Nos últimos anos, as opções veganas têm ido além das dietas alimentares e estendem-se a áreas como a moda, a beleza e a decoração. Atualmente, as alternativas sintéticas e orgânicas a matérias-primas animais, mas nem sempre foi assim. Entre os pioneiros que ajudaram a normalizar o uso destes materiais na indústria do calçado está a marca portuguesa NAE Vegan Shoes, que assinala 15 anos em janeiro.
Criado em 2008, quando o tema ainda não era tão debatido, a etiqueta nasceu de uma necessidade pessoal de Paula Pérez, de 49 anos. “Não queria usar sapatos de couro e era desafiante comprar peças que eu achasse giras e que combinassem o meu estilo de vida”, conta à NiT.
Embora não tivesse formação ligada à moda, visto que trabalhava como gestão de informação, decidiu desafiar-se não só a si própria, enquanto empreendedora, mas também ao marido. Alex Pérez, atualmente com 50 anos, não hesitou e juntos desenvolveram um projeto que se está a tornar num símbolo de longevidade.
Por um lado, o casal viu na força da produção portuguesa, a nível do calçado, um motor para arrancarem com o negócio. Ainda assim, sabiam que não ia ser fácil integrar-se no mercado, pela disrupção de fazer sapatos que não eram feitos de couro, “um material muito relevante no setor”.
Na altura, não existindo tantas alternativas, era mais complicado cumprir com a missão de encontrar materiais sustentáveis que não envolvessem a vida animal. Paula frisa que, nos últimos cinco anos, foram muitas as transformações às quais assistiu.
“Quando começámos, podíamos usar aquilo que é a microfibra, uma mistura de têxteis resistentes muito semelhante ao couro”, recorda. “Não é qualquer material que serve e, não sendo um têxtil sintético, era um material mais robusto”.
Desde então, estiveram sempre atentos ao mercado para acompanhar as alternativas que surgiam. Um desses exemplos é o piñatex, feito de folhas de ananás, que usavam em conjunto com o algodão orgânico, a cortiça “muito portuguesa” e materiais reciclados feitos com garrafas de plástico.
Recentemente, também introduziram têxteis como a corn leather e a apple leather, fibras que contam com componentes de milho e maçã. Sempre com certificação GRS (Global Recycled Standard), que confere a segurança no trabalho.
Para conseguirem transformar estas matérias-primas nos produtos que se tornam bestsellers, Paula e Alex trabalham em várias fábricas no norte do País, que concretizam os desenhos idealizados pelo casal internamente. No entanto, se hoje as suas ideias não são questionadas, nem sempre foi assim.
Paula recorda: “Na altura, as fábricas achavam que éramos doidos. Mas como aconteceu uma grande crise e queriam novos projetos, surfámos essa oportunidade. Nós pedíamos quantidades pequenas, o que hoje em dia é impossível, mas precisavam de coisas novas para andar para a frente”.
Com duas fábricas na zona de São João da Madeira, o casal conseguiu avançar. E, apesar do ceticismo, encontraram um público interessado nos sapatos que vendiam. Além da certeza de que existiria um público vegano, também contavam com pessoas interessadas em fazer escolhas mais conscientes, o que é transversal a todo o mundo.
“Tivemos logo uma receção muito boa a nível mundial, na Europa, nos Estados Unidos e na Austrália, porque os consumidores já tinham essas preocupações”, diz. Portugal, que atualmente está entre os seis países onde mais vendem, nunca foi onde tiveram mais receção. O maior sucesso verificou-se na Alemanha.
Uma vez que só existiam duas marcas de calçado vegano, de acordo com a fundadora da NAE Vegan Shoes, começaram logo internacionalizados. E o facto de se conseguirem adaptar ao público tão heterogéneo que tinham sempre foi um plus.
Nas solas, embora as claras não sejam as favoritas do público, é algo que resulta junto dos consumidores italianos. Quanto às formas, apostam nas mais largas para os clientes alemães, mas também têm mais estreias que se adequam ao fenótipo francês: “Não temos o estereótipo de uma pessoa vegana, é uma audiência muito abrangente”.
Devido à diversidade, sempre tentaram oferecer vários estilos, que a pessoa possa comprar para o escritório ou se precisar de uma proposta mais desportiva. “Pela experiência que temos tido, percebemos que os clientes procuram mais o conforto, mas queremos desenvolver uma identidade mais forte e que seja fácil de identificar”.
Por isso, em 2023, Paula e Alex vão “trabalhar em criar uma estética mais própria a nível de produto” e alargar a oferta a nível de produtos. Nos planos, está uma linha de criança, visto que “o público que começou a comprar há 15 anos já têm filhos” e desenvolver a linha de acessórios com carteiras, cintos e outras propostas em que seja possível apresentar uma alternativa ao couro.
Todos estes produtos, além das coleções lançadas, vão estar presentes no site da marca, o principal canal de venda, mas também nas lojas físicas. A primeira foi inaugurada em 2018, no LxFactory, e a segunda, mais recentemente, abriu no número 17 do Largo Trindade Coelho. A longo prazo, para responder às solicitações dos clientes, os fundadores também estão a prever a abertura de uma loja noutras cidades, como o Porto.
Carregue na galeria para conhecer alguns dos modelos mais vendidos da NAE Vegan Shoes, com preços que variam entre os 26€ e os 179€.