Ao fundir o imaginário e estética indianos com o ambiente dos bairros típicos de Lisboa, a marca Otherwise tornou-se um sucesso em território nacional. Dos habitantes locais aos turistas, poucos resistem às montras com os casacos e as camisas distintas da etiqueta, vendidas em Campo de Ourique e no Príncipe Real. No dia 21 de outubro, acrescentaram o número 40 da rua de São Bento à lista, para atrair novos clientes, mas o encanto mantém-se.
É terceira loja da marca na capital, que abriu um espaço na rua da Alegria em março, e inaugurou a primeira morada em Campo de Ourique, em 2019. Ter mais pontos de venda pela cidade sempre foi uma das principais metas da etiqueta.
“Mal abri a última loja, já sabia que queria outra em Lisboa”, conta Manuel Ochoa, de 36 anos, à NiT. “Decidimos vir [para São Bento] porque identifiquei a zona como uma das que tem vindo a ganhar imensa vida. Na parte final da rua, estão a nascer imensos negócios e lojas novas”.
Apesar da proximidade geográfica com a última loja, que se instalou no Príncipe Real em março de 2022, “são dois targets diferentes”. Nesta parte da capital, contam com todo o circuito de pessoas que explora o Bairro Alto e, ao descer a Calçada do Combro, se cruza com as propostas da marca portuguesa. Destacam-se, claro, os estrangeiros.
Passados três anos desde a abertura do primeiro espaço — com uma loja no LX Factory pelo meio, que, entretanto, fechou —, o fundador reflete sobre a Otherwise não só como um projeto individual, mas como um negócio integrado num contexto de comunidade: “Aqui, pode-se criar um polo de conceitos engraçados e diferentes”, diz.
A decoração continua a ir ao encontro do conceito da marca, com a aposta nos materiais naturais. Destacam-se os charriots, feitos com troncos de árvores apanhados no campo, tratados de forma a expor cabides e roupa. Dos tapetes feitos à mão ao balcão feito de madeira, é um universo convidativo.
“Continuamos a fazer edições limitadas de 30 camisas, então as lojas têm todas ofertas diferentes entre elas”, acrescenta Manuel, reforçando que a diferença passa sobretudo pelos tamanhos. Como a primeira loja continua a ser pensada para portugueses, os tamanhos acabam também por ser mais pequenos.
A história da Otherwise
As raízes da marca em solo indiano começaram em 2006, quando a irmã do fundador, Maria Ochoa, de 41 anos, foi estudar joalharia no país oriental, onde a identidade e a cultura estão sempre presentes. “Há pessoas a costurarem na rua, a fazerem tingimentos e coisas muito diferentes do que havia na Europa”, diz Manuel.
Maria criou a sua própria marca, a Dreamcatcher, e uma década depois convenceu o irmão de que havia espaço para fazer algo direcionado para o público masculino. O criador apoiou-se nas camisas padrão e, em 2017, lançou a sua primeira coleção. Despediu-se do seu trabalho, num banco, para se focar completamente na Otherwise.
O conceito da marca mantém-se fiel às edições limitadas, com 30 camisas a serem confecionadas para cada padrão, exclusivamente através do trabalho manual. Um conceito que se distingue do método de trabalho que se tornou a norma por todo o ocidente. No entanto, vendem também overshirts, casacos e calças, com os valores a oscilar entre os 58 e os 99 euros.
“Nós fazemos tudo com tesoura, o tecido é feito num tear à mão e a grande maioria das peças são tingidas à mão. É uma marca back to the roots, na medida em que quase não utilizamos máquinas e é tudo com técnicas de estampagens ancestrais, como o block print ou o tie-dye que já existem há milénios”, acrescenta, referindo que é algo que os portugueses, infelizmente, não valorizam.
“Eu lembro-me muito, quando era mais novo, de os meus pais e avós construírem coisas. Na minha geração, é tudo muito à base da máquina”, diz. “Acho que estamos a voltar um bocado aos primórdios e às coisas feitas com mais cuidado. É mais humano e a Otherwise é mesmo muito humana”.
Ainda assim, a marca foi montada para os portugueses e as criações são criadas em torno da realidade que se vive no nosso País. O facto de não ser uma sociedade grande e das pessoas não quererem andar com peças iguais dá todo o sentido a um projeto destas dimensões. A inspiração indiana, através das cortes fortes, dos padrões e dos tecidos leves, também é adaptada ao clima nacional.
Socialmente, além do uso de alternativas naturais às fibras sintéticas, a etiqueta estabelece uma relação de proximidade com as comunidades indianas e os artesãos locais com que a Otherwise colabora. Na fábrica de confeção em Deli, por exemplo, Manuel conhece toda a gente pelo nome e trabalha diretamente com os funcionários quando vai até à Índia.
Com esta novidade, o fundador continua o objetivo de abrir mais lojas em Lisboa, sendo que a meta sempre passou por abrir lojas fora do País. O lugar mais indicado para começar esta expansão, à partida, será Espanha.
Pode comprar as peças no site da marca, além das três lojas físicas abertas. Carregue na galeria para conhecer algumas das peças indianas que tornam a Otherwise tão especial.