Tudo começou com uma brincadeira. Na noite de Natal, em 2019, Tomás Varandas foi desafiado a aparar a barba do tio. Não hesitou e transformou o visual da cobaia com os materiais que tinha em casa. No final da ceia, todos os familiares queriam uma mudança semelhante.
Aos poucos, o jovem de 23 anos começou a cortar o cabelo ou a arranjar o bigode dos colegas de faculdade. Não era nada sério, mas decidiu comprar uma máquina profissional. “Não vivia num quarto de estudante, mas numa barbearia. Faltava a quase todas as aulas”, começa por contar à NiT.
O mundo da beleza não era um sonho de infância, mas tornou-se uma carreira. Acabou por desistir da formação em desporto para se dedicar à nova paixão. Após tirar uma formação, em Lisboa, aproveitou o espaço vago de um colega e abriu um salão nas Caldas da Rainha, a chamou Varandas. Ganhou o gosto de empreender — e não ficou ali.
A 21 de outubro, fundou outro negócio, a Barbearia Literária — o primeiro espaço do género no País. Situado em Gaeiras, no município de Óbidos, é um local de convívio onde pode cortar o cabelo, beber um copo de vinho ou apenas ler um livro.
“Antes de me tornar barbeiro, o presidente da Junta de Freguesia, o Ricardo Duque, ajudou-me muito. Identificava-me com as ideias dele que, na altura, já queria dar vida a este conceito”, acrescenta Tomás, que trabalhou na Câmara Municipal. “Porém, não me interessava tanto por livros como ele.”
O sentimento mudou quando começou a participar em eventos como os festivais literários Fólio ou Latitudes. “Além da oportunidade de criar um projeto pioneiro, comecei a gostar mais deste mundo, porque notava o interesse das pessoas nas histórias as obras contam.”
A inauguração da Barbearia Literária aconteceu precisamente durante a edição deste ano do Fólio, em parceria com a Junta de Freguesia. Contudo, trata-se de um espaço permanente. Vai estar aberto toda a semana, sendo que, aos sábados, irá acolher momentos de convívio no exterior.
Vista de fora, parece uma pequena cabana à entrada de um bosque. O espaço, totalmente de madeira, está rodeado de mesas de piquenique, candeeiros e uma placa informativa igualmente rústica. Quem passa, não percebe à primeira do que se trata — até descodificar o letreiro à entrada.
“A ideia era abrir o espaço num antigo sapateiro, só que o edifício estava muito estragado. Então, o [Ricardo] Duque teve a ideia de trazer o conceito para esta zona, que toda a gente conhece como o Largo do Pombal. Achei incrível, mas nunca pensei que fosse possível.”
O interior apresenta uma estética old school, com móveis vintage, como o cadeirão para os clientes, os espelhos ornamentados ou o relógio de parede antigo. As prateleiras com apontamentos dourados acolhem livros de história ou clássicos como o “1984”, de George Orwell. “Sempre gostei deste estilo. Quando ia a feiras de ninharias, havia peças que adorava.”
O pequeno espaço tem 9 metros quadrados, por isso, só pode entrar uma pessoa de cada vez. Isto significa que cada cliente tem direito a um atendimento premium, semelhante ao da barbearia Varandas. “Faço a barba com uma toalha quente, aplico vários produtos e ajudo-os a escolher as melhores opções. Trato os clientes de forma diferente”, acrescenta.
Como tem dois espaços em funcionamento, Tomás dedica-se a este novo projeto apenas aos sábados. Nos restantes dias, tem pessoas a trabalhar consigo e que estão prontas para dar resposta ao entusiasmo das pessoas. “Tenho recebido muitas mensagens positivas, as pessoas têm muitas questões e querem saber mais sobre o projeto.”
Além de poderem ler, os visitantes podem trocar os livros que estão no espaço por outros, que tenham em casa. A agenda vai incluir ainda vários eventos com música ao vivo e pode servir como um espaço lounge à noite, “porque tem muita verdura, uma fonte e um anfiteatro”, conclui. “Só temos de arranjar uma solução para o inverno.”
Os preços dos serviços variam entre os 8€, se tratar apenas da barba, e os 17€, se for um corte e barba. Aproveite e carregue na galeria para ver mais imagens do espaço e entender melhor o conceito.