A primeira pausa de Nuno Baltazar nas semanas da moda, desde que começou a apresentar desfiles, em 1999, foi mais do que um momento de reflexão necessário. Durante este período afastado das passarelas, nas duas estações de 2024, o designer de moda, de 49 anos, dedicou-se a novos projetos e voltou-se para os uniformes da Gulbenkian e para os vestidos de noiva.
O criativo prepara-se para se juntar à lista de criadores nacionais que apostam no segmento nupcial. Após o lançamento da primeira linha de vestidos de casamento de Gonçalo Peixoto, as primeiras peças da marca Nuno Baltazar Bridal, composta por cerca de 15 looks, têm lançamento previsto para abril.
Os modelos estarão disponíveis para consulta online, em breve, e são feitos à medida, o que exige que sejam experimentados e adaptados ao corpo da cliente. Para isso, o fundador olha para o trabalho que tem desenvolvido ao longo dos anos, junto das mulheres que o procuram para todas as ocasiões.
“Trabalho com noivas desde o início da minha carreira, mas num formato one to one. Aqui, existe a tentativa de alargar esse universo a pessoas que não têm capacidade financeira para um trabalho pessoal, mas que se identificam com o meu trabalho”, explica o estilista à NiT, afirmando que “foi um pensamento assumidamente comercial”.
Embora mais abrangente, a linha também se foca na relação de um para um. O atendimento personalizado começa com uma conversa inicial da noiva com Baltazar, cujo objetivo é conhecer melhor a cliente e reunir todas as informações sobre o gosto e as expectativas. As questões vão dos detalhes da silhueta aos pormenores da cerimónia que está a ser preparada.

“É um pronto a vestir para noivas”, sublinha. “Trabalho da mesma forma em todas as vertentes em que me apresento, quer seja roupa para o dia a dia, encomendas ou, neste caso, peças criadas a pensar num dia tão especial.”
Esta estratégia continua presente na segunda marcação, voltada para os desenhos e os tecidos. Trata-se da materialização de tudo o que foi abordado no encontro inicial, sendo que haverá propostas de vários cortes e matérias-primas, pensadas exclusivamente para cada pessoa.
Quando terminar esta conversa, fica decidido como será o modelo final, com base nos desenhos prévios apresentados pelo criador, e só então é que será apresentada a proposta de orçamento. A sugestão do valor é sempre acompanhada por uma descrição detalhada do modelo.
Quanto ao cruzamento entre este trabalho e a sua linha de moda de autor, Nuno afirma que “a coexistência de elementos depende da sensibilidade da pessoa”, já que o foco será sempre a cliente. Existem variações, é certo, mas a funcionalidade é sempre um dos pilares do estilista.

Há ainda uma primeira prova, realizada num tecido de teste, com aspeto e comportamento semelhantes à matéria-prima final. É este o momento para esclarecer quaisquer dúvidas relativamente a detalhes como decotes ou comprimentos de manga, antes das provas nos tecidos finais, onde serão realizados todos os ajustes ao corpo.
Esta aposta surge numa fase complicada para o criador, após ter declarado insolvência, em 2021. Apesar da crise, não desistiu e tem agora uma marca com um propósito maior. Depois destes problemas, o designer, que desenvolvia as criações no seu atelier na Rua do Bolhão, na baixa do Porto desde 2018, foi obrigado a fechar portas.
Baltazar regressou à ModaLisboa após este intervalo — ou “Intermission”, expressão que dá nome ao desfile — com a atenção virada para o trabalho manual, apostando nas texturas minimalistas e numa paleta de cores neutras, com os pretos, os cinzentos e os prateados em destaque, para sublinhar as narrativas a apresentar.
“Devias estar aqui”, ouvia-se repetidamente nas colunas da sala de desfiles da ModaLisboa, no passado domingo, 9 de março, no Pátio da Galé, em Lisboa. Leia o artigo completo da NiT sobre o mais recente desfile de Nuno Baltazar.
Carregue na galeria para ver alguns dos modelos criados pelo designer ao longo dos anos.