Após vários anos a trabalhar numa galeria de arte, em Paris, Samantha Sellem foi diagnosticada com cancro da mama, em 2021. Naquele momento, soube que queria mudar de vida e de cidade. A criativa chegou ao pé dos filhos e, quando lhes perguntou onde é que gostariam de viver, os miúdos não hesitaram. “Disseram logo o Dubai, porque era o que estava na moda na altura”, confessa à NiT.
Volvidos dois anos e recuperada da doença, estava na altura de voltar para Europa, mas não para o país onde nasceu. Só precisou de umas férias em Lisboa para perceber que era no nosso País onde queria estar. Entre a proximidade do mar e o clima ameno, sentiu-se motivada a comprar um apartamento e a mudar-se com a família para a capital portuguesa.
Entretanto, surgiu outro dilema: qual seria o próximo passo? Samanta não queria voltar a trabalhar com arte moderna, dada a falta de oportunidades. Além disso, “era algo que fazia há muito tempo e precisava de mudar”.
“Investiguei o que faltava por cá e tornou-se claro para mim que havia muitos criadores, mas poucas marcas de artistas internacionais”, explica a empresária de 46 anos.
Quando abriu a Mercy, em fevereiro, encontrou a resposta. Situada, no Chiado, a concept store tornou-se um ponto de encontro entre moda, beleza e uma nova forma de olhar para a arte. “Trouxe todos os designers e os cosméticos que adoro de Paris, Londres e de outras cidades europeias. Fiz uma parceria com uma galeria de arte para trazer marcas de todo o mundo”.
O nome escolhido para o espaço é um reflexo das batalhas da fundadora, que esteve quatro meses “entre a vida e a morte”.
“Mercy [misericórdia] é como um agradecimento pela oportunidade que ganhei de ter uma segunda vida”, acrescenta.
Quem entra no espaço, encontra uma série de propostas arrojadas de etiquetas como a Mira Mikati, a Paaolina, a Perrotin Store, a Arizona Love ou a Rose Carmine. Destacam-se os conjuntos coloridos, os acessórios feitos à mão e uma mostra de peças que juntam o antigo e o moderno. Num dos corners, o destaque vai para os produtos de beleza.
A arte não está presente apenas nas criações expostas nos charriots. Há vários cartazes e quadros referentes a artistas nas paredes, sofás de autor e sinais de néon com palavras-chave que remetem para o conceito da loja, como “joy”, “trust” ou “art”. A decoração foi executada com o olho de quem passou mais de duas décadas a trabalhar na curadoria de exposições numa galeria.
“Sei que a moda atual é muito boémia, mas não é esse o meu mundo. Decidi fazer algo muito acolhedor, mas com bastante design porque é esse o meu background”, aponta. “Tentei fazer algo diferente porque não é interessante fazer algo que já se encontra noutro lado. Tinha que ter a minha assinatura.”
Apesar da decoração chamativa, a loja encontra-se escondida na Baixa lisboeta. Não há uma grande janela que desvende o interior — apenas uma pequena porta. Assim que se entra, há duas salas, para navegar entre a mostra sem que ninguém veja a partir do exterior. “Não queria ter muita gente, porque prefiro conversar com as pessoas e explicar a minha missão aqui.”
A localização é central, mas Samantha está numa rua onde passam poucos turistas. Ainda assim, a fundadora ficou surpreendida quando percebeu que tem tantos ou mais clientes portugueses a visitá-la e a elogiar o canto que criou na cidade. “Mostra que faltava uma proposta entre o grande luxo e as marcas simples.”
A loja recebe novidades de forma quinzenal, por isso, há sempre motivos para os clientes regressarem. O objetivo passa ainda por ter marcas novas em cada estação para abranger um público cada vez maior.
“Estou aqui para ajudar os criadores a serem conhecidos e apreciados”, conclui, sublinhando o desejo de abrir outro ponto nas redondezas dedicado apenas a decoração a design.
Os preços das peças na Mercy variam entre os 15€ e os 150€. Carregue na galeria para ver mais fotos do espaço e conhecer melhor o conceito.