Os coletes são, por norma, associados a looks mais formais e não se encontram à venda muitas opções que fujam da previsibilidade. Uma regra que, como todas, tem exceções. E, neste caso, particular são fáceis de encontrar no armário de Inês Prates.
A portuguesa de 30 anos tem cerca de 500 coletes, modelos únicos que trouxe dos destinos que foi visitando ao longo dos anos. Neste momento, tem uma das maiores coleções desta peça de roupa do País.
Tem peças da Mongólia, Irão, Guatemala ou o Senegal, por exemplo. Das cinco centenas que possuui, selecionou 100 modelos dos quais não abdica. Quando repara que tem várias peças do mesmo local, põe uma delas à venda sua loja vintage na Ericeira, a Nomada Bazaar.
O fascínio começou ainda em miúda. “A minha avó costurava e fazia muitos coletes. Tenho vários que eram do meu pai, feitos por ela, e sempre gostei de os usar”, conta à NiT. “Fazia muitas peças em patchwork, em que juntava vários retalhos de tecido para criar formas e padrões diferentes.”
À medida que foi pesquisando mais sobre a história dos coletes, descobriu que os bordados variam consoante a região de Portugal e que cada país tem uma forma diferente de os criar. Por cá, destaca opções tradicionais como as que vemos nos trajes de Viana do Castelo ou do Alentejo.
Aprendeu a costurar quando tinha 15 anos, com a avó que tem 100 anos. E até aos 95 nunca parou de se dedicar à criação de novas peças e sempre ajudou a neta. “Ainda tenho os primeiros [modelos] que fiz. Mas estão todos destroçados, porque já estiveram em muitos festivais.”
Inês começou a colecionar coletes na adolescência, quando desenvolveu uma afinidade ao movimento hippie que, nos anos 60, recuperaram o colete tradicional. “Via muitas fotos de Jimi Hendrix e dos Beatles a usarem”, recorda.
“Uso colete quase todos os dias há anos”
A paixão pela peça de roupa tornou-se mais séria por volta de 2012, ano em que inaugurou a loja. Já gostava de roupa vintage, um gosto que lhe foi passado pela mãe, que também tinha uma marca de roupa, e visitava tudo o que eram feiras e lojas de antiguidades em Portugal. Decidiu avançar com um negócio apenas com coletes. Mais tarde, alargou a oferta.
“Na altura, os portugueses ainda mostravam muita resistência em aceitar roupa vintage ou em segunda mão, que nos últimos anos se tornou meio trendy”, recorda. “E não havia sequer a curadoria das peças, a definição de um estilo, nem se criavam coleções dentro desse universo. Quis fazer isso.”
Sempre que viajava fazia questão de visitar lojas onde podia descobrir desenhos antigos e cheios de história. Sempre que alguém lhe dizia que tinha sacos cheios de peças de roupa que não queriam, Inês aproveitava: “Ia a casa delas, escolhia as que queria para mim e comecei a vender as peças”.
Apesar de fazer tantas viagens, foi em Portugal que conheceu marido, Carlos Bonasso. O uruguaio era curador de arte e cruzou-se com a vendedora em 2017: “Fazia o mesmo que eu, mas não com roupas”, diz. “Quando o conheci, estávamos os dois a usar coletes e foi logo um ponto em comum”, recorda.
Nos últimos cinco anos, estão os dois dedicados à loja vintage e a uma paixão que se tornou comum. No casamento, o dress code pedia aos convidados para vestirem coletes tradicionais e a própria filha, com 4 anos, já tem uma coleção em miniatura.
“Uso colete quase todos os dias há anos. Fazem parte do meu outfit diário e as pessoas acham estranho, porque costumam ser modelos mais excêntricos.”
Os destaques da coleção
Entre as peças mais valiosas, a portuguesa destaca um desenho que fez com tecido que encontrou quando foi à Hungria, uma das suas primeiras viagens. Na parte de trás, tem um corte muito clássico que contrasta com o padrão colorido da frente. Para complementar a peça, fez uma espécie de bolsa anexada para guardar moedas.
Quanto aos países com os coletes mais completos, destaca o Afeganistão, onde se faziam peças com bordados cheios de cor, couro e pelo verdadeiro nos anos 70, e na Guatemala, onde têm bordados florais e muitas alusões folclóricas. Nem todos os países são acessíveis aos turistas, e muitos dos modelos que tem recebeu-os através de pessoas que lá vivem e que conheceu a viajar.
“Tenho vários coletes portugueses que estimo muito. Guardo um de 1800, com pelo de ovelha por dentro, e bordados já com muitas falhas por fora”, conta. “Diria que é a minha peça favorita por estar ligada ao Alentejo, onde nasceu a minha avó”.
A próxima viagem está marcada para fevereiro e será ao Uruguai, o país do companheiro. Fora da Europa, ainda tem muito para explorar e a América do Sul é um dos continentes que quer desbravar aos poucos.
“Nesta visita, quero procurar os tradicionais trajes gaúchos, que têm os coletes associados. Depois, talvez o México, porque é um país que tem uma tradição com bordados muito característicos.”
Neste momento, um dos principais objetivos de Inês passa por trabalhar com costureiras locais para resgatar bordados e outros elementos antigos, tanto do norte como do sul do País. Em vez de vender apenas desenhos vintage na sua loja, quer introduzir as suas próprias peças feitas em colaboração com artesãos que têm know-how de técnicas antigas e com histórias para contar.
Pode visitar a loja Nomada Bazaar no número 10A do Largo Santo Isidoro, na Ericeira. Em março, quando regressar da viagem ao Uruguai, o casal também vai relançar o site da marca — com vários coletes, claro.
carregue na galeria e descubra alguns dos coletes da coleção de Inês Prates.