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Moda

Bella Freud, a bisneta do famoso psicanalista está a transformar o mundo da moda

Começou nos anos 90 e já faz parte da realeza do estilo. Através do podcast “Fashion Neurosis”, mostra o poder da roupa que escolhemos.

Bella Freud recorda-se de ter olhado para o espelho, com 10 anos, e não ter gostado do que viu. Vestia uma sweater rosa, muito provavelmente tricotada pela mãe, e “estava insegura”, admite. Foi nessa altura que decidiu vestir uma camisa uns tamanhos acima do seu e, com uma simples troca, sentiu-se “ágil, forte e empoderada”.

A partir daí, a designer britânica nunca mais subestimou o impacto das roupas que escolhemos no nosso psicológico. Aos 64 anos, a bisneta do pai da psicanálise — não, o apelido não é coincidência — é conhecida por criar peças que conquistaram um culto de clientes, entre eles nomes como Kate Moss, Sienna Miller, Zadie Smith ou Little Simz.

Desde cedo, a marca homónima de Bella ficou conhecida pelo uso do tricô, bem como pela reinterpretação de clássicos do guarda-roupa masculino, mais precisamente os uniformes escolares. “Gosto da construção e da estrutura. Também adoro camisa e gravata, acho que direciona a atenção para o que considero o meu melhor atributo: meu cérebro”, contou à “Elle” brasileira.

Desde outubro de 2024, destaca-se também pela criação do podcast “Fashion Neurosis”. Em cada episódio, recebe convidados de diversas áreas para uma entrevista que se assemelha a uma sessão de terapia. Já recebeu a atriz Cate Blanchett, o escritor Karl Ove Knausgaard, o músico Nick Cave ou o designer Jonathan Anderson. 

A ideia estava guardada há cinco anos, mas a gravação do primeiro episódio foi interrompida pela pandemia. “Queria mostrar outro lado, além das ideias glamorizadas e fúteis sobre o meio [da moda]”, refere. “Sempre me interessei pela maneira como as pessoas decidem o que mostrar e o que esconder com as suas roupas.” 

Rick Owens e Bella Freud, no podcast “Fashion Neurosis”.

O conceito é simples: os convidados deitam-se num sofá e, à sua frente, têm a anfitriã sentada numa poltrona, com um bloco de notas. A câmara permanece sobre o entrevistado, que olha diretamente para Bella, e começam por responder à mesma pergunta: “por que escolheu as roupas que está a vestir hoje?”

“É uma piada”, garante a apresentadora, que faz referência à herança familiar. Além de ser bisneta de Sigmund Freud, Bella é filha da escritora Bernardine Coverley e do artista plástico Lucian Freud, que desenhou o logótipo da marca. 

A verdade é que, antes do podcast, a criativa já tinha prestado homenagem ao pai da psicanálise através de peças como um dos bestsellers da marca, uma sweater com a palavra “psychoanalysis” estampada. Mais tarde, apostou numa fragrância com o mesmo nome.

“Queria ser como Joana d’Arc, mas com palavras”

“Quando comecei, não fazia ideia do que estava a fazer, por isso simplesmente avancei”, confessa em entrevista à marca LYMA. Estávamos em 1990 e Bella tinha acabado de trabalhar como assistente para Vivienne Westwood, afirmando ter aprendido com ela tudo o que sabe. 

“Receava que, se parasse, não seria capaz de continuar. Por isso, comecei a fazer acessórios e malhas — uma pequena coleção —, recebi uma encomenda de uma loja japonesa e nunca mais parei”, acrescenta. 

A designer teve como base uma personagem, uma rapariga chamada Claudine, inspirada na heroína de um romance da autora francesa Colette, que era “incrivelmente travessa, ultrajante, marota, conventual”. Tudo aquilo que na altura a fascinava e, por isso, queria que a sua musa também fosse.

“A personagem era de 1900, mas misturei-a com a Lady Penelope dos ‘Thunderbirds’ e um pouco de punk rock. Essa estética manteve-se desde então. Aquele tipo de punk rocker que aprecia coisas com classe”, revelou à editora de arte “King & McGaw”. Um dos principais exemplos é a camisola com a frase Ginsberg is God, escritor, poeta e filósofo norte-americano e uma das principais figuras da Geração Beat nos anos 50.

Kate Moss com a camisola “Ginsburg is God”.

“No início, quando fiz a minha primeira coleção, estava num mercado e um rapaz, de uma das bancas, disse: ‘Tens de te lembrar sempre de contar a história das tuas roupas’. Foi um conselho muito bom, porque não quero desenhar de uma forma clínica”, explica, por sua vez, à LYMA.

Passadas mais de três décadas, Bella continua a transportar mensagens para todas as peças, seja através de um slogan ou até do refrão de uma canção. É o caso da expressão inglesa “wear your heart on your sleeve” (“ter o coração na manga”, em tradução literal) que abordou de forma literal ao bordar detalhes de corações nas mangas das peças. “No fundo, estamos sempre a colocar um pouco do que sentimos nas nossas roupas”, diz à “Elle”. 

A designer era adolescente nos anos 70, época em que se começou a interessar por ter um estilo próprio. Era, por exemplo, obcecada por Coco Chanel e pela afirmação de que um colar de pérolas podia iluminar o rosto de uma mulher. Aí percebeu que a camisola às riscas podia ser a versão punk disso. 

“Nesta altura, as pessoas estavam sempre a meter-se em confusões e eu pensei que tudo o que tinha eram as palavras”, confessa. “Sabia que queria usá-las o mais habilmente possível. Tinha muita raiva quando tinha 12 anos. Queria ser como a Joana d’Arc, mas com as minhas palavras. A linguagem é tudo o que temos para mudar o mundo”, afirma.

Atualmente, gosta de usar o mesmo uniforme quase todos os dias: a combinação entre uma camisa e uma gravata é a sua solução para tudo. Tem várias variações deste coordenado, mas nunca sabe exatamente o que vestir com antecedência porque, revela à LYMA, uma vez planeou uma roupa e “ficou tão mal” que decidiu nunca mais o fazer.

Bella leva o caderno de desenho para todo o lado, sobretudo quando vai a concertos. Se está com pressa, desenha as coisas rapidamente. “Se só escrevo, desaparece”, explica. Por vezes, cria uma pequena forma de um desenho numa T-shirt, mas é quando seleciona uma palavra que, de repente, aquele esquisso ganha um significado extra. “A linguagem é a coisa mais importante, mais influente e mais bonita que existe. É a mensageira.”

“Tem de haver uma história para que as pessoas se sintam seduzidas. As pessoas não compram uma camisola — compram uma história. Estamos a contar a nossa história quando nos vestimos de manhã”, conclui. “Queremos que as pessoas reparem em nós de uma determinada forma. Sou bastante tímida, mas também não quero ser anónima.”

Todas as peças criadas por Bella Freud estão disponíveis no site da marca homónima. Os preços de uma camisola variam entre os 150€ e os 300€.

Carregue na galeria para descobrir alguns dos bestsellers.

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