Assim que assinou o primeiro contrato com a Elite New York, anteviram-lhe um grande futuro. Em 1986, com apenas 20 anos, Cindy Crawford começou a desfilar entre os maiores nomes da moda e só parou quando atingiu o estatuto de supermodelo. Essa foi a primeira barreira a cair.
Kaia Gerber, a filha da norte-americana, assinou o seu primeiro contrato apenas com 13 anos. Um ano depois, ninguém conseguia tirar os olhos dela. No bilhete de identidade estava o fator extra: a prova de que carregava genes de supermodelo. Olhando para ela, rapidamente se percebia que seriam poucos os que lhe viriam a exigir o BI — Kaia e Cindy são uma espécie de fotocópia separada por três décadas.
Apesar de desfilar desde os 16 anos e de ser filha de uma estrela internacional, tem tentado passar mais ou menos despercebida. Sem sucesso. É raro dar entrevistas, embora qualquer saída à rua dê origem a inúmeras manchetes nos tablóides.
“Nunca quis que o meu trabalho como modelo fosse ofuscado pelo estatuto de celebridade. Além disso, o que é que vais perguntar a uma miúda de 16 anos? Há dois anos não tinha nada para dizer. Não tinha experiência. Não posso estar sempre a falar da minha rotina de beleza ou dos conselhos que a minha mãe me dá. Torna-se aborrecido”, confessou numa das poucas vezes em que cedeu, numa entrevista em fevereiro para a “I-d”.
Quem é Kaia?
Crawford e Richard Gere eram um casal sensação, pelo menos até ao divórcio, em 1995. Três anos depois, a antiga supermodelo voltou a casar, desta vez com com o empresário Rande Gerber que teve os dois únicos filhos. Presley nasceu em 1999 e Kaia em 2001, uma semana antes dos ataques do 11 de setembro de 2001.
Aos 10 anos foi escolhida para participar numa sessão fotográfica da coleção da Versace para miúdos, a Young Versace. Apesar do talento, da beleza e do exemplo caseiro de sucesso, confessa que nunca se imaginou a trabalhar como modelo. Para Kaia, foram as circunstâncias que a levaram a encarar a possibilidade de uma carreira igual à da mãe.
“Acho que um dos motivos pelos quais me aproximei da moda foram as minhas fotografias que teimavam em aparecer por todo o lado. Acho que quis tentar tomar as rédeas de toda essa situação”, explica.
E como é crescer na sombra de uma das modelos mais famosas da história? Aparentemente, não há grande diferença, até porque só mais tarde percebeu o poder de Cindy.
“Sabia que tinha sido modelo, mas nunca o encarei como um emprego. Como se os teus pais são médicos ou advogados, isso é uma coisa diferente. Nunca pensei que a ‘Cindy Crawford’ era a minha mãe. Era só a mãe e que por acaso tinha sido modelo. Só quando comecei a trabalhar na indústria é que tive a noção total do impacto e da influência dela.”
Nasceu e cresceu em Malibu, onde não foi uma “miúda como as outras”. Deixou a escola e terminou o secundário em casa, a ter aulas através da Internet — algo inevitável dadas as inúmeras viagens a que o trabalho obriga.
Foi no talento escolar que encontrou outra das semelhanças com a mãe. Kaia adora matemática, Cindy foi uma aluna de excelência e membro da equipa de matemática do liceu. Durante muitos anos, as semelhanças não eram tão visíveis.
“Quando era miúda, não era nada parecida com a minha mãe”, explica Kaia, antes de sublinhas que nunca quis ser modelo. “A minha mãe nunca me incentivou. Depois, à medida que cresci, as pessoas começaram a abordar-me e a convidar-me. Era muito cética. Já é tão difícil lidar com a adolescência, como mulher, ainda por cima fazê-lo debaixo do olhar público. Tens que ser realmente muito confiante.”
O que sempre admirou? Atores e atrizes. E teve a honra de fazer a sua estreia aos 15 anos, com um pequeno papel em “Sister Cities”. Em 2019, ainda fez uma aparição breve num videoclipe de John Eatherly, mas por enquanto, essa é a curta extensão o currículo.
