Existem cada vez mais alternativas ao couro na moda, desde o ananás aos cogumelos. Pode parecer estranho, mas as semelhanças à matéria-prima animal confundem até os mais experientes. Quando Cristóvão Soares mostrou uma botas feitas com pele de cacto a um fabricante de calçado, com 30 anos de profissão, este pensou que eram de couro.
Após a reação, o designer de 40 anos não hesitou: a planta suculenta seria a nova aposta da marca portuguesa de sapatos femininos. Juntamente com o sócio Dani Barreiro, 39, lançou os novos modelos, de botas a mocassins, em março. E as novidades já estão entre as propostas mais vendidas da etiqueta.
“Estamos sempre atentos às feiras internacionais à procura de novidades. Uma vez, encontrámos um fornecedor mexicano que nos falou desta alternativa no vestuário”, explica à NiT. Curiosos, fizeram testes para perceber se era possível usar a matéria-prima no calçado e o resultado foi um sucesso.
Uma das vantagens que encontraram foi a finalização mais clean, ao contrário de materiais mais populares, graças à delicadeza. No caso do piñatex — têxteis feitos com ananás —, “o acabamento é menos polido” do que o visual minimalista que caracteriza o negócio.
Ao testar o potencial da pele cacto em fábricas situadas em São João da Madeira, no norte do País, foram percebendo outras mais valias. Os modelos têm um toque mais macio e também proporcionam um conforto superior ao de outros materiais reciclados que usaram anteriormente.
No entanto, sendo um material diferente e pouco usado, há outras exigências. “É preciso mimar [o material]. A indústria está habituada ao couro há décadas e os trabalhadores estão vocacionados para opções mais resistentes”, sublinha. Sendo mais sensível, é trabalhado a temperaturas baixas e requer uma atenção acrescida aos pormenores.”

A história da Verney Store
Antes do cacto, os dois fundadores exploraram muitas opções. Usaram o cânhamo, garrafas de plástico e algodão reciclado e, posteriormente, maçã ou até milho. Aliás, foi a vontade de explorar propostas inovadoras que os levou a lançar uma marca “desenhada e produzida em Portugal.”
“Estávamos a tirar o mestrado em economia, mas eu já trabalhava na produção de calçado e queria um projeto diferenciador e apelativo”, recorda. Começaram a estudar os materiais sintéticos que surgiam na altura e, em 2016, apresentaram a Verney Store ao mercado nacional.
“No início, existia o estigma de que o resultado ia ser algo feio e aleatório, para ser usado por pessoas com gostos invulgares. Pedimos conselhos a muitos amigos e começámos por peças mais simples que todos podem usar no dia a dia como se fosse mesmo pele.”
Inicialmente intemporais e básicos, os novos designs têm seguido caminhos mais arrojados. É o caso do bestseller Vienne, com uma sola mais agressiva e aplicações metálicas, ou o estilo militar das botas Vogel. Também os sapatos Veron, entre os mais vendidos, têm um look mais chunky.
Quando ao feedback do público, “é sempre curioso”. As pessoas perguntam a origem e, quando ouvem que é a planta espinhenta que está na base dos desenhos, levantam sempre as sobrancelhas: “Acham que é pele e pensam que estamos a enganá-las. O resultado é mesmo muito próximo.”
A intenção dos sócios é continuarem a trabalhar apenas com sapatos. O próximo passo, a médio-prazo, passa por alargar o leque de oferta a uma coleção masculina, mantendo sempre a inovação como mote.
Entretanto, os novos modelos em pele de cacto da Verney Store já estão disponíveis no site da marca, com valores entre os 109,90€ e os 179,90€. Carregue na galeria para os descobrir.