“Nunca se esqueçam da camisa do metro”, alerta uma jovem no TikTok, enquanto se filma, de vestido justo junto à linha do metro, enquanto veste uma larga e opaca camisa branca. Não é a única a espalhar a mensagens nas redes sociais que promovem a nova arma das jovens mulheres contra olhares indiscretos, comentários e, por vezes, situações de assédio sexual nos transportes públicos.
A camisa do metro não tem que ser uma camisa. Pode ser uma T-shirt gigante. O mais importante é que seja capaz de cobrir o corpo, ocultar decotes ou saias e calções mais curtos.
“É uma forma de me proteger quando vou do ponto A ao ponto B. Não quero ser um alvo, por mais estranho que isso pareça”, explica uma jovem nova-iorquina ao “The Guardian” sobre a peça que carrega sempre na mochila, sobretudo quando vai sair à noite e opta por um outfit mais elaborado.
“Quem me dera não ter de usar isto, que fosse seguro poder andar na rua com o que bem me apetece”, confessa. Outra jovem descreve a liberdade que sentiu quando começou a usar estas camisas.
Quando não o faz, por um ou outro motivo, o arrependimento é imediato. “O olhar masculino traduz-se num sentimento físico. Mesmo quando não estou a prestar atenção, consigo perceber quando alguém está a olhar-me fixamente. Consigo senti-lo”, nota Ajana Grove, de 19 anos.
A moda que ganhou tração nos EUA, mais especificamente em Nova Iorque, é justificada por muitas das jovens que usam diariamente o metro. “Quando termina o inverno, há quem se comporte com se nunca tivesse visto uma mulher“, nota Grace Masingale ao “New York Post”.
A jovem de 22 anos relata os muitos comentários ofensivos a que é habitualmente sujeita durante as viagens. “Gostava de ver o que está aí por baixo” ou “as tuas mamas são tão giras” são algumas das coisas que já ouviu. Numa das situações, foi mesmo perseguida por um dos homens.
De outros países vão chegando relatos semelhantes, à medida que o termo começa a tornar-se popular. Cria-se a tendência, mas o uso de peças para esconder o corpo e evitar assédio não é novidade, como também não é o assédio que a maioria das mulheres enfrenta na rua e nos transportes.
“Usar uma camisa [por cima do vestido] não vai necessariamente impedir que algo aconteça, mas faz com que me sinta mais confortável”, revela outra jovem que começou a carregar sempre na carteira uma T-Shirt ou camisa de tamanho grande.
“É fantástico que estas jovens do TikTok estejam a alertar para os perigos do assédio sexual e da agressão sexual nos espaços públicos. Espera-se que cada vez mais pessoas reconheçam quão assustador pode ser sair de casa, no dia a dia, entre apanhar carruagens de metro, como mulher”, revela ao diário britânico Leora Tanenbaum, autora de um livro sobre o tema.
Em Portugal, a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) revela, no seu relatório anual de 2022, que recebeu um total de 160 queixas de assédio sexual e moral. Um crescimento de 166 por cento relativamente a 2019. Metade dos casos acabam por não apresentar queixa oficial. Estima-se que muitos dos casos que decorrem no dia a dia dos transportes públicos não cheguem sequer a ser reportados oficialmente à APAV ou a outras instituições.
Do México ao Reino Unido, os últimos anos têm trazido também várias campanhas públicas que alertam para este tipo de assédio que decorre normalmente nos transportes públicos. No final de 2021, os Transportes de Londres avançaram com uma campanha de tolerância zero em defesa das mulheres, vítimas de “comportamento sexual indesejado” que ocorre nos meios de transporte. De piropos a toques indesejados, ao simples olhar fixo, estes comportamentos são citados como exemplos de assédio sexual que importunam as mulheres e tornam o uso dos transportes menos seguro.
@seriousactress Subway shirts are the real MVP this summer #nycrules
