Lojas e marcas

Nova loja de Lisboa tem peças que contam a história de culturas ancestrais

A Origo cria artigos únicos, de moda ou decoração, com comunidades indígenas. Dos aromas às texturas, "nada é artificial".
Fica junto à Avenida da Liberdade.

O espírito nómada acompanha Patricio Martino desde a infância. Os pais eram funcionários das Nações Unidas e o chileno teve a oportunidade de viver em diversos países da América, desde o Uruguai até à Guatemala. O que mais o fascinava a cada nova paragem eram as artes desenvolvidas pelas comunidades locais.

Conforme foi amadurecendo, Patricio sentiu a necessidade de estabelecer um vínculo mais estreito com os artistas, muitos dos quais pertenciam a populações indígenas. “Achava injusto que, mesmo com tanto tempo investido nestas criações, e com tanto respeito pela natureza e pelas fibras usadas, as pessoas pediam descontos”, explica à NiT.

Antes de se instalar em Lisboa, em outubro de 2023, Patricio dedicou três anos a viajar e a explorar novas comunidades, observando o trabalho dos artesãos. A experiência fê-lo desenvolver um descontentamento relativamente à forma como eram tratados.

O culminar desta vivência resultou na criação do Origo, um espaço que funde design com herança cultural e património de diversas culturas. Mais do que uma simples loja, é “uma experiência ancestral”, situada no coração de Lisboa, na Travessa da Horta da Cera, perto da Avenida da Liberdade.

“Não são apenas produtos, é uma forma de respeitar e valorizar estas origens”, acrescenta o empreendedor, atualmente com 55 anos. “Temos muito a aprender sobre a relação destas pessoas com a Terra. Normalmente, recebem um pagamento injusto.”

A oportunidade de abrir este espaço surgiu após adquirir alguma experiência na área. . Durante duas décadas, trabalhou na FORUS, uma companhia sul-americana dedicada à criação e distribuição de moda. Quando chegou o momento de avançar com o seu projeto, contou com o apoio da empresa que o havia acolhido.

“A maior diferença é que não compramos apenas produtos artesanais. Fazemos o pagamento adiantado e desenvolvemos cada peça com estes artesãos, sempre lado a lado. Ajudamos durante todo o processo, mantendo o respeito pelas técnicas”, sublinha.

A loja é uma experiência sensorial.

Na loja, os clientes encontram as propostas organizadas por cada país — Chile, Equador, Guatemala, Quênia, Perú, África do Sul ou Colômbia — técnica (como tear manual ou croché, por exemplo) ou origem comunitária. Há vários grupos indígenas como os colombianos Kamëntšá.

“Foi mais fácil começar pelos projetos que estavam mais perto, então percorremos a América do Sul e a América Central”, explica. Depois, passaram para outro continente, explorando África a partir da África do Sul até chegarem às tradições dos povos do Quénia.

O nome, um empréstimo do latim que significa “origem”, exprime este desejo de absorver o conhecimento das culturas ancestrais. Todas as peças de roupa ou artigos de decoração, têm as origens discriminadas.

Mas do que moda, é uma forma de apresentar cada país — os rituais, a comida e o estilo de vida. “O material, o design ou as cores. Tudo tem um significado porque, quando criam algo, colocam parte da sua alma ali. Quando se vê uma máscara, faz parte de rituais muito específicos.”

Criar uma relação com cada uma destas comunidades é o Patricio considera mais bonito no projeto. “Ao desenvolvermos as coleções, tivemos que compreender que, muitas vezes, não podemos simplesmente pedir alterações. Cada detalhe vem da experiência daquelas pessoas em concreto.”

A parte mais difícil tem sido acompanhar as mais de 120 comunidades nos aspetos técnicos. “O objetivo é que haja uma relação direta não só connosco, mas com todos os designers que os ajudam”, refere. “As peças são feitas à mão e, para obter o volume necessário, trabalhamos com muitas.”

“Não há nada artificial”

Outro dos desafios foi transportar esta mistura de inspirações para um só espaço, o que só foi possível graças “uma experiência sensorial”. Quando se entra, sente-se o cheiro do couro, das lãs, do chá, do café ou do cacau. “Não há nada artificial. São materiais honestos e materiais.”

A Origo foi pensada para que os produtos sejam apresentados como obras valiosas, tal como se estivessem num museu. Cada coleção é distribuída pelos 100 metros quadrados como parte de uma coleção completa, mas sem que sejam ignoradas as diferenças entre elas.

Além disso, os visitantes são convidados a passar por uma experiência digital. Há cinco monitores com acesso à Internet para os mais curiosos conhecerem a história por trás de cada projeto. “É uma forma de mostrar o potencial da arte que estes artesãos criam”, continua.

A multiculturalidade de Lisboa tornou-a a cidade ideal para acolher este conceito. “Tem sido interessante ver a reação das pessoas”, aponta. Muitos portugueses visitam o espaço por ser diferente de tudo o resto, mas há também outros europeus e norte-americanos a pedir a expansão do conceito a outras geografias.

Patricio, que descreve a Origo como “um projeto ambicioso”, não quer ficar por aqui. O sonho, explica, é mostrar ao mundo inteiro que “é possível criar um negócio rentável com base na bondade” e explorar outros mercados. O objetivo passa por chegar ao resto da Europa e aos EUA em cerca de cinco anos.

Os planos para 2025 incluem a abertura de pontos de venda em Alfama e Sintra já em 2025. Só depois será possível apresentar a versão final do conceito: oferecer experiências que incluem cerimónias e rituais baseados nestes países e culturas. “Quando conseguirmos isso, podemos finalmente exportar esta missão”, conclui.

A par do espaço em Lisboa, pode encontrar todas as peças da Origo no site da marca a partir dos 55€, no caso dos acessórios, e peças de roupa a partir dos 240€.

Carregue na galeria para ver mais imagens da loja e conhecer melhor o conceito.

FICHA TÉCNICA

  • MORADA
    Travessa da Horta da Cera, 7
    1250-196 Lisboa
  • HORÁRIO
  • Todos os dias das 10h às 19h

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