no nosso País.
Com o passar dos anos, a Loja das Meias foi-se expandindo: nos anos 70, abriu o espaço na Rua Castilho e nos 80 surgiu a loja das Amoreiras, projetada pelo arquiteto Carlos Tojal. Ainda é no mesmo espaço do piso 2 que se mantém, passados 35 anos. No entanto, destaca-se também a chegada da marca a Cascais, em 2005, e as aberturas mais recentes, em Maputo, Moçambique, em 2015, e na Avenida da Liberdade, em 2016.
Manuela Saldanha é formada em Gestão de Empresas com especialização em Marketing. Começou a carreira na Price Waterhouse — hoje, PwC — onde ganhou “uma noção muito grande e muito vasta do mundo dos negócios”. Mais tarde foi chamada pelo pai para se juntar ao negócio de família para ajudar com a parte financeira, mas o que a encantou foi o lado criativo e o seu “bichinho pela moda” que tornou toda a experiência “completamente irresistível”.
“Quando entrei, foquei-me em toda a parte do marketing, que não estava a ser trabalhada. Explorei com muito entusiasmo e vontade de saber o que se fazia de melhor no mundo inteiro para adaptar cá”, recorda. “Todas as empresas, sejam de moda ou de restauração, têm de satisfazer o cliente e ir de encontro àquilo que ele quer. Ao longo destes mais de 100 anos soubemos aproveitar e gerir aquilo que a moda tem de melhor”.
Dior, Estée Lauder, Givenchy, Chiara Ferragni, Marc Jacobs, Off White, Tod’s, Stella McCarthney, Michael Kors e Alberta Ferreti são alguns dos nomes de referência da indústria de luxo que vai encontrar nos espaços, mas também no site da empresa.
Sobre o impacto da pandemia no negócio, Manuela reforça que este é um período “complexo e difícil”. “Queremos proteger os nossos colaboradores e os nossos clientes, é uma obrigação e um dever”. Assim, na passada quarta-feira não houve a típica festa para celebrar os 35 anos do Amoreiras. A Loja das Meias recebeu os clientes com horas marcadas e ofereceu alguns mimos e descontos, mas sempre com o cuidado de não apelar a ajuntamentos.