Em cada país que visitava, Daniel Kofalvi apaixonava-se pelos diferentes estilos que desfilavam pelas ruas. Se no Japão passava horas a apreciar o street style colorido e original da cidade, em Berlim, na Alemanha, gostava de passar o tempo na loja vintage de uma amiga, “a mais bonita” onde já esteve.
A relação do criativo húngaro, de 31 anos, com Lisboa, começou bem antes da sua mudança para a capital, em 2023. Passou por vários países europeus mas, sempre que conseguia, vinha passar uns tempos ao nosso País. Até que decidiu, finalmente, instalar-se com uma missão.
“Há tanta gente que se veste bem a vir para cá e que gostava de encontrar outro tipo de loja”, conta o criativo à NiT, que passou os últimos meses à procura de um espaço para instalar a sua marca de roupa em segunda mão, que criou em 2025, durante a pandemia. “É moderna, clean e minimalista — mas com um street style entusiasmante.”
A oportunidade surgiu na Calçada de Sant’Ana, em Arroios, onde abriu a primeira loja da Unāgi, no final de março. A montra revela logo aquilo que podemos encontrar no interior. Afinal, não se trata de um vintage qualquer, mas de uma casa para um “vintage moderno”, como se pode ler na entrada.
“A parte mais excitante” deste projeto, segundo o designer, “é provar que as pessoas se podem vestir com artigos de marca sem precisarem que sejam peças novas”. Esta é uma mensagem que já passava nos vários mercados ou pop-ups que trouxe até à cidade, para apalpar o terreno.
Na Unāgi, Daniel vende propostas “que as pessoas querem usar agora”, independentemente da década. Trata-se sobretudo de uma curadoria de “marcas que muita gente ainda não conhece”, embora também ofereça unidades muito limitadas de etiquetas mais conhecidas, como a Prada, a Helmut Lang ou a Jacquemus.
“Não há espaço para a fast fashion, porque tem pouca qualidade, produz muito desperdício e explora os trabalhadores”, conta o antigo designer de moda, cujo desânimo com a indústria o levou a afastar-se, após vários anos a trabalhar em cidades como Nova Iorque ou Londres. “É um mundo muito poluidor e nunca senti que era algo para o qual quisesse contribuir.”
Antes de abrir a própria empresa, também trabalhou como assistente de bordo. Foi durante estas viagens que começou a encontrar peças um pouco por todo o mundo para produzir e, ainda hoje, viaja para Itália, Espanha ou Hungria, por exemplo, à procura dos designs mais bonitos. As melhores, confessa, vêm do Japão.
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Daniel não tem dúvidas sobre aquilo que distingue a Unāgi de outras lojas vintage. “É, sem dúvida, a seleção”, frisa. “Acredito que o vintage não tem de parecer velho ou um disfarce. Pode ser moderno, sofisticado e refrescante. Então é importante colecionar artigos que tragam essa sensação.”
Esta viagem no tempo recua, no máximo, até aos anos 90, inspirada na estética de designers como Helmut Lang ou Calvin Klein, embora a moda Y2K também tenha o merecido protagonismo nos charriots. “Tenho algumas peças muito simples e minimalistas da década de 80, mas não se identifico tanto.”
Nesta seleção, o foco está mais na qualidade e no corte do que na marca. “Atualmente, as pessoas guiam-se demasiado pelas tendências atuais e pelo que o algoritmo lhes mostra”, continua o criativo, que junta sobretudo modelos feitos a partir de tecidos naturais de qualidade, como algodão, lã ou pele.
Organizadas por cores, as peças disponíveis tornam-se um habitual motivo de surpresa entre os clientes, que dão por si a questionar se são novas. “É importante que estejam em ótimas condições.”
O gosto de Daniel pelo styling também está presente nas conjugações que expõe nos charriots. Alguns coordenados estão formados, outros nascem dos pedidos de ajuda dos curiosos, que procuram a sua aprovação e acabam com uma série de dicas para vestir o novo achado.
É sempre a roupa o destaque neste espaço que ocupou um antigo apartamento, não fosse o objetivo assemelhar-se a uma casa. Quem entra, depara-se com um espelho enorme no exterior de um roupeiro. As pessoas podem experimentar as peças e passear com a mesma sensação de segurança que têm quando estão num quarto.
Acabada de abrir, a Unāgi já se revelou um ponto de encontro para as “pessoas jovens e com uma energia refrescante” que vivem em Lisboa. E todas concordam com a mesma filosofia que move Daniel. “A comunidade e as pequenas empresas são o futuro da moda. É nelas que está a sustentabilidade”, conclui.
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