“Eu era famosa até que o Elon se tornou famoso”, graceja Maye Musk que, aos 74 anos, teve que ceder o lugar de maior celebridade da família ao filho mais velho, atualmente o homem mais rico do mundo. https://www.nytimes.com/2016/05/01/fashion/elon-musk-mother-maye-musk-model-met-gala.html
Muito antes de Elon Musk se tornar numa espécie de guru do empreendedorismo e depois colher os benefícios em forma de notas, já Maye era uma celebridade por conta própria. Modelo profissional e dietista, está a viver uma nova segunda fama, inevitavelmente à boleia do nome de família. O facto de ser “mãe de génios” — se Elon é o homem mais rico, Kimbal é um empresário bem-sucedido na restauração e Tosca é produtora e realizadora de cinema — despertou a curiosidade de muitos.
Mas é por conta própria, com o seu trabalho e a sua beleza que tem feito capas atrás de capas. Tornou-se na mais velha porta-voz da “CoverGirl” com 69 anos e já apareceu na cama da “Time” e da “Elle” canadiana. Melhor: fez uma aparição em vários anúncios, de cereais a cosméticos e até num videoclipe de Beyoncé.
“Querem saber como se criam génios? As pessoas estão sempre a perguntar-me isso”, diz numa entrevista à “Harper’s Bazaar”. “O que fiz foi deixá-los descobrir e desenvolverem as suas próprias paixões, dei-lhes liberdade para explorarem as suas próprias ideias (…) Claro que tinham limites, mas de certa forma, nunca os tratei como crianças. Tratava-os como pessoas.”
Claro que a genética também entrou nesta equação e a de Maye Musk tem origem nos Haldeman, seu apelido de solteira e nome de família de aventureiros. Haveria de casar com Errol Musk e acolher o seu nome, em 1970, num casamento atribulado que duraria apenas nove anos, mas do qual nasceriam três crianças, Elon, Kimbal e Tosca.
Musk nasceu no Canadá, tem uma gémea e mais cinco irmãos. A família era grande e comandada por Joshua e Winnifred Haldeman, os seus pais que geriam um negócio de quiropraxia. Nos anos 50 fartaram-se da vida no Canadá e mudaram-se para a África do Sul.
Joshua era um apaixonado por arqueologia e embarcava regularmente em aventuras pelo mundo, por vezes na companhia da família. Vivia obcecado com a possibilidade de desvendar o mito da cidade perdida no deserto de Kalahari, que cobre partes da África do Sul, Namíbia e Botsuana.
Em 1954, lançaram-se na maior aventura das suas vidas: a bordo de um avião a hélices, fizeram uma viagem da África do Sul até à Austrália. “O avião tinha apenas um motor, não tinha bússola nem rádio. Foram os únicos a fazê-lo”, explicou Maye.
Todos os anos percorriam juntos as areias do deserto à procura da tal cidade perdida. Musk e os irmãos acompanhavam-no, dormiam em tendas ou no próprio carro, com os sacos-cama nas cabeças para “evitar que as hienas nos comessem as caras”. “Os meus pais eram muito famosos, mas nunca se tornaram snobes.”
“Eles corriam muitos riscos, mas eram sempre muito cautelosos”, explica. O seu pai acabaria por morrer num acidente de aviação em 1974.
Arriscou-se nas passarelas ainda antes de casar. Começou a fazer os primeiros trabalhos como modelo quando tinha apenas 15 anos e, em 1969, foi finalista do concurso Miss África do Sul. Casaria com Errol Musk no ano seguinte, mas continuaria a trabalhar como modelo durante as décadas seguintes, apesar de se ter dedicado também a outra área, a da nutrição.
Um casamento abusivo
Tinha apenas 22 anos quando casou com o engenheiro Errol Musk, que conheceu na escola secundária. A relação rapidamente se tornou problemática, conforme revelou a própria no seu livro lançado em 2019, “A Woman Makes a Plan: Advice for a Lifetime of Adventure, Beauty, and Success”.
“Era muito difícil falar sobre o casamento no início. As pessoas acham que sou divertida e positiva, mas eu precisava de falar daquilo por que passei”, contou. Durante os nove anos de casamento, Maye terá sido alvo de abusos físicos e emocionais.
“Todos o tratavam por Porco, por causa da maneira como ele me tratava em público. E eu tinha muito medo de contar às pessoas [sobre os episódios mais violentos]. Como qualquer mulher abusada, eu tinha vergonha, sabia que tinha cometido um erro”, diz. “Ele dizia-me repetidamente que eu era estúpida, feia, aborrecida. Ele era muito rico, mas assegurou-se de que eu não tinha nada.”
Para ganhar dinheiro, continuou a trabalhar como modelo e formou-se em dietética e nutrição. Acabaria por decidir divorciar-se de vez em 1979, mas os problemas não terminaram com a decisão de que ficaria com a custódia dos filhos.
“Assim que ficaram comigo, iam passar alguns fins de semana com o pai. Assim que eles chegavam, ele pegava nas coisas deles e deitava tudo fora, para me obrigar a comprar tudo de novo, roupas, material escolar. Depois processava-me porque dizia que eu não era uma boa mãe”, recorda.
Os anos que se seguiram foram passados nos tribunais. “Ele via uma bolha na boca da Tosca e acusava-me de não lhe dar de comer. Via uma nódoa negra no braço do Kimbal — imagine-se, um miúdo ativo com uma negra — e dizia que eu lhe batia”, conta.
Elon era o filho mais velho e terá sido ele a tentar travar os episódios violentos do pai. No livro, Maye recorda um episódio onde o filho, com apenas cinco anos, terá atingido o pai nos joelhos, para tentar travar as agressões.
Estranhamente, Elon e Kimbal acabaram por decidir ir viver com o pai e deixar a mãe. A culpa, explica Maye, era da avó paterna.
“Foi tudo por causa da malvada avó. Fez com que se sentissem culpados. Dizia-lhes: ‘A vossa mãe tem vos a todos. O vosso pai está sozinho. Querem que ele fique sozinho e triste?’ É um truque sujo.”
A vida atribulada teve um efeito nefasto nas suas emoções e hábitos, ao ponto de ter desenvolvido uma desordem alimentar. Chegou a pesar mais de 90 quilos. “Era uma modelo plus size, mas depois a nutrição começou a mudar a vida dos meus clientes e finalmente a minha. Levou algum tempo, mas consegui.”
Tal como os filhos, Maye começou a viver de cidade em cidade. Passou por oito cidades em três países e dois continentes. “De cada vez que me mudava, tinha que começar do zero, mas tinha sempre um plano e, se o plano não funcionasse, arranjava outro.” “Acho que é mais difícil estar num casamento infeliz [do que ser uma mãe solteira]”, conclui.
Os filhos seguiram o seu caminho e Maye também. A carreira como modelo nunca parou e foi preciso chegar aos 60 para desfilar para a famosa Dolce & Gabbana.
Até 2015, Maye continuava a ter que enfrentar muitos castings para conseguir os trabalhos, mas isso foi mudando à medida que foi aparecendo ao lado do filho e homem mais rico do mundo. Em 2016 foi contratada pela gigante agência de modelos IMG
Decidiu também parar de pintar o cabelo e assumir o cinza brilhante como sinal de experiência. “Acho que dá esperança às mulheres que à medida que envelhecem, podem continuar a trabalhar, a serem relevantes, confiantes e sentirem-se confortáveis consigo próprias”, diz. “Mulheres jovens abordam-me na rua e dizem que a minha carreira lhes dá esperança. Se eu estou a fazer isto aos 70, elas também o podem fazer aos 25.”