Pode parecer estranho e inusitado, mas esta quinta-feira, 18 de abril, fui fazer uma tatuagem e passei a manhã a chorar. A chorar mais do que alguma vez chorei numa sessão de terapia. Nunca imaginei que uma leitura de aura pudesse trazer à tona tantas emoções. Para ser sincera, nunca imaginei sequer fazer uma tatuagem com uma leitura de aura. Mas já lá vamos.
A história começou três dias antes, quando me sugeriram escrever um artigo para a NiT sobre um novo estúdio de tatuagem no bairro de Marvila, em Lisboa. No Tinta D’Alma, os irmãos Ana e Rui Silva criaram um conceito que combina terapias holísticas com a arte de fazer tatuagens. Chama-se SoulTattoo. Aqui, o processo de desenvolvimento da tatuagem começa com uma leitura de aura, seguida de muita tinta vegan — que não tem resquícios de petróleo, ossos de animais ou corantes artificiais, como as outras mais comuns.
Ao longo de uma conversa com a terapeuta holística e mestre de leitura de aura, Ana Margarida Silva, são mencionados vários símbolos, mensagens dos anjos, imagens de animais e vidas passadas. A partir daí, o cliente toma nota das ideias que podem ajudá-lo a construir uma tatuagem que tenha um significado mais profundo e especial.
“O conceito surgiu numa conversa com a minha namorada. Vários clientes chegavam ao estúdio cheios de dúvidas, porque não queriam fazer uma tatuagem de que se pudessem arrepender mais tarde. Queriam algo com significado. Como a Ana trabalhava com a leitura da aura, decidimos investir na SoulTattoo”, conta à NiT Rui Silva, o designer e tatuador do estúdio.
A sessão estava marcada para as 9 horas desta quinta-feira. Cheguei de mente aberta e sem grandes expetativas. Só tinha uma certeza: se não gostasse de nenhum dos desenhos proposto pelos irmãos — e donos do negócio —, não iria aceitar ser tatuada.
Fui recebida pela Ana e pelo Rui no novo estúdio da Tinta D’Alma, que me encaminharam para o segundo piso da loja. É uma sala pequena, mas acolhedora, com pouca luz e música de meditação. Este ambiente de paz deixou-me menos ansiosa e pronta para começar a primeira fase deste processo.
“Primeiro, vamos ver qual a flor que representa você. Depois, vou falar sobre cada um dos sete chacras principais do nosso corpo. E por último, vamos ver as vidas passadas ou futuras”, disse-me a terapeuta holística.
Ana ficou de olhos fechados durante a maior parte do tempo. Eu fiz o mesmo para entrar no espírito, mas fui abrindo os olhos várias vezes durante o processo para ir tomando nota de algumas das coisas que iam acontecendo.
Quando eu estava à espera de falar sobre a flor que representa a minha alma, Ana perguntou-me se alguém da minha família tinha morrido recentemente. Ela disse que estava a ver alguém ali ao meu lado e que essa pessoa lhe pediu para me dizer que vai estar sempre comigo. “Ele está a fazer festinhas nos seus ombros”.
O meu pai morreu há dois anos, no dia 21 de abril. Claro que essa frase foi o gatilho para uma choradeira que se prolongou durante boa parte das duas horas seguintes em que estivemos a conversar.
Descobri que não há apenas uma flor que me representa, o que significa que não gosto de me sentir estagnada. Pode ser um girassol, uma margarida ou um malmequer. Todas elas têm em comum a cor amarela, o que revela o meu lado mental super ativo.
Através da análise do caule, das raízes e da terra onde minhas flores estavam plantadas, a terapeuta explicou-me como funcionam alguns dos meus sentimentos, como devo nutrir meu corpo e que a falta de espinhos nesta flor espiritual significa que eu me devo proteger melhor
Na segunda parte do processo, esta leitura de aura passou pelos sete chacras principais do corpo.
O chacra base é o que trata daquilo que nos traz segurança, como o trabalho, o dinheiro e as relações pessoais. O umbilical revela as nossas emoções e como foi o nosso nascimento. O chacra do plexo solar representa a parte mental: aquilo que nos provoca alegria ou medo. Já o coração trata dos relacionamentos, do amor próprio e da nossa disposição para dar e receber. A garganta representa a comunicação e a expressão das emoções. A terceira visão é a nossa intuição. E o chacra da coroa é a nossa ligação com o divino, o cosmos e o universo.
Passei por todos os chacras a receber mensagens do meu pai, como se ele fosse comentando as várias etapas desta consulta. Quando chegámos ao final do último chacra, Ana disse-me que o meu pai me estava a oferecer um globo terrestre pequeno.
Na terceira fase, a terapeuta holística falou sobre três das minhas várias vidas passadas. Descobri que já fui uma índia numa tribo da América do Sul que foi obrigada a casar, quando o que eu mais queria era conhecer o outro lado da floresta; um miúdo em África que queria ir contra as tradições da tribo, mas não conseguiu; e uma agricultora que trabalhava numa plantação de arroz no Nepal e que se apaixonou por um comerciante, mas não teve coragem de fugir com ele.
Depois de quase duas horas, descemos para outra reunião no primeiro piso onde falámos sobre os símbolos que foram encontrados na minha sessão, como um pássaro, uma borboleta, uma laranja, penas ou um avião. A partir daí, o designer Rui Silva perguntou-me quais é que teriam mais significado para mim e uniu-os todos num só desenho.
Às 12h30, três horas e meia depois de ter chegado, tinha um pequeno avião a atravessar o planeta Terra com um pé de laranja e um pedaço de um azulejo português tatuados na pele. Para sempre.
Se quiser fazer uma tatuagem semelhante à minha na SoulTattoo, pode marcar uma sessão pelo Facebook da Tinta D’Alma através do email tintadalma@nullgmail.com ou através dos números de telefone 966 432 449 ou 966 518 290.
A leitura de aura e a tatuagem (até 15 cm) custam 210€, mas pode fazer apenas um destes serviços.