Sempre que era apanhada por paparazzi, a história repetia-se. Estávamos em meados dos anos 70 e Jane Birkin não saía à rua sem a cesta de verga. O acessório não falhava um evento ao final da tarde, nem um dia de compras. Até mesmo nas saídas com Serge Gainsbourg — o cantro francês com quem teve uma relação tão intensa quanto tempestuosa — a atriz e cantora inglesa não dispensava o acessório.
Este foi apenas um dos vários legados deixados pela britânica, que morreu a 16 de julho, aos 76 anos. Mais do que dar voz a temas como “Je t’aime… moi non plus” e participar em dezenas de filmes, tornou-se um ícone de estilo, quer pelo seu carisma, como pelos looks tão naives como effortless. O seu estatuto de musa consolidou-se com o lançamento da famosa carteira Birkin, em 1984.
Apesar de ter emprestado o nome ao famoso modelo da maison Hermès, a carteira com uma lista de espera até seis anos (e que custa, pelo menos, 10 mil euros), para muitas mulheres, a verdadeira Birkin era esta espécie de cesta oval, quase sempre com uma tampa redonda anexada à alça. Muitas vezes, enfeitava-a com um laço.
Admitimos que pode não ser o modelo mais prático para acomodar no colo ou debaixo do braço nos transportes públicos. Aliás, a própria atriz deixou cair tudo o que levava lá quando durante um voo para Londres, há cerca de 34 anos. Curiosamente, foi o diretor da marca de luxo na altura, Jean-Louis Dumas, que ajudou a britânica a juntar os pertences que haviam caído por terra. E foi precisamente este episódio com a cesta que deu origem ao magnus opus da Hermès.
As raízes portuguesas
O que muitos não sabem é que a cesta popularizada na década de 70, tem uma origem bem distante do Reino Unido onde Birkin, e de França, onde viva grande parte da vida. Na verdade, o acessório favorito de Birkin é uma criação de origem portuguesa que, em solo nacional, é conhecido por outro nome.
“O formato de cesta do modelo que a Jane usava veio do Algarve. Deve haver opções semelhantes noutros países mediterrânicos, com materiais parecidos, mas o design e os detalhes são típicos dos artesãos que viviam na região”, conta à NiT Filipa Cruz, da marca a Mariamélia.
O acessório feito de cana ficou popularmente conhecida no norte do País como “Cesta do Polvo”, porque era usada para transportar o molusco que vinha do Algarve. “Estava, como toda a cestaria, relacionada com as atividades piscatórias das vilas. Antigamente, era usada apenas para transporte de alimentos.”
Por um lado, era o estilo ideal porque permitia passagem de água. Além disso, como tinha uma tampa incluída, sem necessidade de outros materiais para a fechar, tornava-se uma solução tão económica quanto funcional para quem estava envolvido no negócio da pesca.
Em média, cada artesão demora cerca de um dia a terminar à mão a cesta, integralmente feita com cana nacional. Como é uma matéria resistente, que cresce nas zonas ribeirinhas, tornou-se a opção ideal. Com o passar do tempo, contudo, o desenho passou a ser feita em vime, porque era mais fácil de trabalhar.
A opção que estava à venda no site da Mariamélia está esgotada. No entanto, existem muitas outras lojas online que vendem estes modelos que fazem parte do património artesanal nacional. É o caso da Cesta Moure, vendida por 49,90€ no site da Fagoa, ou uma alternativa disponível online no mercado Castro Marim, por 20€. Ambas são feitas por artesãos locais.
As informações sobre como o ícone de moda se cruzou com a famosa cesta são escassas. Pode tê-la descoberto durante as férias que gostava de passar no sul da Europa, decidindo dar-lhe um novo propósito. O certo é que se tornou na sua imagem de marca e entrou para a história da moda. E, ao contrário da carteira de luxo, todos a podem usar — mas, se calhar não é a melhor opção para levar numa viagem de avião.
Leia também o artigo da NiT sobre a história da Birkin. Carregue na galeria para descobrir 9 lojas online onde encontra carteiras de luxo — em segunda mão ou com promoções irresistíveis — e a preços acessíveis.
