Usar peças de roupa associadas a memórias afetivas é uma forma de valorizarmos — muito além do preço — o que temos no armário. Dos modelos intemporais, que usávamos nos dias felizes da infância a outros que foram surgindo ao longo do nosso crescimento. Muitos não chegam a passar verdadeiramente de moda e sempre que o desejo de revivermos esses tempos surge, acabamos por voltar a usá-los.
A marca portuguesa Myôô lançou-se no mercado no dia 1 de maio com catálogo com muito valor afetivo. Joana Amaral Craveiro, 35, e Cristina Craveiro, 33, são irmãs e ambas arquitetas de formação. Partindo da ligação fraterna que as une, lançaram um projeto que remete para não só para a infância, mas para a ligação entre pais e filhos.
Em miúdas as duas irmãs eram vestidas pela mãe com modelos iguais de jardineiras, que acabaram por se tornar peças marcantes na vida de ambas. “Acompanharam-nos desde a infância até à adolescência. Depois, também na idade adulta, durante a gravidez, e na infância dos nossos filhos,” conta Joana à NiT. “Acabou por ser uma peça intemporal e presente em todo o nosso percurso até hoje”.
Foi precisamente a maternidade que as fez perceber que esse seria o ponto de partida do projeto, criando também opções para os mais novos e para os adultos. Compreenderam que existe alguma falta deste tipo de oferta em Portugal, o ponto-chave que as fez ir mais além.
Pesquisaram a história das jardineiras e descobriram que surgiram como uma indumentária de trabalho durante a revolução industrial, até ao seu papel no reajuste da moda durante a II Guerra Mundial. Esta pesquisa motivou-as a apurar um conceito pouco explorado em Portugal.
“Queríamos criar uma marca de peças que se vistam por inteiro, ou seja, dos pés à cabeça”, acrescenta. Ou seja, não é um negócio exclusivo de jardineiras, porque o conceito também pode contemplar macacões ou bodies, por exemplo, peças que se consigam vestir de uma só vez. No entanto, estas foram o ponto de partida escolhido para a primeira coleção. Esta ideia e o próprio nome remetem para o termo “maillot”, que surgiu nos anos 20 e se refere a uma peça de roupa feminina, feita em malha, e que também se vestia por inteiro.
Enquanto não exploram outros produtos, lançaram jardineiras que procuram transparecer uma aparência relaxada e capazes de acompanharem as experiências do dia a dia, sempre de forma orgânica e descontraída. “A nossa marca chama-se Myyô: Collecting Memories. No fundo, é um recoletar de memórias diárias associadas aquela peça.”
Neste sentido, os modelos fazem referência a dois jogos tradicionais da infância, o tira-rapa-põe ou deixa; e o pé-de-galinha, duas memórias que se acrescentam às diversas formas como as duas fundadoras querem aproximar os clientes de tempos felizes.
No caso da coleção intitulada de Écotono, um termo presente na biologia, está expressa a dualidade: “[Écotono] é uma transição entre dois temas ecológicos, entre a água e a terra, entre a terra e o ar. No fundo, o espaço entre estes dois sistemas é um espaço que ganha a identidade dos dois”, sublinha. “Queríamos que a Myyô fosse assim: vai buscar a identidade de Portugal e a tradição e, por outro lado, as vivências e as experiências pessoais”.
No caso do modelo de ganga, existe a particularidade de, só com umas calças, ser possível fazer várias combinações de alças. Confecionadas em elástico de poliamida, as peças acompanham o crescimento da criança, assim como se adaptam a corpos adultos, nomeadamente durante a gravidez.
“Como arquitetas e mães, temos uma tendência para ter uma visão ecológica sobre a produção. Tudo o que fazemos tem impacto no mundo e, por isso, se fizermos uma só peça que consiga ter várias utilizações, é uma mais-valia”.
A marca fica situada no Porto, sendo que, em termos de produção, todas as fábricas são situadas no norte do País. É em zonas como Famalicão, onde existe uma grande concentração de produção têxtil, que estão os fornecedores e os fabricantes. Esta localização geográfica “fez com que fosse muito mais fácil a gestação da confeção e da vistoria”.
Apesar do breve tempo de vida da marca, pouco mais de um mês, vários modelos já esgotaram. A aceitação tem sido positiva, e o negócio está a tentar que várias pessoas da esfera pública também adiram às jardineiras. “Já estamos a encomendar novos modelos”, conclui Joana. “Penso que vamos surpreender em breve e já vêm mais tipos de jardineiras a caminho.”
Pode conhecer mais sobre a Myyô no site oficial da marca, onde também é possível comprar os modelos. O valor das jardineiras é de 90€, no caso dos modelos para adultos, e 70€ os dos mais pequenos. No caso dos miúdos, os tamanhos vão dos 2 aos 14 anos. Carregue na galeria para descobrir a coleção.