Lojas e marcas

Soriginais: a marca que ajudou Inês a superar o trauma da violência doméstica

Esteve numa relação abusiva durante cinco anos. Encontrou um escape nos fatos de banho coloridos que desenha.
Os modelos são coloridos e arrojados.

“Costumava dizer que tinha duas crianças em casa. A mais pequena era a que se portava melhor.” É assim que Inês Santos sintetiza a relação que viveu com o ex-marido — uma descrição que não conta sequer metade da história. A empreendedora de 37 foi vítima de violência doméstica durante cinco anos. Sem independência financeira, vivia isolada, em sofrimento e chegou mesmo a deixar de sair de casa.

Hoje, quando olha para trás, reconhece que o companheiro sempre teve atitudes abusivas, desde que se conheceram. A relação começou em 2015 e, pouco depois, começou a ser mal-tratada verbalmente e todos os passos que dava dependiam da aprovação dele.

Quando a filha nasceu, em 2018, percebeu que não podia continuar na situação em que se encontrava — não queria que ela crescesse naquele contexto. “Não houve agressões físicas, mas sofria muitos ataques psicológicos e isso é o que dói mais”, recorda, sobre as memórias que mantém após o fim da relação, que só aconteceu dois anos mais tarde.

“Ao mesmo tempo que se toma consciência, achamos que é passageiro. Como todas as vítimas, pensava que a culpa era minha e que podia mudar de atitude”, acrescenta. “Depois, à medida que as agressões se repetiam, passei a sentir-me presa e já não tinha forças para sair do buraco.”

Tudo se agravou quando se mudaram para Inglaterra, por sugestão de um amigo. Como não se sentia realizada profissionalmente em Portugal, decidiu ir “perceber quem era” e por lá ficou até engravidar. Trabalhava na área da hotelaria e, como alimentava a esperança de que a relação poderia melhorar, aceitou mudar novamente de país. Foram viver para a Suíça, onde acabou por nascer a filha. No entanto, “aquilo que estava mal, piorou. Não havia cooperação alguma da parte dele.”

Apesar da vergonha que sentia, acabou por fazer queixa do ex-marido, sobretudo para proteger a filha da violência de que era vítima. Após a denúncia, o caso seguiu para tribunal — onde continua a ser avaliado — e Inês tentou refazer a sua vida: “Vivemos a cinco minutos dele e é complicado, porque perdeu o direito à visita e a qualquer momento pode causar-nos problemas”.

Soriginais: uma marca consciente

Após a separação, além do acompanhamento psicológico, Inês começou a sentir necessidade de procurar um escape. Voltou a olhar para paixões antigas, que tinham ficado adormecidas durante o período traumático que viveu — e um símbolo do seu renascimento.

Em 2020 começou a desenvolver a Soriginais, inicialmente com uma linha de roupa de senhora. Em abril deste ano, a etiqueta mudou de rumo e passou a ser apresentada ao público com a roupagem que a fundadora sempre idealizou: uma marca de swimwear que contribui para a segurança dentro de água, seja em adultos ou miúdos.

Sob o mote “não sejas transparente”, as peças são marcadas pelas cores garridas e os padrões extravagantes. A inspiração surgiu quando a fundadora se cruzou com um estudo sobre os acidentes que acontecem no mar. A investigação frisava que é mais fácil para um nadador-salvador conseguir identificar uma pessoa em perigo quando a cor da roupa de banho é mais vibrante.

“Depois disso, sempre que ia à piscina comecei a reparar que a maioria das pessoas só usa azul e preto. Só as miúdas e as pessoas plus size é que estavam cientes da importância da cor. Quando vi que acontecia o mesmo nas lojas, decidi apostar em modelos divertidos para homens e mulheres”, explica.

Por trás da ideia, está um sonho antigo: “Quando era mais nova, já fazia T-shirts pintadas à mão em casa. Sempre fui apaixonada por coisas diferentes e que mais ninguém tem. Ainda hoje sou assim”, refere, sobre a originalidade que espelhou no nome. Apesar de se ter formado em direito, ainda iniciou um curso de personal shopper para se dedicar à moda.

Desenhadas para qualquer tipo de corpo — há opções até ao 6XL —, todas as propostas de banho são desenhadas pela fundadora e priorizam o conforto. São feitas em materiais reciclados, numa fábrica na Letónia, e enviadas para todo o mundo através do site da marca.

Para já, o objetivo é manter o foco do negócio na swimwear durante o verão, mas Inês quer avançar para outros segmentos. No início do próximo ano, está a pensar introduzir peças para senhora, mas os fatos de banho vão continuar a ser a base da marca.

Além disso, quer regressar definitivamente a Portugal e espera mudar-se para Sintra até ao final de 2023. Por cá tenciona explorar outras ideias: “Quero fazer um showroom com passagens de modelos. Também seria bom angariar embaixadores para a marca e estabelecer parceria com algumas lojas físicas”, conclui.

Todas as peças da Soriginais estão à venda online, entre os 35€ e os 40€. Carregue na galeria para ficar a conhecer algumas das peças mais vendidas da marca.

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