Conheceram-se numa peça de teatro em 2009, mas garantem que “houve uma conquista de um ano” até criarem uma relação sólida. A afinidade entre as duas foi crescendo e hoje Patrícia Candoso, de 39 anos, e Rosa Bela, de 29, dizem com segurança que são amigas há dez anos.
O gosto por áreas em comum levou-as a explorarem diferentes projetos juntas em televisão e fotografia ao longo dos anos, mas também no teatro, onde lançaram com Carlos Areia a Produções Fora de Cena, uma produtora itinerante sem sala fixa, que percorre o País em digressão de norte a sul para apresentar os seus espetáculos.
“Sempre notámos que tínhamos muitas afinidades e gostos que, apesar de distintos, se complementavam. Sempre tivemos também uma boa relação profissional e soubemos separá-la do lado pessoal. É isso que nos faz gostar tanto de trabalhar uma com a outra”, começa por explicar à NiT Patrícia Candoso.
Depois de tantos anos de experiência como atrizes — juntas somam mais de três décadas de trabalho na área — a pandemia de Covid-19 obrigou-as a colocar um travão nos seus projetos. Para não ficarem paradas, viraram-se para a moda como o “plano B” que já idealizavam há algum tempo e acabaram por lançar a 9 de outubro a Cand&Bella, uma marca de roupa sustentável que faz o aproveitamento de tecidos desperdiçados pela indústria.
“Neste momento o teatro não reúne todas as condições possíveis para podermos ter um rendimento mais fixo. Na nossa área precisamos do público, sem público não funciona. Depois de várias ideias, a Rosa apresentou-me uma amiga dela, a Mónica Lopes, que nos ajudou a alavancar a ideia”, continua Patrícia.
A primeira coleção chama-se ID e todas as peças contam “um bocadinho” da história de cada uma. As propostas são idealizadas pelas atrizes e materializadas com a ajuda de uma costureira experiente que foi fundamental para o projeto, Ana Marques, e que consegue transformar as suas ideias em roupa.
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“A nossa marca é muito verdadeira porque nós trabalhamos mesmo nela”, acrescenta Rosa Bela. Foram elas que selecionaram o algodão orgânico como a matéria prima principal e escolheram todos os tecidos de deadstock (isto é, desperdícios e sobras da indústria) em fábricas portuguesas, restos a que querem dar uma nova vida.
Tudo é feito em Portugal, desde as matérias primas à confeção. As responsáveis da Cand&Bella encomendam T-shirts em algodão orgânico fabricado e transformam-nas com os tecidos reciclados colocando-lhes mangas coloridas e originais. Para a chegada dos dias mais frios, lançaram também uma linha de edição limitada com mangas compridas. “A base continua a ser a T-shirt. Retiramos as mangas para colocar o tecido reciclado, mas depois são usadas para fazer os punhos”, revela Rosa.
Para controlarem ao máximo os desperdícios, têm um pequeno stock de tecidos e de T-shirts prontos para confecionar e colocam-nos à venda no site, mas a maioria das peças é apenas feita depois da encomenda — dessa forma, podem sempre usar os tecidos para confecionar outras peças no caso de sobrar stock.
Neste momento, a loja online é o único ponto de venda para o continente e ilhas, mas o objetivo é abrirem em breve para outros países, depois de estudarem a melhor forma de fazer envios internacionais sem ser necessário cobrar taxas.
As peças custam todas entre 25,50€ e 37,50€. “Fizemos muita pesquisa para perceber a que valores podíamos chegar. Queremos que as pessoas adiram a este lado da sustentabilidade”, conta Rosa. Segundo as fundadoras, não é fácil praticar preços acessíveis quando se usam matérias-primas orgânicas, mas a sua prioridade é tornar normalizar o consumo sustentável junto do público. Nas próximas semanas, a marca vai também lançar uma componente solidária que quer dar voz aos surdos, ajudando associações com o valor das vendas da T-shirt Língua Gestual.
Sobre a sua principal área de foco principal, Patrícia diz que estão “completamente paradas”. “Queremos apelar a que as pessoas não tenham receio de ir aos teatros. Desde que as salas cumpram as regras, as pessoas se desloquem com máscara e tenham os cuidados necessários, não deixem de ir ao teatro. Temos esperança que daqui a dois, três meses as coisas voltem um bocadinho mais à normalidade.”
“O essencial é as pessoas cumprirem”, acrescenta Rosa. “Cumprindo as regras tudo é possível. Isto é um problema grave que estamos a viver, mas estamos todos no mesmo barco. Se perdermos a esperança o mundo acaba”, remata.
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