Lojas e marcas

Malteza: a nova marca portuguesa que vive nos Países Baixos e vende em Espanha

Por falta de dinheiro, Joana Maltez não pôde seguir o sonho de estudar design em Viana do Castelo. Agora, quer conquistar o mundo
É marcada pelo estilo effortless.

Há muitos fatores que identificam o espírito de um país e o design de moda é um deles. Ao longo dos anos, Portugal tem sido o berço para diversos talentos que, através da roupa, representam a sua personalidade, mas também o País que os viu nascer. E, se nem sempre a indústria permite que façam carreira em Portugal, em muitos casos, levam orgulhosamente os valores nacionais além-fronteiras.

Joana Maltez é um desses casos. A designer de 30 anos lançou a sua marca Malteza em solo português, no mês de fevereiro, mas acabou por levar a sua produção até Eindhoven, nos Países Baixos. A mudança fez parte do desejo de tornar o negócio “mais sério”, mas as suas criações femininas continuam a ser apresentadas como portuguesas.

“Quando se ingressa em design de moda, é impensável não imaginar uma marca”, conta à NiT. No entanto, o seu percurso não foi assim tão linear. Nasceu em Viana do Castelo, com uma mãe que fazia tapetes para uma empresa local, pelo que as linhas e os trapilhos sempre fizeram parte da sua vida. Ainda assim, nunca tinha pensado em seguir pelo caminho da moda. Por falta de dinheiro, não conseguiu continuar com os estudos e, só mais tarde, depois de ter trabalho, é que começou a averiguar e se cruzou com o fascínio pelo design.

“Durante a quarentena, achei que seria interessante lançar alguma coisa, mas questionei-me se alguém me ia levar a sério”, diz. Começou com as máscaras, que nunca foram tão populares. Graças ao sucesso da produção conseguiu investir em máquinas e materiais. Em pouco tempo, já vendia peças de roupa.

Ao lançar oficialmente o seu próprio negócio, sabia exatamente que tipo de mulher serviria como musa. As suas propostas consistem, sobretudo, em vestidos para mulheres românticas e femininas, que gostem do lado mais leve da roupa.

“Tento que as peças falem por si, ou seja, quando partilho fotos tento mostrar que não é preciso estarmos todas arranjadas com maquilhagem e cabelo. Basta a pessoa ser o que ela é, por uma peça bonita e está pronta para qualquer ocasião”.

Uma grande parte do portefólio da designer são peças dedicadas a ocasiões especiais, como casamentos ou galas, para estar ao lado das clientes em momentos de extrema importância, mas as coleções são sobretudo lançadas para a vida quotidiana de mulheres poderosas. Para além de poder escolher a peça com os tamanhos gerais, o site da marca possibilita que a cliente escreva as medias concretas para ter a certeza de que a peça vai servir. Assim, torna-se um produto mais personalizado.

Ao mesmo tempo, “[a musa] é alguém que tem consciência ambiental e que preza isso e é alguém que não gosta de comprar em grandes superfícies comerciais e ser igual a toda a gente”. No momento da mudança para a Holanda, no mesmo dia em que criou a página no Instagram, tentou que os clientes que se identificavam com estes valores continuassem ao seu lado.

Em Eindhoven, foi confrontada com um mercado completamente diferente. Joana refere: “A ideia que nós temos dos Países Baixos é completamente diferente da realidade”. A designer faz um contraste entre a cidade europeia com Viana do Castelo, onde cresceu com dias de praia e de sol. Porém, não é só o clima chuvoso neerlandês que se distingue: “As pessoas, no geral, são diferentes. Os portugueses arriscam mais, na rua vemos pessoas personalidades muito diferentes. Podemos ver muito clássico e alguém completamente fora da caixa”.

Se a sobriedade do povo neerlandês não é o público que Joana pretende atingir, conta com a vantagem de estar numa cidade de maior dimensão. Há pessoas originárias de países com Espanha e Itália, por exemplo, que são adeptas da autenticidade na moda: “A maior parte das nossas vendas vai para Espanha, mas temos bastantes pessoas em Portugal interessadas naquilo que produzimos”.

Sobre o privilégio de ser um rosto da moda nacional onde está atualmente radicada, diz que é importante para si continuar a afirmar as suas origens. “Apesar da marca estar legalmente registada na Holanda, faço sempre questão de dizer que é portuguesa”, reforça. “Acho que em Portugal, infelizmente, a não ser que ganhemos algum concurso ou estejamos fora algum tempo, é difícil darem-nos valor”.

No seu novo atelier, as dificuldades não foram todas colmatadas, nomeadamente aos custos. Definindo-se como uma marca sem stock, que produz por encomenda, cada peça tem um valor maior, mais acessível a pessoas de países com maior poder de compra. Isto significa que, de acordo com Joana, o rendimento da maior parte dos portugueses não permite comprar uma peça mais cara.

O atelier de moda conceptual

Juntamente com a sua marca de pronto-a-vestir, Joana aposta no desenvolvimento de peças mais conceptuais numa outra página. O propósito é conhecer o potencial do seu trabalho e mostrar todas as suas competências de costura.

“Enquanto designer, eu acho que há sempre uma luta constante entre aquilo que uma pessoa consegue fazer, a parte conceptual, e o lado mais comercial”, explica. “O atelier é o meu escape e quando preciso de fazer algo mais artístico”.

Joana quer mostrar o quanto consegue elevar a sua produção de moda, mas sublinha que não há sentimento tão gratificante como a possibilidade de ver alguém com as suas peças na rua. “Gostava de ter as duas [páginas], acho que têm o mesmo sentimento, com a parte feminina e delicada, mas gosto que as pessoas vejam as duas páginas e vejam que há aqui algo que é feito com qualidade”, conclui.

Outro dos projetos, paralelos à Malteza, visa utilizar todos os restos de tecido e de fios para que possam servir para camas de animais resgatados. Joana refere que “todos os restos de produções anteriores estão guardados” a pensar na possibilidade de, até ao final do próximo ano, conseguirem a chegar a um canil com várias. Neste momento, é preciso “fazer alguns testes para ver até que ponto são confortáveis, que processo é que os restos têm que passar, se precisam ser triturados ou não”.

Por enquanto, continua a dedicar-se ao projeto num regime part-time, principalmente pelo método on demand. O objetivo, mais tarde, é conseguir dedicar-se a tempo inteiro à sua marca para que possa alcançar muitos outros países da Europa.

O site da Malteza vai ser lançado em breve. Por enquanto, pode encontrar a marca no Instagram e no Facebook. Carregue na galeria para conhecer algumas das peças desta etiqueta nacional.

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