Jorge Sampaio era presidente, Durão Barroso o primeiro-ministro. O Boavista era campeão nacional de futebol. O mundo recuperava do choque dos ataques terroristas de 11 de setembro. E as pessoas comunicavam entre si com o mais recente telemóvel da marca que dominava o mercado: a Nokia e o seu 6310.
Menos pesadão e mais esguio do que o icónico 3310, rapidamente se tornou num favorito, antes de toda a linha da marca finlandesa ser atirada para o esquecimento pela avalanche imparável dos smartphones. Só que o ciclo do revivalismo não para e 2021 foi a data perfeita para que a Nokia — que sobreviveu a duas décadas impiedosas — resolvesse comemorar o marco com o relançamento do telemóvel, adaptado aos tempos modernos.
Anunciado no verão e agora disponível para compra no site oficial da marca, retém a silhueta do modelo original e algumas das suas características clássicas: a extremamente durável bateria e, claro, o maravilhoso jogo que viciou milhões, o Snake. Tem, no entanto, um ecrã maior e com mais definição do que o de 2001, bem como botões maiores e mais memória interna. Está disponível em três cores: preto, amarelo e verde.
Tem ainda Bluetooth, wi-fi, GPS, capacidade dualSIM, rádio FM e um leitor de mp3. Pode ser carregado através de um cabo microUSB e tem uma vida de bateria que pode chegar aos 20 dias em standby. Não tem mil e uma funcionalidades, mas foi pensado para um uso prático, utilitário e divertido. O preço? É à moda antiga: custa 60€.
Esta não é a primeira tentativa de apelar ao sentimento nostálgico dos velhos donos de Nokias que se converteram aos telemóveis de nova geração. Em 2017, a marca finlandesa recriou aquele que foi provavelmente um dos seus maiores êxitos, a máquina com fama de indestrutível, o inimitável 3310 que, tal como o 6310, recebeu um look mais moderno.
É uma tentativa de manter a marca relevante depois do choque no início do século que transformou a outrora maior produtora de telemóveis do mundo numa empresa a lutar pela sobrevivência. A empresa fundada em 1865 detinha, em 2007, 50 por cento do mercado dos telemóveis. Em apenas quatro anos, tinha caído abaixo da linha dos 10 por cento. No final de 2020, os aparelhos finlandeses representavam apenas 0,7 por cento do mercado.
A culpa deste apocalipse é da Apple, cujo iPhone lançado em 2007 ajudou a revolucionar o mercado dos telemóveis. A Nokia hesitou no momento de fazer a transição e, no espaço de meses, essa decisão revelou-se fatal. O atraso era já impossível de recuperar.
A empresa ainda tentou uma última jogada ao adotar o novo sistema operativo móvel da Microsoft. Foi um falhanço. A Microsoft acabaria por fazer a aquisição do departamento de telemóveis da Nokia, que passariam então ao nome de Microsoft Mobile. Investiu-se menos nos aparelhos e mais em infraestruturas tecnológicas, até que em 2016, através da parceria com a HMD Global, a marca ressuscitou.
Hoje, além de tablets e portáteis, a Nokia tem uma linha de clássicos reinventados, aparelhos simples de linhas mais modernas; mas também uma série de smartphones de nova geração.