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“Tirar antes de pinar”: as novas meias da Hardcore Fofo têm “uma regra sagrada”

A marca é conhecida pelos bordados originais (e politicamente incorretos) de Ana Saramago. Tem leques, T-shirts, cadernos e panos de cozinha com frases que fazem corar.

As pessoas do bairro de Arroios já se habituaram às montras da Hardcore Fofo, onde os panos, leques e cadernos feitos por Ana Saramago têm sempre provocações — e uns quantos palavrões. De vez em quando, ainda aparecem senhoras mais conservadoras com as perguntas do costume. “Afinal, porque é que borda estas coisas?”, questionam. 

“Quando querem ter uma explicação, digo que não é para chocar, apenas para me divertir. É uma maneira de manter a tradição, mas de forma moderna”, explica a criativa, de 60 anos, à NiT. “Se tivesse um euro por cada gargalhada, estava rica.”

Autoproclamada “bordadeira subversiva”, Ana habitou-se às reações divisórias. Afinal, há mais de 15 anos que se dedica a bordar expressões engraçadas, por vezes obscenas, em objetos tradicionais. Estávamos em 2010 quando decidiu focar-se novamente nas manualidades.

Ao longo dos anos, têm sido vários os exemplos que se tornaram virais nas redes sociais. É o caso dos leques “tá com um calor do caralho”, as T-shirts “bela merda” ou os panos de louça “descasca-me a banana” e “abana-me a patanisca”. Durante a pandemia, também fez sucesso com o pano do “pó caralho 2020”.

Um dos exemplos mais recentes são as meias coloridas com a frase “tirar antes de pinar”. Lançadas em abril, tornaram-se um sucesso imediato. “Tinha bordado umas a dizer ‘remove before sex’, mas decidi que tinha de traduzir. As pessoas gostam mais das piadas em português”, explica. 

Feitos 100 por cento em algodão, os pares foram bordados à mão, ponto por ponto, “para garantir que ninguém se esquece da etiqueta básica da sedução”, segundo a etiqueta. Está disponível em sete cores no site da Hardcore fofo e cada par custa 18€. “Porque há regras sagradas na vida e esta é uma delas.”

As noivas meias são um sucesso.

“O processo é muito ‘go with the flow’. Não planeio os lançamentos, é sempre muito orgânico. Vou fazendo o que as pessoas me encomendam”, acrescenta Ana. “Vou tentar ter novidades no verão, porque já são 15 anos, mas ainda não fiz tudo. Ainda há muita merda por fazer.”

“Ainda não existia em Portugal”

Após 30 anos a trabalhar na área da tecnologia, “alguma turbulência profissional e alguns problemas internos” levaram Ana a perceber que tinha de fazer alguma coisa, em 2010. Decidiu virar-se para os bordados, uma arte que aprendeu em miúda com a família — a avó fazia croché, a mãe costurava roupas.

Após alguns meses a dedicar-se apenas ao ponto cruz, com esquemas com letras, pássaros ou flores, começou a deparar-se com imagens de desenhos mais ousados. “Já se fazia lá fora, mas ainda não existia em Portugal”, confessa. “Como tinha esse lado mais subversivo, decidi experimentar.”

Os primeiros panos, com expressões como “fuck me hard” ou “lick me”, foram partilhados na página de Facebook da Hardcore Fofo e as pessoas adoraram. Nas várias pop-ups e mercados que Ana ia fazendo em Lisboa, a reação era maioritariamente positiva, apesar de alguns olhares mais conservadores.

A criativa explica ainda que “a vontade de subverter era tão grande” que, em poucos meses, começaram a ser produzidos outros tipos de produtos, como cadernos, leques, lápis, azulejos e louça pintada, entre outros. O catálogo aumentou até que, em 2018 se passou a dedicar a tempo inteiro à marca. Despediu-se da empresa onde trabalhava e mudou de vida.

O rosto por detrás da marca.

Foi nessa altura que surgiu o espaço Bempostinha 22, um atelier em Arroios, que Ana aluga para partilhar com outros artistas. “Trabalhava em casa, mas quando comecei a viver disto, apareceu a oportunidade de ocupar este sítio muito bonito, que é uma antiga mercearia com mais de 100 anos”, conta. 

Além da montra chamativa, o destaque vai para “as sinergias” que ali se criam. Destas amizades foram nascendo novos produtos, como porta-chaves que produz com um rapaz conhecido pelo trabalho com peles e aos quais acrescenta as já características frases da Hardcore Fofo.

O processo, refere, “é muito intuitivo”. Geralmente, Ana ouve “uma expressão fixe” durante uam conversa e imagina logo as superfícies onde a pode bordar. Apressa-se para apontar a ideia no caderno do costume —  o bloco “Merdas de que não me posso esquecer” — para concretizar assim que possível. “Tenho logo de ver a coisa feita.”

A marca está disponível para encomendas personalizadas, que dão origem às camisas bordadas que também são muito procuradas. Há muitos produtos que nascem de um pedido específico de uma cliente e que acabam por ficar, tal é a satisfação da artista com o resultado.

O atelier fica em Arroios.

O erguer de sobrancelhas não acontece só entre quem passa pelo atelier. Durante as feiras, nas quais participa há mais de uma década, nota que alguns visitantes ficam escandalizados. “Até os miúdos percebem a piada quando começam a ler. Se os pais não se assustarem logo, explicam que é humor de adultos e que não é algo para dizerem.”

A agenda de Ana divide-se também entre estes mercados e os workshops que organiza quando encontra tempo. Nos últimos anos, descobriu que adora ensinar a fazer “os monstros do bordado”, como chama a estas pequenas criações. “Quando dão conta estão a fazer uma data de coisas.”

Durante o verão, a artista começa já a preparar tudo o que está previsto ser lançado durante o Natal. Antes disso, porém, ainda chegam os leques para os Santos Populares — “abana-me o manjerico”. Com tantas datas a assinalar, o esquecimento é recorrente. “Só às vezes é que me lembro: ‘ai gaita, que para a semana já é o Santo António’.”

Além do atelier Bempostinha 22, todos os lançamentos da Hardcore Fofo estão disponíveis no site da marca. Se preferir, pode sempre entrar em contacto com a marca através das contas de Instagram e Facebook; ou pelo email hardcorefofo@nullgmail.com.

Carregue na galeria para ver algumas das criações mais engraçadas de Ana Saramago.

FICHA TÉCNICA

  • MORADA
    Rua da Bempostinha, 22
    1150-066 Lisboa
  • HORÁRIO
  • Segunda a sexta-feira das 13h às 20h
  • Sábado das 13h às 18h

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