Infelizmente, a fama não é uma escolha para quem nasce com os genes de uma celebridade, sobretudo uma estrela como Crawford. Constantemente perseguida por paparazzi e alvo de especulações sobre as suas saídas românticas, Gerber assume que nunca quis ser famosa. “A ideia da fama sempre me assustou imenso”, diz.
“[Tirarem-me fotos na rua] afeta-me, é duro. Habituar-me a isso? Acho que é triste. Não devíamos ter que nos habituar a uma coisa dessas. Não é uma forma normal de viver a vida.”
Ultrapassar a mãe
“Ela é a minha filha e as pessoas sabem isso. Mas quando há gente a dizer que eu paguei para a colocar na capa de uma revista, penso cá para mim: se conseguisse fazer isso, comprava era uma capa para mim”, atirou Cindy Crawford em 2019, quando foi confrontada com as suspeitas de que a carreira de Kaia tinha apenas uma justificação: o nome forte da mãe.
Como sempre, Kaia desfaz-se em honestidade e não se desvia da acusação. Diz que sabe bem quais foram “as circunstâncias especiais” sob as quais entrou na indústria. E relativamente a potenciais olhares de soslaio de outras manequins, que poderão suspeitar que o apelido de família lhe abriu as portas, mostra-se compreensiva.
“Tenho tanto respeito pelas jovens que chegam à moda vindas de posições menos privilegiadas. Algumas não sabem falar inglês, outras têm que enviar dinheiro de volta para o seu país, para ajudarem a família. Estão sob uma pressão sob a qual eu nunca poderia falar. Há miúdas com quem comecei a trabalhar, que vi crescer, fortalecerem-se, e admiro-as a todas”, explicou à “I-d”.
Embora adote essa atitude compreensiva, admite que foi forçada a dar mais e melhor de si para apagar todas as suspeitas, “porque as pessoas têm tantas noções pré-concebidas”. A fórmula? Ser sempre a primeira a chegar, decorar os nomes de toda a gente na sala e fazer de tudo para ajudar quem quer que fosse. “Não queria nenhum tratamento especial e quando ele me era oferecido, eu recusava-o”.
“Tens de te exceder para provar que não és [um monstro com um ego gigante], mesmo nos teus piores dias”, confessa.A bem da verdade, a carreira de Kaia é tão ou mais promissora do que a da mãe. As contas são relativamente fáceis de fazer. Além de ter assinado um contrato como manequim profissional aos 13, sete anos mais nova do que a mãe quando atingiu o mesmo objetivo, tem uma lista absolutamente impressionante no currículo.
Mais: foi capa de revista pela primeira vez apenas com 14 anos. Os primeiros desfiles na passerelle? Fez a estreia vestida com roupa Versace e Alexander Wang, logo no primeiro ano. Aos 15, já era a cara de Marc Jacobs.
“Tal como a mãe, a Kaia tem um dom muito especial. A câmara adora-a”, elogiou Donatella Versace. Pelo caminho, representou marcas como Burberry, Prada, Chanel, Givenchy, Stella McCartney, Michael Kors, Tom Ford, Lanvin, Alexander McQueen, entre muitas, muitas outras.
Quando Crawford brilhava nas passerelles nos anos 90, não havia redes sociais. Hoje, são uma ferramenta essencial para qualquer celebridade, sobretudo quem tenta vingar na indústria da moda. E nesse combate, a aluna já superou a mentora: Kaia tem seis milhões de seguidores no Instagram, mais um milhão do que Crawford.
Sobre o futuro, Kaia prefere apontar para lá do que acontece na passerelle. “Quero sentir que dei uma contribuição ao mundo. Que fiz algo com a plataforma que me foi dada”, explica a jovem que tem feito reverter muitos dos lucros das suas campanhas para ações de caridade.
Apenas com 19 anos, é já um dos nomes fortes da moda e muitos denotam a capacidade de ofuscar o estatuto de estrela da mãe. Isso implica, também, perder parte da juventude em viagens, sessões e compromissos. Kaia não tem medo do que possa perder.
“Sempre me senti uma adulta. Depois cresci e percebi que não era nada do que julgava. Nunca tive uma lição dura e, de repente, um dia acordei para a realidade. Não surgi do outro lado a dizer ‘já sou adulta’, foi mais uma perceção de que tenho ainda tanto para aprender. Mas sinto-me preparada.”