Valentim Quaresma chegou a sonhar ser ginasta, mas acabou por se tornar num dos mais aclamados designers portugueses. Quando começou a trabalhar numa oficina de acessórios de moda, com cerca de 16 anos, dedicou-se às peças de joalharia exuberantes que, ainda hoje, o caracterizam.
Um desfile do criativo, de 54 anos, não se faz apenas de roupa, mas também de esculturas e joias contemporâneas. É multifacetado, mas lida todos os dias com o desafio de aproximar o público da moda de autor nacional — precisamente o que levou a fundar um espaço dedicado apenas a este nicho.
A pop up store P’la Arte Creative Room instalou-se no Prata Riverside Village, em Marvila, Lisboa, a 27 de junho. Ainda sem previsão de encerramento, o espaço é uma mostra do trabalho de vários criadores portugueses, desde jovens emergentes a criadores consagrados.
A ideia partiu da organização de mercados, de entrada livre, promovidos pela Plataforma P’La Arte. A partir daí, começou a pensar-se na loja como “um prolongamento” destas iniciativas que têm feito sucesso, assim como uma vitrine para artistas com um estilo contemporâneo.
“A maioria dos criadores não tem nenhuma loja de moda que os represente. As vendas são feitas em atelier e a maioria das pessoas não vão lá fazer compras”, explica o designer à NiT. “Esta situação já acontecia antes da pandemia, mas agravou-se nos últimos anos.”
Além de Valentim Quaresma, o ponto de venda inclui propostas de nomes como Alexandra Moura, Dino Alves, Filipe Faísca, Bárbara Atanásio, Renato Luiz, Lázaro Bonixe, Pé de Chumbo, Cristina Neves, entre outros. Os preços começam a partir dos 20€.
“Escolhemos alguns dos designers que têm sempre participado nos mercados e têm uma abordagem mais autoral no seu trabalho”, acrescenta. “O que nos une é a preserverança em continuar a trabalhar e a acreditar na moda de autor no nosso País.”

Trata-se de um espaço simples “com a mesma estética do mercado”, que coloca o trabalho apresentado em destaque. Os andaimes em ferro dão um ar industrial ao ponto de venda, além de combinar com as propostas de cada um dos nomes que fazem parte do P’la Arte Creative Room.
Cada designer ficou responsável por escolher o que queria ter exposto no local. O foco está nas peças mais comerciais, é certo, mas é possível encontrar alguns artigos mais conceptuais “que acabam também por ser vendidas”, segundo Valentim.
No caso do fundador, a seleção passou por algumas peças intemporais, assim como modelos saídos da última coleção, apresentada na ModaLisboa. Falamos de peças de roupa, claro, mas também das esculturas e joalharia contemporânea ou de moda. É, no fundo, uma mostra para a oferta da marca homónima.
“A organização de mercados e lojas temporárias é uma boa estratégia para a indústria da moda, porque oferece flexibilidade, economicidade e oportunidades”, sublinha. “Além disso, estamos a promover práticas sustentáveis e a apoiar a economia local, fatores essenciais para o crescimento das marcas.”
Apesar dos entraves ao crescimento destes projetos, o designer nota que há vantagens no contacto direto com os consumidores. Além de atrair novos clientes, permite “a redução de excesso de estoque e a redução de custos fixos”, refere.
Embora Valentim admita que há vários mercados, a maioria destina-se a roupa em segunda mão. “Com exceção das pop-up stores da ModaLisboa não existe nenhum espaço permanente dedicado exclusivamente à moda de autor portuguesa”, conclui. “O nosso objetivo é vender o trabalho destes criativos.”
Sem data prevista para o encerramento da pop up store, o espaço pode tornar-se permanente. Tudo irá depender da forma como os portugueses vão responder a esta espécie de museu, com várias das peças mais emblemáticas ou recentes das marcas — comerciais ou conceptuais.
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