Quando o icónico edifício que abrigava a Pastelaria Suíça, situado no Rossio, ficou disponível, surgiram várias interrogações sobre o futuro do espaço. Em 2020, a Câmara Municipal de Lisboa deu luz verde a um projeto para transformar o quarteirão histórico num vasto espaço comercial, designado “Rossio Pombalino”, com a abertura inicialmente prevista para setembro de 2023.
Ao contrário do plano original, que contemplava um hotel de luxo e vários apartamentos, o conjunto de quatro edifícios recebeu um caráter mais comercial. Após uma série de atrasos nas obras, começaram a surgir informações sobre aquela que seria uma das maiores lojas da Zara em todo o mundo.
Contudo, o espaço da marca âncora do grupo Inditex na Praça D. Pedro V, só começou a receber os primeiros clientes um ano depois: a loja foi inaugurada a 5 de setembro de 2024. Com quatro andares e mais de cinco mil metros quadrados, esta nova loja da marca espanhola reúne coleções de vestuário, cosméticos e artigos para o lar da Zara Home, que deixou de estar presente na Baixa da cidade em 2023.
Desde então, tornou-se uma paragem obrigatória no roteiro de compras da capital — e foi eleita pelos leitores da NiT como a Melhor Loja do Ano na edição de 2025 dos Prémios NiT. Feitas as contas, a Zara do Rossio somou 30 por cento dos votos numa categoria que contou com espaços como a Fashion Clinic Avenida, Metralha Worldwide, GxBAR e The BeCode Street.
“Este novo conceito de loja oferece ao cliente uma experiência de moda única que acreditamos ser o que as pessoas valorizam”, começa por afirmar a Inditex, que destaca “o conceito comercial mais recente” da marca, “que se distingue por lojas amplas, com uma imagem distinta, novas áreas de exposição de produtos e ferramentas tecnológicas mais eficientes para prestar um serviço de excelência”.
“No caso desta loja, sobressai ainda a intervenção arquitetónica que procurou transmitir toda a riqueza histórica do edifício, a tradição artesanal e o saber-fazer português e que conferem um caráter único a cada espaço da Zara Rossio”, acrescenta.
A fachada marcante, com assinatura do atelier de arquitetura Contacto Atlântico, é o primeiro cartão de visita do espaço, mas o interior do espaço é igualmente ambicioso. Aquando da abertura, a NiT constatou que são precisos cerca de 45 minutos para percorrer todos os andares.
Os pisos 0, 1 e 2 estão dedicados às coleções masculina e feminina, enquanto o terceiro andar acolhe propostas infantis de vestuário e acessórios, a Zara Home e um espaço de pastelaria denominado Zara by Castro. A equipa é composta por 280 funcionários distribuídos pelas várias secções.
A herança histórica do edifício é visível em todos os andares. Desde os frescos restaurados, passando pelos recantos que outrora funcionavam como lareiras, até aos elevadores em ferro, cada detalhe foi cuidadosamente integrado na experiência. Um mural do artista Bruno Grizo, adornado com azulejos da Viúva Lamego, dá as boas-vindas aos clientes no terceiro piso.
As vendas não são a única forma de medir o sucesso desta inauguração. Desde o primeiro dia, muitos turistas (e não só) têm incluído esta loja Zara nos seus itinerários, aproveitando para tirar fotografias que posteriormente partilham nas redes sociais.
“Estamos muito satisfeitos com a nossa presença comercial em Portugal onde se inclui a Zara Rossio”, sublinha a marca. Além disso, explica: “Desde o início da marca que estar presente nos melhores locais tem sido uma parte fundamental do nosso posicionamento comercial”.
Um dos pontos altos é a área dedicada aos artigos para o lar, onde foi criada a réplica de uma habitação. Neste espaço, o público pode explorar a casa, divisão por divisão: sala de jantar, cozinha, quarto e até uma banheira com vista para a Praça do Rossio. Os miúdos também têm a sua zona de lazer, um playground onde podem brincar livremente.
Outro fator que contribui para a popularidade desta Zara é a tecnologia que liga as compras físicas às online. No mesmo piso, existe uma área para a entrega de encomendas, diversas caixas de autosserviço (dispersas por toda a loja) e um ecrã tátil que permite fazer o scan através de um código QR para imprimir etiquetas e deixar as peças que se pretende devolver, tudo de forma totalmente autónoma.
Por fim, explica à NiT, “esta concept store, enquanto espaço de experiência, é onde encontramos sempre novidades como os últimos lançamentos da marca, as coleções especiais ou as colaborações mais exclusivas”.
O dia da abertura
João Catarino foi a primeira pessoa a chegar. Ainda faltava um quarto de hora para a abertura de portas quando o criador de conteúdos, de 31 anos, vincou os pés na calçada do Rossio, com tudo o que precisava na vida: uma carteira em forma de pombo da J.W. Anderson e um smartphone. Atrás de si, formava-se a primeira fila para entrar no edifício.
“Quero tentar gravar o espaço com o menor número de pessoas possível, mas já vi que vai ser difícil. Não estava à espera que viesse tanta gente para uma inauguração”, contou à NiT em setembro, rodeado por uma dezena de pessoas. “As expetativas estão altas porque é uma loja incrível num sítio lindo.”
Se algumas pessoas não sabiam o que esperar, o ator Paulo Vaganuno, de 19 anos, já tinha uma ideia. “Trabalhei na Zara e, pelo que fontes internas disseram, vamos ter peças únicas e criadas exclusivamente para o Rossio. Estou curioso para saber como vão transformar a identidade de Lisboa em peças de roupa”, revelou.
Apesar dessa antecipação, a primeira manhã manteve-se calma, com uma circulação fluida entre os espaços — através de escadarias, escadas rolantes ou elevadores. Curiosamente, o inglês afirmou-se logo quase como a única língua falada entre os corredores, sobretudo por estrangeiros de meia-idade.
Paulo contou também à NiT que foi cedo “para ver a loja limpinha, antes das pessoas desarrumarem tudo” e a verdade é que a área dos provadores manteve-se intacta durante a manhã. Encontrar este cenário torna-se quase impossível nos dias de maior movimento.
Terminada a longa viagem, ainda há tempo para admirar, a partir das janelas, o resto do quarteirão do Rossio Pombalino. O conjunto de quatro edifícios foi adquirido pela empresa espanhola Mabel Capital por 62 milhões de euros, em fevereiro de 2018. Com um total de 12.000 metros quadrados, o espaço será um centro comercial com diversas lojas.
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