À primeira vista, parece apenas mais uma jovem que partilha o seu dia a dia no Instagram. Mas uma inspeção cuidada — com a ajuda de um olho clínico — revela que há pormenores demasiado perfeitos. Mesmo a ideia foi sendo aperfeiçoada ao longo dos cinco meses de trabalho da agência que criou a primeira grande influencer espanhola totalmente produzida por inteligência artificial.
Chama-se Aitana (com a AI no nome a dar outra pista) e foi criada quando a agência The Clueless enfrentava dificuldades para sobreviver. “Começámos a analisar como trabalhávamos e percebemos que muitos projetos estavam a ser adiados ou cancelados devido a problemas fora do nosso controlo. Muitas vezes era culpa do influenciador ou modelo e não por questões de design”, explicou Rubén Cruz, o criador, em declarações à “Euronews”.
Quem não traria grandes problemas seria uma modelo ou influenciadora controlada completamente por Cruz. Foi o que os técnicos fizeram. Idealizaram então uma jovem de 25 anos, oriunda de Barcelona, com cabelo cor-de-rosa e um rosto de supermodelo. O resultado foi inesperado: o melhor mês rendeu dez mil euros à empresa, numa média de três mil euros mensais.
“Fizemo-lo para termos mais sustento e não dependermos de pessoas com egos e manias. Ou que apenas querem ganhar muito dinheiro a posar”, explica Cruz.
Aitana ganha pouco mais de mil euros por anúncio, com o patrocínio de várias marcas. Mas vai ainda mais longe: há fotografias mais sensuais, em lingerie, que partilha na Fanvue, uma plataforma similar à OnlyFans, apenas para subscritores que pagam para ver as imagens privadas.
À data, Aitana já tem mais de 185 mil seguidores no Instagram. Alguns deles famosos. “Um dia, um famoso ator latino-americano famoso enviou-lhe uma mensagem a convidá-la para sair. Ele tem cerca de cinco milhões de seguidores e alguns elementos da nossa equipa viam a sua série televisiva quando eram crianças. Ele não fazia ideia de que a Aitana não existia.”
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Em cinco meses, muita coisa mudou. Aitana começou por ser criada por inteligência artificial e aperfeiçoada no Photoshop. Mas apesar da cara bonita, o impacto foi reduzido. “No primeiro mês percebemos que as pessoas querem acompanhar vidas e não apenas imagens. Como ela não tem uma vida, tivemos de lhe dar um pouco de realidade para que as pessoas se pudessem relacionar com ela. Tivemos de contar uma história.”
Aitana é uma entusiasta do fitness, determinada e com um caráter complexo. No seu site, define-se como extrovertida e carinhosa. “Criámos Aitana com base naquilo que sabemos que a sociedade mais gosta. Pensámos nos gostos, hobbies e nichos que têm sido tendência nos últimos anos.”
As críticas não tardaram a surgir e apontam à imagem ainda mais irrealista e demasiado perfeita destas modelos geradas mpor computador, sobretudo pela alta sexualização da sua imagem. A agência contesta que está apenas a seguir a estética criada pelos próprios influenciadores e marcas.
“Se não seguirmos esta estética, as marcas não vão ter interesse. Para mudar este sistema, é preciso mudar a visão das marcas. O mundo, na sua generalidade, está sexualizado.”
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