Todos os avós (ou alguém que tenha vivido nos anos 70) têm um blazer ou umas calças de bombazina que guardam no armário com carinho. Em eventos especiais, como aniversários de casamento ou batizados, voltam a tirá-los do guarda-roupa e provam que o tecido, que faz parte das nossas memórias, continua impecável — anos após ter sido estreado.
O que não é tão habitual é ver esta matéria-prima em sapatos, sobretudo quando falamos de uma marca como a Sanjo. Entre os anos 20 e 70, todos os que conheciam a etiqueta nacional sonhavam comprar um par do modelo desportivo. No seu regresso ao mercado, em 2019, continuaram a ser conhecidos pelo estilo cool, sporty e descontraído.
Na sua nova coleção, lançada em setembro, decidiram dar uma nova roupagem às suas propostas. Para o outono-inverno, os modelos de sapatilhas mais icónicos destacam-se pelo toque vintage, graças ao uso da bombazine, dos tons desbotados e das cores inspiradas nos cenários naturais portugueses.
“Além de ser um tecido bastante usado nos meses mais frios, tem ganhado num destaque a nível das texturas”, explica à NiT Sofia Camarinha, diretora de marketing digital da marca, sobre a escolha. “Juntámos isso a um apelo à nostalgia e rendimento, surgindo assim com um tecido canelado.”

Apesar da coleção ter sido lançada muito recentemente, o modelo K100 continua a destacar-se como o bestseller, revela. Desta vez, surge em combinações como a jeans tricolor (azul-claro, escuro e verde), castanho, brown tricolor (castanho, vermelho e bordô), preto e, por fim, a ecru pink (branco e creme).
Porém, também tem novas iterações de outros desenhos clássicos da marca nacional, como o K200, o K230 e o K330. Em todas as opções, o tecido escolhido conta com um certificado vegan aprovado pela PETA.
“A visão contemporânea da marca está comprometida com um estado de espírito pautado pela tranquilidade. O lazer e a descontração das férias podem ser mesmo um estado de espírito”, acrescenta, sobre a inspiração. No fundo, a premissa é que a sensação dessa época continue nos próximos meses, com a ajuda das propostas.
E sublinha: “Esta coleção retrata, assim, a vontade de nunca sair deste imaginário e perpetuar o momento, que é igualmente visível nas cores utilizadas”, saídas do universo da pesca, da vida ao ar livre na costa e nas montanhas de Portugal.
O percurso da Sanjo
Lançada em 1933, pelas mãos da Companhia Industrial da Chapelaria, uma empresa que se dedicava (até então) a produzir chapéus, a marca nasceu num país fechado ao mundo exterior. Durante décadas, o seu modelo desportivo feito em lona tornou-se no par de eleição de todos os portugueses. Dificilmente encontrava alguém que não tivesse um exemplar no armário.
Com a queda da ditadura, em 1974, a Sanjo não foi capaz de fazer face à concorrência e a empresa acabou por encerrar a atividade cerca de 20 anos depois. Em 2010, a marca fez a sua primeira tentativa de retorno e mudou a produção de Portugal para a China. No entanto, esta estratégia fez com que a qualidade dos produtos baixasse e o relançamento caiu por terra.
Nos últimos três anos, a missão passou por limpar a imagem deixada pelo seu anterior dono. Devido ao legado tão vincado, a nova administração tentou trazer muitos elementos da antiga Sanjo, com um arquivo tão rico. Quando foram criados os modelos skater, em território nacional, a aceitação dos clientes foi muito positiva.
Em fevereiro de 2022, Vitor Costa, diretor criativo da marca, explicou à NiT quais estavam a ser as dificuldades da empresa: “Costumo dizer, quase em tom de brincadeira, que a Sanjo é um velhinho com quase 90 anos que durante um período foi muito maltratado”. Apesar de notar algum mal-estar no início desta nova vida, acrescenta: “A partir do momento em que fizemos o primeiro editorial, a nossa imagem passou a ser mais cuidada”.
“Estivemos focados no mercado ibérico. Quando comprámos a marca, foi esta a nossa abordagem”. Porém, Hélder explica que, em 2023, começam a dar os primeiros passos internacionais. “O objetivo é levar os modelos aos quatro cantos do mundo”.
Após participarem em várias feiras internacionais, e com presença em vários espaços multimarca e centros comerciais, a Sanjo tem ainda mais planos para este ano. As novidades mais recentes foi o lançamento oficial da primeira coleção para miúdos — que está à venda desde março.
Todas as peças da nova coleção da Sanjo já estão disponíveis no site da marca, com preços entre os 79,50€ e os 84,50€. Carregue na galeria para os conhecer.