Pasta dentífrica Couto, carimbos da escola, xarope de groselha ou a Farinha 33. Para os portugueses sempre foi fácil encontrar memórias da sua infância n’A Vida Portuguesa. Se os locais gostam do espaço pela nostalgia que desperta, os visitantes entram pela porta para procurar todos os souvenirs possíveis.
A vida, afinal, não era tão bela assim. No final de 2023, os lisboetas foram surpreendidos com a notícia do encerramento do primeiro espaço da marca, inaugurado em 2007, no Chiado. O local na Rua Anchieta, onde Catarina Portas deu a conhecer o projeto, vai dar lugar a um alojamento local de luxo.
A despedida tornou-se menos amarga quando a loja conseguiu manter-se no bairro onde nasceu. Após fechar definitivamente, a 21 de julho. A Vida Portuguesa reabriu umas portas abaixo, no início de agosto, no número 72 da Rua Nova do Almada, edifício que antes pertencia à Livraria Férin — a segunda livraria mais antiga de Lisboa, que fechou em dezembro.
Foi necessário esperar quase um ano até que a equipa encontrasse uma nova morada, revela a marca à NiT. “Fomos notificados com antecedência e andámos a tentar negociar formas de ficar. Aparecer esta possibilidade foi uma sorte enorme que nos aconteceu, no final do ano passado, graças à generosidade dos senhorios.”
A nostalgia mantém-se, mas a nova versão d’A Vida Portuguesa tem agora outra missão: partilhar a tradição livreira do antigo proprietário. Destacam-se logo as madeiras escuras que complementam as estantes ou os balcões que pertenciam ao espaço que funcionou durante 183 anos.
“Faz parte da nossa identidade preservar a memória de espaços antigos e a Férin, como segunda livraria mais antiga de Lisboa, foi uma oferta mais do que atraente”, acrescenta. “Foi uma conjugação perfeita que vai ao encontro da nossa identidade e missão de preservação, sobretudo em Lisboa.”
Nestes 400 metros quadrados, a seleção de livros é mantida em primeiro plano. Soma-se ainda têxteis para a casa, artigos de cozinha, uma seleção de faianças Bordallo Pinheiro, perfumaria, papelaria, brinquedos, joalharia e uma zona dedicada às bebidas espirituosas, entre outros.
Ver esta publicação no Instagram
Desde o arranque que quem entra nos espaços d’A Vida Portuguesa encontra propostas diversificadas com origem em mais de cinco centenas de fornecedores. Começou como um projeto pioneiro para valorizar a produção nacional, mas ganhou reconhecimento internacional nas páginas do “The Guardian”, “The New York Times” ou “El País”.
Numa primeira fase, o negócio vai ocupar apenas o piso térreo do edifício centenário da baixa lisboeta. Porém, continuam a decorrer as obras para abrir o andar de baixo, que dá para a Rua do Crucifixo, onde vão ter uma seleção maior de mercearia e de têxteis. O funcionamento está previsto para o final de setembro.
Com assinatura do arquiteto João Regal, o trabalho de restauro procura dar resposta ao desaparecimento de vários espaços emblemáticos na idade, mantendo-os vivos e respeitando o seu passado.
Afinal, esta não é a primeira despedida da marca. Em 2020, a fundadora anunciou o fim da loja da Rua Ivens, no Chiado, dedicada a artigos como loiças, bordados ou mantas. Aquela loja da marca tinha sido inaugurada em 2016 e foi a segunda na zona.
Ainda não tinha passado meio ano e foi a vez da cadeia comunicar o fim da loja no Porto, junto aos Clérigos. O espaço não sobreviveu à pandemia e a decisão surgiu num momento em que toda a economia portuguesa atravessa um momento crítico”, revelou a fundadora, na altura.
Porém, o número da Rua Anchieta foi o que mais custou abandonar — para a equipa e para os clientes. “Abrimos antes do boom no turismo e sempre foi uma espécie de loja de bairro para muita gente. Muitas pessoas tinham memórias ali, então foi com enorme nostalgia que se vieram despedir.”
Havia, contudo, também muito entusiasmo quanto ao novo espaço. Agora que as cortinas foram levantadas, é seguro afirmar que o negócio mantém o espírito, apesar de ter passado do armazém de uma perfumaria para um edifício onde já funcionou uma tipografia real. O ambiente continua a ser marcado por artigos que nos transportam para o passado.
A par da nova loja do Chiado, pode encontrar A Vida Portuguesa no Largo do Intendente e no Mercado da Ribeira. Também pode passar pela Depozito, em Arroios, um projeto criado em colaboração com a Portugal Manual.
Carregue na galeria para ver imagens do novo espaço d’A Vida Portuguesa no Chiado.